"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 7 de dezembro de 2014

ENTENDA A META DO SUPERÁVIT E A MAQUIAGEM FEITA PELO GOVERNO

Com a aprovação pelo Congresso de um projeto que muda meta de superávit primário, esta semana, o governo Dilma Rousseff deixa de respeitar o limite fixo de R$ 67 bilhões para o abatimento das desonerações tributárias e dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Com isso, o governo poderia abater da meta todo o volume de investimentos do PAC e de desonerações que for feito até o final deste ano. Na prática, portanto, o projeto elimina a meta fiscal.
  1. O que é superávit primário?
É a diferença entre receitas e despesas, exceto gastos com juros. Simplificando: é aquilo que o governo consegue economizar para pagar sua dívida.
  1. Para que serve o superávit?
Para pagar os juros da dívida pública e evitar seu crescimento.
  1. Por que é importante?
É um indicador para avaliar se o governo é bom ou mau pagador da dívida (que existe na forma de títulos públicos). Se é bom pagador, os credores nacionais e internacionais concordam em emprestar (na forma de investimentos), recebendo juros mais baixos. Se é mau pagador, o juro fica mais caro.
  1. O que é a meta de superávit primário?
A cada ano, o governo fixa um objetivo de economia para reduzir ou pelo menos estabilizar a dívida pública. Essa meta faz parte da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Neste ano, ela é de R$ 167,4 bilhões para o setor público (União, Estados e municípios), sendo R$ 116,1 bilhões para o governo central, que inclui apenas resultado de Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência.
  1. O que são os abatimentos?
São itens de despesa que podem ser descontados do cálculo do superávit primário, o que equivale a reduzir a meta. Na LDO de 2014, somavam R$ 67 bilhões e eram compostos por gastos com o PAC (investimentos em infraestrutura) e as desonerações tributárias. Na prática, o resultado poderia ficar até R$ 67 bilhões abaixo da meta, que ainda assim estaria formalmente cumprida.
  1. O que é a mudança que o governo anunciou?
Houve um aumento nos abatimentos e a eliminação do limite de R$ 67 bilhões. Assim, tudo o que for gasto no PAC e tudo o que houver de desonerações tributárias até o fim do ano poderá ser descontado da meta. Pelos cálculos do economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, são cerca de R$ 165 bilhões. Como os abatimentos são maiores do que a meta, será possível cumpri-la mesmo se o resultado das contas públicas fechar no vermelho (o chamado déficit).
  1. Por que o governo fez isso?
Porque a meta não seria cumprida. De janeiro a setembro, o saldo acumulado nas contas do setor público está negativo em R$ 25,5 bilhões. O Ministério do Planejamento diz que a crise mundial enfraqueceu o crescimento econômico do País e, consequentemente, as receitas ficaram abaixo do esperado.
  1. Isso resolve o problema?
Não necessariamente. Com o descumprimento da meta fiscal, além do aumento da dívida pública, o prejuízo é eminentemente político, com a obrigação de as autoridades terem de explicar as causas do mau desempenho. Mas há interpretações mais estritas pelas quais seria possível enquadrar as autoridades do governo federal em crime de responsabilidade, já que a Lei de Diretrizes Orçamentárias teria sido descumprida.

07 de dezembro de 2014
Deu no Estadão

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