"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 14 de junho de 2014

BRASIL MOSTRA A SUA CARA. ESTÁ FEIA...

O orgulho 'patrioteiro' com que foi recebida a indicação à Copa transforma-se em uma razoável dor de cabeça

No dia de 2007 em que o Brasil foi oficialmente escolhido para sediar a Copa do Mundo, a comitiva brasileira exalava orgulho patriótico por todos os poros, sob o comando de um certo Luiz Inácio Lula da Silva.

Era tanto "patrioteirismo" que, no discurso em que comemorou a designação, Lula tirou o terno de presidente e vestiu o verde e amarelo de torcedor fanático, com direito a uma cutucada no presidente da Associação de Futebol Argentino, Julio Grondona, sentado nas primeiras fileiras do auditório: "O Brasil orgulhosamente organizará uma Copa do Mundo pra argentino nenhum colocar defeito".

O ambiente de exaltação patriótica (coisa que me horroriza sempre) era explicável: a escolha para agasalhar a Copa era a grande chance de o Brasil mostrar a sua cara.

Era um Brasil que estava na moda no mundo e parecia destinado a uma escalada definitiva rumo ao topo do planeta, o que, de resto, a revista "The Economist" sacramentaria com sua famosa capa de 2009 em que o Cristo Redentor do Rio virava foguete em plena decolagem.

Outro parêntesis: se tivesse algum parentesco com o Taleban, a "Economist" teria queimado os exemplares com aquela capa.

Sete anos depois, no entanto, não são apenas (nem principalmente) os argentinos que estão botando um e mil defeitos no país da Copa.

São alguns brasileiros como Marcello Serpa, sócio da agência de publicidade AlmapBBDO, para quem a Copa trouxe um holofote para as deficiências de infraestrutura e para a desigualdade social no país, a ponto de acentuar o mau humor e de prejudicar a marca Brasil, como afirmou durante evento promovido por esta Folhana terça-feira (10).

São também estrangeiros dos mais diferentes quadrantes, como Shannon Sims, que fez pesquisas no Brasil durante dois anos para o Instituto para Assuntos Mundiais Atuais: "Organizar o maior evento esportivo do mundo era, supunha-se, uma oportunidade para o Brasil demonstrar sua organização, desenvolvimento e competência. Mas, com corrupção abundante, infraestrutura cambaleante e constantes crimes nas ruas, muitos brasileiros sentem que essa oportunidade oferece mais coisas más que boas".

Sims compara o Brasil que aguarda a Copa com um estudante que espera uma prova para a qual não se preparou.

De todo modo, vai ter Copa, ao contrário do que se cantava no ano passado e em alguns momentos deste ano, mas não será a Copa das Copas, como pretende a propaganda.

Afinal, se um dos jornalistas escalados para a Copa, caso de Brian Winter (da agência de notícias Reuters), sofre por cinco horas e vinte minutos para sair do aeroporto de Cumbica e chegar ao seu hotel, não dá para ser a Copa das Copas.

A questão seguinte, proposta por José Sámano (do jornal espanhol "El País"), um dos melhores jornalistas esportivos da Espanha, é se, "com tantos problemas de fundo, convém medir se, nestes tempos, a bola ainda servirá como sedativo ou, ao contrário, chegou a hora de revisar profundamente o modelo".

Respostas a partir de hoje, com o veredito final em outubro.

 
14 de junho de 2014
Clóvis Rossi, Folha de SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário