Trata-se de uma situação anômala do funcionamento regular da economia, uma vez que o baixo nível de atividade econômica vem geralmente seguido por uma queda na inflação, em função de uma diminuição da demanda agregada.
Esse neologismo da Estagflação apareceu pela primeira vez em meados do século XX, fundamentado nos princípios econômicos da estagnação e da inflação. Com o decorrer do tempo, este conceito passou a incluir um novo paradigma: o desemprego.
De acordo com o IBGE, a taxa média de desemprego bateu o recorde em 20 estados no ano passado; hoje temos em torno de 14 milhões de brasileiros desempregados. A alta dos preços das commodities vem aquecendo a inflação.
A Selic, (taxa básica da economia) foi reajustada pelo BC (banco Central) em março passado, saindo de 2% ao ano para 2,75% ao ano numa única canetada e poderá chegar ao final de 2021 acima de 6%, segundo previsões recentes de alguns analistas.
Este é um patamar ainda considerado baixo para o País que, na prática, revela um juro real (após descontada a inflação) reduzido. Uma das causas dessa situação tem a ver também com a morosidade da vacinação, abrindo dessa forma espaço para a imposição de medidas de isolamento social que visam a desafogar os hospitais.
Com isso, a abertura da economia foi postergada devido ao lockdown, voltando a impactar no PIB (Produto Interno Bruto).
Acontece que temos um remanescente de inflação proveniente de 2020 com choque de demanda. Além disso, os preços das commodities permanecem indicando que vão continuar a subir, o que termina naturalmente provocando a alta da inflação e, consequentemente, da Selic.
Outra questão que também se tornou uma variável importante é a incessante crise política que vem mexendo com o preço dos ativos, embutindo neles um prêmio de risco, especialmente nos juros e no câmbio.
O momento é de grande turbulência política e a volatilidade apresentada prejudica consideravelmente os investimentos no Brasil, tanto no curto quanto no médio prazo.
Analisando o câmbio, o real já se desvalorizou, somente neste início de ano, em torno de 10%. Parte disso é proveniente do risco político, somado à nossa recente fragilidade fiscal depois do início da pandemia. As reformas estruturantes continuam sendo “ignoradas”.
Neste ano, talvez a administrativa tenha ainda um pouco de chance de acontecer, porém poderá até ser aprovada amplamente desidratada. A tributária seguramente será bem mais difícil.
Quando for implementado um ritmo crescente na vacinação e o Congresso voltar a entender que as reformas são indispensáveis para fomentar o crescimento econômico e diminuir o risco Brasil inclusive, é extremamente importante equacionar essa volatilidade política dominante, logo esse assunto retornará tranquilamente ao radar.
Caso elas continuem, neste exercício, desprovidas de iniciativa, as chances no próximo ano são praticamente remotas, uma vez que em 2022 teremos eleições majoritárias no País.
Estamos nos aproximando de um cenário inquietante.
À medida que a China e agora também os EUA, e em breve a Europa, venham a se recuperar plenamente, o Brasil, diante dessa realidade, poderá estar ainda estagnado combatendo paralelamente o “vírus” da inflação e mergulhado numa autêntica Estagflação.
É oportuno lembrar uma frase merecedora de reflexão da economista Solange Srour (economista chefe do Credit Suisse): "uma vez que o gênio da inflação sai da lâmpada, é difícil domá-lo de volta".
12 abril de 2021
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
12 abril de 2021
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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