"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

DANÇA DOS NOMES

Sempre que se fala sobre reforma ministerial no governo Dilma Rousseff (PT) --e mesmo quando o tema não está na berlinda--, renovam-se as expectativas de que possa haver melhorias no relacionamento político entre o Executivo e sua base parlamentar.
 
O problema é antigo. Se tomada a Secretaria de Relações Institucionais como seu epicentro, as dificuldades da ministra Ideli Salvatti não apresentam originalidade em relação às que, no governo Lula, atormentaram José Múcio Monteiro ou Walfrido dos Mares Guia.
 
Dada como certa, a nomeação de Aloizio Mercadante para a chefia da Casa Civil parece estimular os comentários de que, por meio desse importante quadro do PT, fortaleça-se a interlocução entre o mundo partidário e o Planalto.
 
Tanto é assim que se atribui a essa indicação o relativo esvaziamento das funções da pasta encarregada das articulações com aliados. O papel de Ideli, entretanto, parecia instável já antes disso, quando eram ambíguas as fronteiras entre suas atribuições e as da ministra Gleisi Hoffmann, a quem Mercadante deve substituir.
 
Que esperar dessa dança de nomes? À falta de personalidades mais fortes nas fileiras petistas --como eram, para mal de seus pecados, os ministros José Dirceu e Antonio Palocci--, surge o momento de Mercadante expor-se ao maior desafio de sua carreira política --após ter sobrevivido ao episódio dos "aloprados", às vésperas das eleições de 2006.
 
Estará à altura da tarefa? Sua formação de economista e trajetória de parlamentar autoriza um otimismo que sua atitude contraditória em escândalos envolvendo o PMDB não confirma.
 
A questão ultrapassa, porém, a avaliação pessoal. A desarticulação entre o Executivo e o Congresso se deve a fatores de outra natureza. O estilo centralizador da presidente Dilma combinou-se com uma conjuntura em que aumentam as restrições ao Orçamento.
 
Soma-se a isso o fato de que, tal como no mandato de seu antecessor, Dilma encontra uma base parlamentar heterogênea do ponto de vista programático e assolada por interesses fisiológicos.
 
Sem projetos definidos, capazes de concentrar em reformas fundamentais o foco de sua atuação, o governo se desgasta em atritos, crises e insubordinações paroquiais. Casa Civil, Relações Institucionais e a própria Presidência se perdem nesse processo.
 
Nesse contexto, a experiência de Aloizio Mercadante, a quem não se negam as virtudes da flexibilidade, sofrerá um duro teste.

24 de janeiro de 2014
Editorial Folha de São Paulo

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