"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

DEL NERO FUGIU ANTES DE O FBI ATERRISAR NA SUIÇA PARA PRENDÊ-LO


A constatação do que motivou a repentina decolagem de Marco Polo Del Nero da Suíça para retornar imediatamente ao Brasil. deixando até de participar da eleição na FIFA, é óbvia: com a explosão internacional do escândalo marcado pela corrupção no futebol, que incluiu a prisão de José Maria Marin pelo FBI, o atual presidente da CBF temeu sofrer destino igual. Apressou-se, portanto, em deixar Zurique, sede da Federação Mundial, e retornar ao Rio de Janeiro, Barra da Tijuca, depois de retirar o nome de Marin do edifício. Del Nero, vale acentuar, foi vice-presidente da Marin na CBF até há poucos meses.
As reportagens de Jailton de Carvalho, Luiza Damé e Miguel Cabalero, no Globo, e de Leandro Colón e Marcel Rizo, na Folha de São Paulo, edições de sexta-feira, iluminam a cena e, ao mesmo tempo, eliminam sombras ainda existentes que tanto preocuparam (e preocupam) Del Nero. Afinal de contas, vice de Marin e por ele apoiado para sucedê-lo, não poderia ignorar o que se passava ao longo de mais de vinte anos na Confederação Brasileira e também as pontes existentes entre o esporte no Brasil e competições internacionais realizadas através do tempo.
Pois se José Hawilla, um ex-repórter, agora coloca à disposição da Justiça dos EUA, para confisco, 151 milhões de dólares, como a imprensa revelou, algo fora do esquadro das possibilidades ocorreu. De onde nasceu tal fortuna? Claro que, da mesma forma que Kleber Leite, outro ex-repórter, o enriquecimento surgiu de suas ligações com direções da CBF que se sucederam ao longo do tempo. Venda de direitos de transmissão e publicidade através de comissões que só podem incluir, a exemplo do que aconteceu no assalto à Petrobrás, superfaturamentos de preço. Alguém foi fortemente lesado, pois não existe débito sem crédito e vice-versa.
FRAUDES E SONEGAÇÃO
Fica no ar a dúvida, como admitiu o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se as operações financeiras executadas com a participação da Traffic e da Kefler envolveram também – o que não parece impossível – fraudes fiscais e sonegação do Imposto de Renda. Isso porque, como está evidente no caso de José Hawilla, comissões eram pagas no exterior, atravessando estados da América do Norte, daí a participação do FBI nas investigações e nas prisões daqueles que considera culpados da prática de crimes financeiros.
José Maria Marin está preso na Suíça, aguardando desfecho de um processo de extradição para os Estados Unidos. José Hawilla, pelo que se interpreta da delação premiada que ofereceu junto com a devolução de 151 milhões de dólares, encontra-se nos EUA. Mas Kleber Leite está no Brasil. Teme naturalmente, agora, a Polícia Federal, mas não a extradição. A Constituição de nosso país proíbe a extradição de brasileiros. Se vier a ter seu nome incluído na lista do FBI, Del Nero passa à mesma situação de Kleber leite: não pode ser extraditado, assim escapa à perspectiva de ser preso nos Estados Unidos.
Por isso – claro – tratou de conseguiu passagem para antecipar seu retorno. Praticou assim, o que se pode considerar uma confissão, por ação tácita, de seu comprometimento, tenha sido este por participação ou por omissão diante de um plano sequência que se estendeu por vinte anos, segundo o FBI, numa versão confirmada pelo segredo e pelo silêncio.
ERRO COLOSSAL AO ATACAR O EUA
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, como se constata por sua entrevista, publicada na edição de ontem de O Globo, cometeu um erro colossal ao acusar o governo dos Estados Unidos de ter agido por questões políticas no caso da denúncia sobre a corrupção no futebol e a prisão de dirigentes da própria Federação Internacional, pelo FBI, na Suíça.
Blatter, ao acusar o governo de Washington de revanchismo pelo fato de o país não ter sido escolhido para sediar a Copa de 22, esqueceu das denúncias, inclusive confirmadas pelo brasileiro José Hawilla, que confessou a existência de subornos e se dispôs a devolver 151 milhões de dólares. Blatter abriu caminho para ser processado pela justiça americana e ter aprofundadas as investigações quanto a sua atuação. Pelo menos foi omisso em apurar os fatos, uma vez que não seria possível não ter conhecimento das articulações feitas à sombra do futebol internacional.
EDMUNDO BARRADO
As influências e os interesses de empresas na comercialização dos espetáculos eram bastante visíveis, como escreveu Carlos Heitor Cony na edição de ontem, domingo, da Folha de São Paulo. Ele lembrou o episódio da final da Copa de 98, em Paris quando depois de anunciar a escalação de Edmundo no lugar de Ronaldo, que não teria passado bem, o técnico Zagalo foi obrigado a mudar sua decisão, por determinações que recebeu dos dirigentes brasileiros, que não desejavam contrariar uma grande empresa patrocinadora. Este é um fato que em si confirma os interesses extra esportivos que envolveram e envolvem o futebol. Blatter não podia ignorá-los. Tampouco esquecer a entrevista de José Hawilla publicada na revista Veja. Errou pelo menos por dupla omissão.

01 de junho de 2015
Pedro do Coutto

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