"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

POLÍCIA FEDERAL REVELA FALSOS PROJETOS DE REFORMA AGRÁRIA




Numa atividade interessante, proporcional ao volume e ao ritmo da corrupção no pais, a Policia Federal lançou a Operação Terra Prometida denunciando diretamente cerca de 30 pessoas, das quais 22 haviam sido presas até a noite de quinta-feira. Fraudes em série que vinham atravessando o tempo através da regularização ilegal de terras públicas por empresas e empresários, como se fossem destinadas a projetos de reformas agrárias. As áreas em questão localizam-se em Mato Grosso.

O assunto foi amplamente focalizado em reportagem de Adriana Mendes, Anselmo Carvalho Pinto e Jailton de Carvalho, O Globo, e também na matéria produzida por Andreia Sadi, Gabriel Mascarenhas, Natuza Nery e Adriano Barcelos, Folha de São Paulo. Em ambos os jornais nas edições de sexta-feira 28. Incrível que as fraudes possam ter acontecido ao longo de pelo menos dez anos, podendo inclusive terem começado antes, em 97, sobretudo em face do número de órgãos responsáveis direta e indiretamente com a questão agrária: Ministério da Agricultura, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

Há suspeitas de envolvimento de servidores públicos na trama. E como ficam os cartórios que expediram certidões falsas de propriedade? Inclusive, lembra O Globo, as fraudes haviam sido denunciadas pelo Jornal Nacional numa de suas edições levadas ao ar em 2010. Causa espanto.

Espanto ainda maior o que o impacto de agora, sobretudo levando-se em consideração ter a Polícia Federal antecipando-se a dois ministérios relacionados com a reforma agrária e ao Instituto que tem a reforma na sua sigla. Além disso, a reforma agrária foi um dos temas centrais da sucessão presidencial de 1960, vencida por Jânio Quadros, e uma das principais bandeiras do governo João Goulart, acrescentando reflexos intensamente críticos ao processo de radicalização que envolvia o exercício do governo e a atuação da oposição, comandada pelo governador Carlos Lacerda e pela bancada da antiga UDN no Congresso Nacional.

TEMA INESGOTÁVEL

Tem-se a impressão que, num pais da dimensão continental do Brasil, a reforma agraria transformou-se em tema inesgotável. Principalmente em decorrência da omissão sucessiva de governos e, no caso atual focalizado pela FSP e O Globo, em consequência de enorme sequência de fraudes de vários tipos. Com terras sendo desapropriadas para  objetivos fictícios, ou então, como ocorreu em Mato Grosso, ocupadas de forma violenta.

Novo destaque para a atuação da Policia Federal surge no horizonte, mais um dramático episódio de corrupção, que não se limita à Petrobras, mas assume caracteres de verdadeiro terremoto voltado para abalar seriamente os alicerces institucionais do pais. Isso de um lado.

De outro a confirmação que a multiplicidade de órgãos voltados para propósitos em comum, caso do desafio agrário, não significa mais eficiência e objetividade. Pelo contrario, verifica-se que há diluição dos poderes de fiscalização e controle, com o consequente enfraquecimento da atuação politica e administrativa como um todo. Cada um com uma visão diversa, torna-se difícil ao Planalto distinguir através das lentes mais adequadas para o exercício da ética e do poder.

Além disso, surgem relatos diversos, às vezes colidentes, nublando ainda mais a exposição da realidade à luz do sol. Dúvidas produzem sombras. Há, assim, necessidade de mais tempo para dissipá-las. E também muito mais esforço para fotografar os interesses representados nos episódios.

02 de dezembro de 2014
Pedro do Coutto

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