"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 26 de julho de 2015

LULA E OS "NEGÓCIOS CORRUPTOS"

A FARSA

Depois de todas as revelações da Operação Lava-Jato, incluindo o indiciamento do empreiteiro Marcelo Odebrecht pelos crimes de fraude a licitação, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, crime contra a ordem econômica e organização criminosa, e a condenação pelo juiz Sérgio Moro a 15 anos de prisão vários dirigentes da Camargo Corrêa, outra gigante da construção, por que seria surpreendente que o ex-presidente Lula esteja sendo investigado por suas relações com a Odebrecht, quando se sabe que a atuação do cartel de empreiteiras na Petrobras aconteceu durante todo o governo Lula, entrando pelo de Dilma adentro, e que o PT foi o grande artífice do esquema de corrupção montado para financiá-lo e seus aliados?

“Lula está apoiando empresas corruptas a fazer negócios corruptos no exterior”, definiu Alejandro Salas, diretor regional para as Américas da Transparência Internacional em Berlim. A declaração dá o título de uma reportagem da revista americana Foreign Policy, uma das mais prestigiadas sobre política internacional.

Por que acreditar que os negócios que o governo brasileiro apoiou, através de empréstimos do BNDES, em países africanos e ditaduras latino-americanas como Cuba, ou protoditaduras como a Venezuela são corretos, quando se sabe o histórico de negociatas envolvendo esses governos totalitários, e temos, no próprio Brasil, o exemplo invulgar da Refinaria Abreu e Lima, que custou até agora seis vezes o que fora previsto, numa associação da Petrobras com a PDVSA que nunca deveria ter saído do papel?

Beira o patético a afirmação de que Lula, ao viajar nas asas da Odebrecht pelo mundo, estava só querendo ajudar uma empresa brasileira a ter êxito no exterior, que Lula está sendo acusado de ajudar o país.

Mesmo que o ex-presidente estivesse cumprindo apenas uma agenda de palestras nesses países, uma atividade legítima de diversos ex-presidentes pelo mundo, ele não poderia levar dirigentes de empreiteiras a reuniões palacianas com os dirigentes do país em que atuava como palestrante, justamente para não misturar as coisas. O conflito de interesses está bastante claro nessa atitude dupla de misturar prestígio pessoal como ex-presidente com negócios particulares.

Os negócios particulares do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, tiveram que ser contidos quando sua mulher Hilary assumiu como Secretária de Estado no governo Obama, e até mesmo financiamentos de países árabes para programas sociais de sua Fundação foram paralisados devido ao óbvio conflito de interesses.

Mesmo assim, a Foreign Policy critica o hábito de atividades particulares de ex-presidentes e ex-primeiros-ministros não serem investigadas com rigor, citando, além do caso de Clinton, considerado um claro conflito de interesse nunca totalmente resolvido, e diversos outros, como os do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, que hoje faz parte de diversos conselhos de empresas e bancos de investimentos, ou do ex-chanceler alemão Gerhard Schröder, que dirige uma empresa de energia ligada ao governo russo.

Vários ex-presidentes pelo mundo, porém, estão sendo ou foram investigados por fatos que aconteceram durante seus mandatos, o que se deve provavelmente a fatores culturais. No Brasil, até hoje não houve condições políticas para que Lula fosse incluído no rol de investigados pelo mensalão, por exemplo, quando ficou claro que para que o processo pudesse ter êxito, a culpa teria que parar no ex-ministro Chefe do Gabinete Civil José Dirceu.

E mesmo no caso do petrolão, com informações de diversos acusados de que a campanha presidencial de 2010 foi irrigada com dinheiro desviado da Petrobras, não há até agora nenhuma investigação sobre a responsabilidade de Lula no esquema, embora ele tenha começado em seu governo.


Poderá também gostar de:


Lula treme


Ministérios: por que Dilma deveria enxugar a máquina




26 de julho de 2015
Merval Pereira
O Globo
in resistência democrática

Nenhum comentário:

Postar um comentário