"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 3 de novembro de 2013

JOGO DUPLO?



“A presidente Dilma verá de volta Lula em seus calcanhares se a jogada de Eduardo Campos e Marina der certo. O movimento “volta Lula” ganhará corpo diante da nova configuração da campanha eleitoral, agora legitimado justamente pela mudança de cenário” - Merval Pereira
 
Não é segredo que Eduardo Campos e Marina Silva compõem uma pouco confiável, porque recém nascida, neo-oposição ao PT. Ela foi filiada ao PT até 2009 – de onde saiu apenas quando Lula deixou claro que Dilma iria sucedê-lo. Ele estava, até mês passado, na base de apoio ao governo – com direito a cargos e benesses. De lá saiu quando... Quando mesmo?
Ai é que a porca torce o rabo. Quando foi mesmo que Eduardo Campos deixou a base de apoio do governo petista?  Quando ficou claro que Dilma estava recuperando a popularidade e tinha chances de se reeleger.
 
Ou seja: Eduardo Campos é um daqueles raros casos de alguém que abandona um governo – no qual se encontra há nove anos – no momento em que este governo volta a dar mostras de que pode vir a se reeleger.  Estranho? Só para quem não está atento.
 
Antes de dizer que isto aí foi prova de desapego ao poder – ou qualquer outra pieguice – lembre o que aconteceu em julho, quando Dilma amargava uma significativa queda de popularidade: Eduardo Campos e Lula se encontram. Na pauta oficial, Lula teria pedido a Campos que não abandonasse Dilma. Na pauta vazada para a imprensa, que é a que vale para ler intenções, dois recados em um mesmo diapasão: o primeiro, que Eduardo Campos abriria mão de sua candidatura se Lula fosse o candidato. O segundo, que Lula adoraria ter Eduardo Campos como vice.
 
Nas semanas que se seguiram às manifestações de junho – especialmente quando, em agosto, o Datafolha afirmou que somente Lula ganharia no primeiro turno - Eduardo Campos foi pródigo em mandar sempre o mesmo recado: se Lula fosse o candidato, ele desistira. Em 26 de setembro o pernambucano ainda dizia: “se a Dilma piscar, Lula volta”. 
 
Mas setembro chegou e, com ele, a recuperação de Dilma nas pesquisas. Aparentemente, Eduardo Campos desistiu de ver Lula candidato, rompeu com Dilma e foi buscar uma parceria que favorecesse o seu projeto presidencial: Marina Silva.
 
Marina, que foi ministra de Lula. Marina, que fez campanha em 2010 sem jamais fazer críticas claras a Lula. Marina, que tem problemas com Dilma porque foi vencida por ela no processo sucessório de Lula. Marina, que hoje está, novamente, nos jornais, criticando Dilma e poupando Lula. 
Mestre no jogo duplo, provável mentor de toda a manobra, Lula tem mandado recados bem dirigidos: ao mesmo tempo em que orienta o PT a se afastar de Eduardo Campos, aprofundando o fantasioso rompimento do pernambucano com o governo Dilma, afirma que “Campos assusta mais do que Aécio Neves” – um discurso que só fortalece Eduardo Campos.
 
Não por acaso, no dia do anúncio da aliança com Marina Silva, Eduardo Campos limitou-se a dizer que não conseguira falar com Lula – tentara ligar para ele, mas não fora atendido. Não poderia dizer que rompeu com ele porque não é verdade. Dizer que recebeu a bênção de Lula, por sua vez, revelaria o golpe.
Como bem observou Merval Pereira, no trecho que abre este post, longe de turbinar a oposição, a manobra da dupla Campos e Marina abre caminho para um movimento “volta Lula”.  
 
É jogo duplo, sim. Encenado a três. 
 
03 de novembro de 2013
nariz gelado

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