"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O SONETO E A EMENDA

 


Não fui o único a mostrar indignação quando nossa ínclita presidente, dias atrás, proclamou que «investigar não é função da imprensa». Analistas e outros brasileiros pensantes se alevantaram contra a enormidade.
 
Dona Dilma há de ter sentido o baque. Mas palavra dita, como flecha lançada, não se consegue recolher. Falou, tá falado ― diz o povo esperto. Restou a ela afirmar que burros somos nós, que não entendemos nada. «A imprensa pode investigar, claro! O que não pode é julgar» ― emendou madame, corrigindo a si mesma.
 
Disse isso sem se dar conta de que toda opinião traz necessariamente embutido um juízo de valor. Pode não ser judiciário ― nem teria cabimento ― mas sempre julgamento será. A mãe que se queixa com a vizinha sobre o mau comportamento do filho está emitindo juízo sobre a conduta do rebento. O jornalista, quando descobre um «malfeito» e anuncia que o mal está feito, está igualmente julgando.
 
Tonto 1
 
Assim mesmo, foi um alívio saber que a inteligência continua no andar de cima. Fica mais uma vez provado que somos governados por gente esclarecida. Melhor assim. Durmam tranquilos, cidadãos, que estamos em boas mãos!
 
Tsk, tsk, brincadeira, gente! Esse pessoal que estendeu teia em Brasília e domou os escaninhos da administração federal não tem jeito. São primitivos. Enxergam o brasileiro como povo bronco e imaginam que tenhamos todos a mente embotada.
 
Costumam dizer o que lhes passa pelos débeis neurônios, na certeza de que, de qualquer maneira, quase ninguém vai entender. E os poucos que entenderem vão se calar porque têm interesse em que as coisas continuem como estão. Verdade ou não?
Não precisa responder. O silêncio é, às vezes, estridente.
 
22 de setembro de 2014
José Horta Manzano

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