"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O QUE É E O QUE NÃO É BOBAGEM

BRASÍLIA - De Paris, o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, reclama dos que criticam as diárias de R$ 14 mil por palestras na Europa durante o recesso: "Eu acho isso uma tremenda bobagem. (...) Veja bem, você viaja para representar o seu país, para falar sobre as instituições do Brasil e vocês estão discutindo diárias?".

Faz sentido, mas ele pode ter dificuldade para falar sobre a justiça no Brasil em seu sentido mais amplo.

José Dirceu foi condenado a 7 anos e 11 meses, mas, com base na lei e trabalhando daqui, lendo um livro dali, pode acabar passando só dez meses na prisão. O problema, obviamente, não é de Dirceu, mas do sistema.

José Roberto Arruda pisou na bola e caiu quando era senador, depois novamente como governador do DF e foi condenado e preso. Mas está caraminholando: "a que vou me candidatar em 2014? Deputado, senador, quem sabe governador?" E ele não é original. Joaquim Roriz, entre tantos outros, tem uma trajetória parecida.

Se os presos de colarinho branco jogam o foco na Papuda, em Brasília, as decapitações e as 63 mortes em Pedrinhas, no Maranhão, escancaram o horror em que vivem os presos comuns em todo o país.

O Brasil tem uma das cinco maiores populações carcerárias do mundo. São pobres, negros, pardos, iletrados. Muitos nem são culpados ou não foram condenados por crimes tão graves, mas mofam -- e morrem -- nas cadeias comandadas não pelo Estado, mas pelo PCC.

Levantamento da Folha apontou ao menos 218 mortos em 2013, ou uma morte a cada dois dias, nas prisões brasileiras. E isso sem Alagoas, Bahia e Rondônia...

Talvez Joaquim Barbosa seja crítico ao falar aos europeus das leis, dos recursos e das manobras protelatórias que deixam poderosos mais sujos que pau de galinheiro tendo um vidão. Conhecemos vários. Mas isso é só um lado. O outro é o da tortura, das mortes, das decapitações.

Há justiça no Brasil?

 
23 de janeiro de 2014
Eliane Catanhêde, Folha de SP

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