"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

ECONOMIA E GEOPOLÍTICA



Diz-se que, na política nacional, podem ocorrer mudanças no transcurso de uma semana. Nas relações internacionais, as transformações costumam acontecer num ritmo pausado, às vezes imperceptíveis para observadores desprevenidos.
Quando estes subitamente tomam conhecimento do ocorrido, a transcendência do fato cresce e resulta em alentada cobertura noticiosa. Foi o caso do anúncio da normalização das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba, dia 17 de dezembro.
Esta decisão encerrou uma etapa de hostilidade recíproca que já durava 53 anos.

Ainda estão por ser vistas as implicações que terá a nova relação com Washington para o regime de Raúl Castro. Para Barack Obama, o entendimento com Cuba cumpre dois objetivos. Na frente interna, libera o trato das relações com Havana da agenda política do exílio cubano. Na frente diplomática, remove uma tema de controvérsia com a América Latina e cria condições para abertura de uma nova etapa nas relações hemisféricas.

Se bem que tenha chegado como uma surpresa, a decisão de normalizar as relações bilaterais não foi produto de improvisação. Foi o resultado de meses de negociações confidenciais entre um grupo reduzido de negociadores dos dois países, auspiciadas pelo governo do Canadá e pelo Vaticano.
Diferentemente do ocorrido em ocasiões anteriores, quando os presidentes Carter e Clinton viram frustradas suas tentativas de melhorar as relações bilaterais por parte do governo cubano, a iniciativa do presidente Obama foi bem recebida.

O temor dos dirigentes cubanos diante do eventual colapso econômico da Venezuela é fator ao qual se atribui Havana ter preferido o pragmatismo à rigidez ideológica para responder à proposta americana.
A aproximação com os Estados Unidos, nas circunstâncias atuais, equivale a uma apólice de seguros contra o risco da perda do petróleo subsidiado venezuelano. Do ponto de vista do governo cubano, a virada pode ser interpretada como um voto de desconfiança em relação ao manejo econômico e à estabilidade do regime venezuelano.

As autoridades cubanas dispõem de informação privilegiada acerca da inépcia do regime venezuelano e do desastre econômico pelo qual é o responsável. As dimensões do desastre são ocultadas pela supressão da publicação das estatísticas oficiais.
Para Nicolás Maduro, o que aconteceu, além de desconcertante, é uma péssima notícia. Seus mentores e aliados estão conscientes de que a Venezuela se encontra à beira da insolvência.

O novo clima de distensão estará em evidência na Cúpula das Américas, em abril, no Panamá, com a participação de Cuba e dos Estados Unidos. É previsível que o evento transcorra num ambiente menos conflitivo do que o que prevaleceu na reunião de 2005.

Naquela ocasião, Mar del Plata serviu de cenário para que os presidentes Chávez, Kirchner e Lula, respaldados pelo ideólogo argentino Diego Maradona, rechaçassem o livre comércio com o Canadá e os Estados Unidos. Um triunfo que resultou menos brilhante do que acreditavam seus protagonistas.
 
06 de janeiro de 2015
Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia. Originalmente publicado em O Globo em 5 de janeiro de 2015.

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