O maior fenômeno político do momento chama-se Eduardo Cunha, um parlamentar do tipo “ame-o ou deixe-o”, como se dizia antigamente. Sua carreira política é impressionante. Começou no governo Collor, em 1991, quando foi nomeado presidente da Telerj. Ninguém sabia quem era. Nessa época eu trabalhava nos Diários Associados e o diretor Genilson Gonzaga me pediu que fosse entrevistá-lo, para descobrirmos de quem se tratava.
Sabia-se que era ligado a PC Farias e filiado ao partido de Collor, o PRN, e mais nada. Tinha uns trinta e poucos anos, deu uma entrevista boa, porque anunciou que lançaria os telefones celulares. Mas sua timidez era impressionante. Eu jamais poderia imaginar que Eduardo Cunha se tornaria político e saísse disputando voto.
Na Telerj, surgiram algumas denúncias e ele foi demitido em 1993, já no governo Itamar Franco, mas nada ficou provado e ele submergiu. Sempre de olho na política, filiou-se ao PPP (atual PP) de Paulo Maluf e Francisco Dornelles. Aproximou-se também do deputado evangélico Francisco Silva, dono da rádio Melodia FM, e em 1998 teve boa votação para deputado estadual, com 15 mil votos, ficou na suplência.
COM GAROTINHO
Quando Anthony Garotinho assumiu o governo estadual, em 1999, convidou Silva para secretário de Habitação, e Cunha foi junto; primeiro, como subsecretário e depois presidente da Cia. Estadual de Habitação. Mas surgiram novas denúncias de corrupção e Cunha só ficou seis meses no cargo. Garotinho tinha um programa na rádio, produzido por Cunha, gostava dele e então arranjou para que assumisse como deputado estadual.
Em 2002, no embalo dos boletins diários que apresentava na Melodia FM, Cunha se lançou candidato a deputado federal, com apoio de Silva e Garotinho, teve mais de 100 mil votos. Nunca mais perdeu eleição. Na Câmara, aos poucos, foi se tornando o rei do chamado Baixo Clero, criou seu próprio bloco multipartidário, elegeu-se presidente da Câmara e demoliu a base aliada do governo do PT.
Nenhum deputado ou senador jamais concentrou tanto poder no Congresso. Sua passagem para a oposição, com certeza, será altamente negativa para o governo Dilma Rousseff, que agoniza em praça pública.
O CHEFE DO IMPEACHMENT
Como todo mundo, Cunha acerta, mas também erra, faz bobagens. O fato é que está em viés de alta e ninguém sabe em que patamar chegará. Sua meta é a presidência da República, mas precisa ganhar visibilidade popular. É aí que mora o perigo. Na função de presidente da Câmara, cabe a ele autorizar a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, encargo que ele assumirá com o máximo prazer, para saborear o doce prato da vingança.
Ao tomar conhecimento da pesquisa com nova queda de Dilma, foi logo dizendo que alguma coisa tem de mudar. “É uma deterioração do ambiente econômico que consequentemente está levando a deterioração da popularidade. Está muito ruim. Daqui a pouco está chegando no cheque especial”, comentou Cunha, ardendo de felicidade.
A condução do processo de impeachment dará a ele a visibilidade que falta se lançar à Presidência em 2018. E ele não perderá essa chance. Assim que tiver em mãos o primeiro pedido consistente e corretamente fundamentado, não há dúvida de que ele vai detonar a presidente Dilma Rousseff e o governo do PT. Podem apostar.
23 de julho de 2015
Carlos Newton
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