"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

NUNCA VERÁS UM PAÍS COMO ESTE

 

carlos_brickmann_09Estamos no único país do mundo onde existe jabuticaba, onde vivem ararinhas azuis, onde há micos-leões-dourados e pessoas empenhadas em extingui-los.

Onde as cidades foram construídas perto de grandes fontes de água e as poluíram, para ir buscar água boa, a alto custo, em lugares distantes – e nem sempre encontrá-la.

É o único país do mundo em que mãe é insulto e suadouro é crime.

Dilma, dizem as notícias de Brasília, aguarda a manifestação do Ministério Público (que vai demorar um pouco por causa das férias, e porque o procurador-geral está na Disneyworld, porque as pessoas presas e os processos em andamento podem esperar): Henrique Alves e Aguinaldo Ribeiro, se não forem denunciados no processo do Petrolão, podem ser ministros.

É o único país do mundo em que o sujeito, se não for para o banco dos réus, vai para o Governo.

É o único país do mundo em que se nomeia uma autoridade e é preciso demiti-la menos de 24 horas depois, quando se descobre que está habituada a violar exatamente as normas da organização que foi escolhida para dirigir.
O diretor do Detran do Distrito Federal, Antônio Fúcio de Mendonça Neto, foi nomeado na sexta, dia 2, pelo governador Rodrigo Rollemberg, do PSB; e caiu no sábado, dia 3.

Devia mais de R$ 50 mil de multas de trânsito. Para livrar-se da conta, move na Justiça um processo contra o Detran. Simplificando, se continuasse no cargo, Mendonça Neto estaria processando o mesmo Detran que estaria dirigindo.
Como disse o poeta Olavo Bilac, imita na grandeza a terra em que nasceste.
Um seio de mãe…
No Governo Federal existe a Abin, Agência Brasileira de Inteligência, que tem ótimas condições de levantar passado e presente de candidatos a altos cargos. Diz seu site que “a Abin presta assessoramento à Presidência da República assegurando-lhe o conhecimento de fatos e situações relacionados ao bem-estar da sociedade e ao desenvolvimento e segurança do país”.

Poderia informar com precisão, por exemplo, que o ministro dos Esportes, George Hilton, não tem lá muita ideia do Estado em que tem sede o Flamengo.
Ou que o ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, não gosta de ciência e tecnologia. Mas para que servem as informações, se o objetivo não é funcionar, mas agradar partidos?
…a transbordar carinhos
O governador Rodrigo Rollemberg não tem Abin. Mas prometeu nomear técnicos. E deveria conhecer Mendonça Neto, seu companheiro de partido, e saber que a única relação que tem com o trânsito é ser multado e não pagar.
O jogo como ele é 1
Conta-se que certa vez o presidente Getúlio Vargas recebeu um político que lhe fez uma série de ponderações. Despediu-se dizendo:
“Tu tens razão”.
Em seguida, veio um adversário do político anterior, dizendo exatamente o oposto. Getúlio despediu-se:
“Tu tens razão”.
A filha do presidente, Alzira, chegadíssima ao pai, reclamou:
“Cada um disse o contrário do outro e tu deste razão aos dois!”

Getúlio, tranquilo:
“Pois não é que tu também tens razão?”

O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, joga nesse time. Elogiou a política econômica de Fernando Henrique, elogiou a política econômica de Lula, elogiou o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci.

Só esqueceu de elogiar seu antecessor, Guido Mantega – mas disposição para agradar a todos tem limites, não?

O jogo como ele é 2
Desde que deixou o PMDB pelo PT, em 1979, Eduardo Suplicy foi o mais fiel dos petistas. Nunca recebeu nenhum cargo, nunca se queixou. O PT o encarou do mesmo jeito que seus adversários: um tipo pitoresco, para não ser levado a sério. E o próprio Suplicy contribuiu para isso, cantando no Senado, vestindo cueca vermelha por cima do terno para imitar o Superman.

Mas tem uma tese importante, que nunca foi bem estudada no Brasil por ter sido proposta por ele: a renda mínima. Inspirada no imposto de renda negativo do economista Milton Friedman, monetarista e um dos principais conselheiros do presidente americano Ronald Reagan, a Renda Mínima poderia, a custo menor, oferecer mais benefícios que a Bolsa Família.

Pois bem: numa das últimas sessões de 2014, o Senado aprovou o projeto da Renda Mínima, que aguardava votação há 15 anos. E? Numa última homenagem ao companheiro fiel, Dilma vetou o projeto. Em vez de socorrer os aliados feridos, o PT de Dilma ajuda a degolá-los.
Sem fantasia
As notícias sobre uma grave doença do ex-presidente Lula, que estaria se tratando em segredo, nada têm que as sustente. Não há citação de fonte; e não se explica como é que, considerando-se que se trata de uma moléstia devastadora, mortal na maioria dos casos, o doente não apresente sintomas clássicos como emagrecimento, cansaço extremo, postura recurvada.

Mais: ninguém se trata em segredo num hospital. O trabalho de dezenas de pessoas é essencial – radiologistas, médicos, instrumentadores, enfermeiros, anestesias, auxiliares de anestesia, operadores de equipamentos. Com tanta gente não há segredo que resista.

Tudo indica que as notícias pessimistas não sejam verdadeiras. E este é também – e é o correto – o desejo de quem não se deixa subjugar por ódios políticos.

08 de janeiro de 2015
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário