"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 11 de janeiro de 2015

VALENTINA: "NÃO GOSTO DE TODAS AS CHARGES DO CHARLIE. GOSTO DO FATO DE ELAS EXISTIREM".

 

Terrorista bom não é terrorista morto pela razão bastante de não haver terrorista bom. Terrorismo não é resposta a nada pelo fato definitivo de não haver interlocução possível com ele. Ainda que Dilma Rousseff queira dialogar com terroristas, eles não a veem como interlocutora: ela é mulher (bicho tratado como coisa sem vontades, necessidades ou inteligência nos territórios mentais deles), é esquerdista, ateia ou devota de conveniência de nossa senhora de forma geral e é a favor do aborto e do casamento gay.

O antiamericanismo protuberante, o antissemitismo insinuante e a insistência em apoiar o lado criminoso nas pendengas internacionais poderiam credenciá-la ao diálogo se os terroristas, quaisquer deles, buscassem-no. De saída, não reconhecem interlocutores nem entre as diversas facções da insanidade. Na mesma trilha obscura da presidente, são asquerosos os comentários na imprensa meio esquerdista e inteiramente idiota, de cretinoides da intelectualidade, nas redes sociais e até mesmo por aqui “compreendendo que os terroristas cobrem o que os ocidentais fizeram”.

Claro que não se referem à penicilina, ao cinema, ao chocolate ou à internet. E insistem na vigarice de que não se faça o que ninguém está fazendo: não generalizar, a tal da islamofobia e etc. Aproveitam para generalizar as monstruosidades do cristianismo na santa inquisição, fazendo de todos os cristãos seres torpes e ignorantes, sem esquecer de sugerir que todos os cristãos somos pedófilos porque alguns clérigos o são.

Essa gente que renega o iluminismo pelo qual o cristianismo passou, ébria de relativismos obscuros e multiculturalismo ralo e simpatizante do outroladismo onde só há trevas por todos os lados, precisa descobrir que, quando as pessoas são assassinadas, elas morrem e, quando elas morrem, elas ficam mortas e, então, a réplica é inviabilizada por óbvio. Eis aí: o terrorismo não pode ser interpretado como resposta porque ele silencia tudo em volta.

Na comovente conversa entre J.R.Guzzo e Joice Hasselmann na sexta-feira, talvez a melhor até agora da excelente TVeja, o jornalista, lúcido e humano, lamentou a execução do policial ferido quando pedia ajuda. Guzzo afirmou desolado que os terroristas abriram mão de serem seres humanos e teceu um paralelo perfeito entre o nazismo e tal selvageria.

Acrescento que quando se abre mão da própria humanidade confisca-se a humanidade alheia, anula-se a alteridade, caça-se o direito ao outro de simplesmente existir. Exatamente o que os nazistas fizeram com suas vítimas depois de esvaziarem o sentido de humanidade em si mesmos. Naquela conversa, Guzzo também elogiou a nota da presidente. Discordo. Não vale um tostão furado a nota de um governo que financia blogs que atacam a imprensa independente, que deixa para eles o trabalho sujo e inconveniente de atacar o que ela só defende para forjar um álibi.

Repudiou a lista de Cantalice, o assassinato de Santiago Andrade, a asfixia da imprensa na Argentina e na Venezuela? Não, mas colocou no ministério das comunicações o paladino do controle social da mídia. Dilma é uma charge sem graça de si mesma. Não gosto de todas as charges do Charlie, do que gosto mesmo, do que todos que somos alvo dos terroristas islâmicos – a civilização – gostamos é o fato de elas existirem.

Não gostar e expressá-lo pacífica ainda que enfaticamente ou recorrer à justiça fazem parte do equilíbrio com a perfeição possível ensejado na democracia. Isso é diálogo, mediado por leis que regulam direitos e deveres. Os terroristas não suportam essa e as demais qualidades da civilização. Entre elas, a de rirmos do mundo, com o sublime e o grotesco dele. Os fanáticos de Alá são grotescos e é sublime rir deles também.

11 de janeiro de 2015
Valentina de Botas, in Augusto Nunes, Veja

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