"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 21 de setembro de 2019

RECUPERAÇÃO DA ECONOMIA NÃO TERÁ INFLUÊNCIA EXTERNA

Diante das recentes altas do dólar, a inflação continua sob controle e com perspectiva da Selic (taxa básica de juros) continuar caindo, em consequência da nossa recuperação econômica ainda não ter conseguido deslanchar. 
Na semana passada, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) relativa a agosto, tendo havido uma pequena alta de 0,11% ante 0,19% verificado em julho passado. 

De modo geral, os números indicam que estamos longe de sermos sobressaltados por algumas surpresas inflacionárias. Há um ano que os núcleos de inflação (medida que procura captar a tendência dos preços, desconsiderando distúrbios resultantes de choques temporários) encontram-se bem-comportados, sem apresentar indícios de tensão inflacionária. 

Existem outras causas que fortalecem essa situação, trazendo consequências desinflacionarias vindas especialmente do ambiente externo: o desaquecimento da economia mundial com possibilidade de chegar à estagnação, queda nos preços das commodities e a crise da Argentina que interfere na produção da indústria nacional, gerando impactos negativos na exportação dos manufaturados. 

Com isso, é improvável que a nossa recuperação venha de fora, sendo imprescindível estimular a demanda interna a fim de impulsionar a atividade econômica. Enquanto o desemprego continuar resistente, certamente o consumo das famílias continuará fraco, sobrepondo-se ao resto da economia e colocando-nos muito aquém da realidade desejada. 
Quanto à taxa de criação de empregos, houve uma recuperação muito discreta quando comparamos com os piores momentos da crise. 
Tínhamos em 2015 em torno de 92,5 milhões de empregos; este número caiu para 89,5 milhões, quando atingiu o seu pico. Estamos na casa de 93,5 milhões, porém com um emprego de péssima qualidade. A informalidade cresceu e, consequentemente, durante a crise, ocorreu a queda inevitável na renda dos brasileiros. Sem dúvida, o emprego formal continua muito abaixo daquele que havia no período pré-crise. 

Outra questão importante é que emprego informal e aquele conhecido também como “por conta própria” acabam dificultando o crédito, pois os bancos tornam-se bastantes seletivos na sua concessão. A economia está igualmente dependente da recuperação da renda e, no momento, seu crescimento ainda se mantém incerto. 

Voltando à questão da inflação, aconteceu recentemente uma forte depreciação da moeda americana que bateu R$4,20, entretanto desacelerou logo em seguida. Atingiu rapidamente essa cotação, mas os efeitos não apareceram na inflação do mês passado, todavia pode ser que venham a se manifestar em setembro ou, talvez em outubro. Acredita-se que a influência será de curto prazo mesmo que o dólar fique oscilando mais um pouco em torno desse patamar. Porém, se vier a ultrapassá-lo e persistir, poderemos voltar a ter sérios problemas. 

Mesmo assim, tudo indica que o Banco Central vai dar continuidade à sua política de corte nos juros. O consenso do mercado é que eles hoje estão em 6% a.a., cheguem a 5% a.a. até o final desse ano e provavelmente, venham a se acomodar nesse nível ao longo de 2020. Não vejo outra alternativa sem a queda deles, pois torna-se difícil a inflação se deslocar para cumprir a meta estipulada. 
Pelo visto, existe muito pouco a se fazer em 2019, já que o ano está praticamente perdido e bem próximo ao seu final. O cenário já está lançado, não existe política monetária que traga algum resultado consistente durante o próximo e último trimestre. Por isso mesmo o Banco Central demonstra já estar focado no próximo exercício. 
Em relação a isso, não colocaria integralmente a responsabilidade no Planalto. 
O Congresso foi o protagonista no sentido de tocar a agenda de reformas estruturantes. O grande problema é que a economia perdeu o ânimo no final do ano passado, sem apresentar até então uma sólida recuperação, apesar do sentimento dos analistas econômicos de que a eleição iria dissipar as incertezas econômicas e, sobretudo, as políticas. 

A fraqueza da atividade econômica faz com que a agenda de reformas, tanto no campo macroeconômico como no micro, seja premente para tirar o país da letargia, elevando o nível de emprego formal, a renda média do trabalhador, por conta da produtividade da economia praticamente paralisada nos últimos anos. 

Infelizmente o cenário ainda é de cautela, tendo em vista a crise na Argentina e os embates comerciais entre China e Estados Unidos, que estão contribuindo substancialmente para a desaceleração da economia global. O governo tem mais desafios pela frente com novos riscos no horizonte, por isso, precisa conseguir articular e comunicar bem as propostas para que as reformas avancem, permitindo ao país reencontrar o rumo do crescimento econômico sustentável. 

21 de setembro de 2019
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).

Nenhum comentário:

Postar um comentário