"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 17 de agosto de 2014

O VÍRUS DO ANTISSEMITISMO


 
Sei que o assunto é tabu, mas... e daí? Quem disse que eu ligo pra tabus? Vamos lá.

Muito do que li e ouvi no último mês me fez acender o sinal de alerta para opiniões antissemitas. Não falo do antissemitismo escancarado, que sempre existiu e que também andou dando as caras por aí, mas principalmente de um antissemitismo disfarçado, polido, velado, "cool", "bem-pensante", que muitos não c
onsideram antissemitismo e que (infelizmente) parece ter virado moda. Trata-se de um antissemitsmo que não ousa dizer o nome, envergonhado, covarde, que usa e abusa do emocionalismo e de argumentos aparentemente "do bem", sendo, por isso, mais difícil de detectar. Alguns exemplos:

- "NÃO SOU ANTISSEMITA; SOU ANTI-SIONISTA": É a desculpa preferida dos que querem esconder o ódio por trás de um véu de retórica. Tanto que muitos já perceberam o tamanho da empulhação. Quem diz isso acha que, separando a religião judaica do Estado de Israel e do movimento que o criou (o sionismo), está sendo menos preconceituoso e intolerante (lembram, como se isso fizesse diferença, que há judeus anti-sionistas etc.). Acontece, senhores, que tal discurso - negar a Israel o direito de se defender, e até de existir - é exatamente o discurso antissemita. Um sujeito chegou a escrever um artigo na Folha de S. Paulo dizendo que não tinha nada contra os judeus, mas que Israel, um Estado criado e reconhecido pela ONU em 1947, era uma "aberração"... É o mesmo que dizer: "Não sou antiamericano; sou contra os EUA". Ou (para os mais nacionalistas): "Não sou antibrasileiro; sou contra o Brasil". Ou ainda: "Não tenho nada contra os americanos (ou os brasileiros), mas os EUA (ou o Brasil) são uma aberração". Lorota pura.

- "NÃO CONCORDO COM OS MÉTODOS DO HAMAS, MAS SUA LUTA É JUSTA": Os "métodos" do Hamas consistem em lançar foguetes a esmo contra Israel e usar crianças palestinas como escudos humanos em escolas e hospitais da ONU usados como depósitos de armas. Já seria o suficiente para qualquer pessoa decente denunciar com ardor esse grupo terrorista e querer que as Forças de Defesa de Israel mandem esses fanáticos inescrupulosos para o quinto dos infernos. Mas o pior é dizer que "a luta é justa" (!!!)... A "luta" do Hamas não é por terra, nem contra a "ocupação" (que em Gaza acabou em 2005), mas simplesmente pela destruição de Israel e pelo extermínio de toda a sua população. Não é uma luta pela Palestina, nem pelos palestinos, mas pelo Islã radical, do mesmo modo que grupos como o ISIS, o Al-Shabab e o Boko Haram. Ou seja: eles lutam por um genocídio dos judeus (e não somente dos judeus: dos cristãos também, e dos budistas, e dos ateus...). Uma reedição do Holocausto, exatamente o que querem os antissemitas. Luta justa, é?

- "NÃO SOU A FAVOR DO HAMAS, SOU CONTRA OS BOMBARDEIOS CONTRA A POPULAÇÃO CIVIL" etc. É a desculpa "pacifista", talvez a maior balela de todas. É óbvio que qualquer pessoa normal é contra bombardear cidadãos indefesos, e Israel faz o possivel para evitar essas baixas (o Exército israelense mira em alvos do Hamas e procura avisar a população antes dos ataques). O problema é que esse argumento simplesmente ignora que as mortes de civis palestinos decorre da prática do Hamas de usá-los como escudos humanos.  Ou seja: não leva em conta que a guerra de Israel não é contra os palestinos; é contra o Hamas, que faz uso dessa tática canalha, esperando exatamente causar o maior número de baixas entre civis inocentes, para com isso acusar... Israel de atacar e massacrar indiscriminadamente a população (!!!). O(a) sujeito(a) se diz contra, mas compra direitinho o discurso do Hamas...
 
A propósito: alguém conhece um meio melhor de enfrentar militarmente um inimigo que não reconhece seu direito de existir e que jurrou varrê-lo do mapa, que lança foguetes desde áreas civis, que se esconde entre a população e que não teme a morte (pelo contrário: busca a morte e arrasta a população para esse destino) do que ações como a Operação Margem Protetora? Mais: diante de um inimigo desse tipo, que usa homens-bomba e escudos humanos, alguém propõe abandonar o uso da força militar? Alguém acredita, em sã consciência, que é possível lidar com o Hamas sem buscar destruir sua infraestrutura terrorista? Quem oferecer uma resposta para essa questão merece o Nobel da Paz.

É claro que nem toda crítica a Israel (e eu, particularmente, tenho muito a criticar no atual governo israelense) é antissemitismo. Acho até que há um certo exagero, uma hipersensibilidade de alguns setores sionistas a qualquer crítica mais dura, que enxergam, invariavelmente, como antissemita, e que isso é instrumentalizado, muitas vezes, para justificar certas políticas israelenses (como, por exemplo, os assentamentos na Cisjordânia). Mas é inegável que os "argumentos" acima trazem embutidos uma dose não pequena de preconceito antijudaico. Assim como  a acusação, feita inclusive por governos, de que Israel estaria cometendo um "genocídio" em Gaza, a qual, de tão absurda e desconhecedora do verdadeiro significado da palavra "genocídio" (ou, numa versão mitigada, "massacre"), nem merece maior comentário e só traz vergonha a quem a pronuncia, como escreveu, num texto brilhante, o articulista do Miami Herald Andrés Oppenheimer (http://www.miamiherald.com/2014/08/06/4275217/andres-oppenheimer-claim-of-israel.html).


O mesmo vale para a esparrela de que Israel estaria usando "força desproporcional", o que não passa de uma desculpa pseudo-humanitária que mal esconde o desejo de que o número de israelenses mortos fosse maior (lembra algo?).

Nem menciono as tentativas de equiparar moralmente a ação militar israelense e a violência do Hamas, o que, sob a capa de "equanimidade", é um atentado ao bom-senso. Ou a tática calhorda (infelizmente, bastante comum) de tentar deslegitimar Israel impingindo-lhe os rótulos de "fascista" e mesmo "nazista", algo que só perde, em ignorância, para a estupidez e a safadeza ideológica - características, aliás, do nazifascismo. 

Resumindo: sim, é verdade que há um massacre em curso em Gaza. E não, não é Israel que o está perpetrando. E sim, é verdade que há genocidas em ação. E não, não é Israel. Preciso ser mais específico?
 
Todas as desculpas esfarrapadas apresentadas acima voltam à tona sempre que Israel resolve reagir a um ataque de inimigos como  o Hamas, o Jihad Islâmica ou o Hezbollah, que juraram varrer o país (e seu povo) do mapa. Tem sido assim desde 1948. E também antes, como sabe qualquer pessoa com o mínimo de interesse em História e de honestidade intelectual.

Enfim, os acontecimentos das últimas semanas no Oriente Médio comprovaram, pela enésima vez, que o antissemitismo existe, sim. De forma velada ou não, consciente ou inconscientemente, com bílis ou com açucar, com a suástica ou com o símbolo do "peace and love"... E esse sentimento, esse ódio ancestral, está mais forte do que nunca, dessa vez com uma roupagem nova, "progressista", "humanista", "do bem". O que o torna ainda mais lamentável e detestável. Negar que esse ódio existe, e que é bastante atuante no mundo de hoje, é parte da guerra de propaganda do Hamas contra Israel e contra a paz.
 
17 de agosto de 2014
 in blog do contra

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