"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

UM SEMESTRE DE INCERTEZAS SEM UMA CERTEZA

Começamos a segunda metade do ano ainda envolvidos num ambiente econômico e político sob forte tensão, cercados de imensas incertezas. O balanço geral do primeiro semestre de 2018, sinceramente, não é nada animador, marcado pela alta volatilidade do dólar, que se valorizou diante das principais moedas internacionais, pelo preço aumentado do petróleo, por tensões geopolíticas que aumentam, de sorte que a nossa atividade econômica, literalmente enfraquecida, acabou sucumbindo com a paralização dos caminhoneiros sem que, até então, tenha demonstrado o menor sinal de vitalidade.
Inicialmente, essas são algumas dentre outras reais dimensões que abrangem a economia brasileira, as quais começam comprovando que, de fato, desperdiçamos meio ano, sendo que o restante, fatalmente, será devorado pela campanha eleitoral.

Ao final do semestre, a moeda americana já havia subido aproximadamente 17% e a Bolsa, no período, caiu quase 5%, demonstrando as desconfianças dos investidores relacionadas ao retorno oferecido pelo mercado das economias emergentes, especialmente do Brasil.

Um resultado que impressionou bastante foi a queda de 10,9% na produção industrial de maio em relação a abril, configurando o seu pior desempenho desde dezembro de 2008. Mesmo desconsiderando que estes são pontos fora da curva, tenho a impressão de que se torna inevitável uma revisão sistemática no comportamento do PIB (Produto Interno Bruto) até o final de 2018, já que hoje, está bem próximo de 1%. Em queda branda, o desemprego acabou se situando em 12,7% da força de trabalho, equivalente a um pouco mais de 13 milhões de brasileiros sem ocupação.

Com isso, fica até difícil para os analistas econômicos realizarem uma projeção aproximada de como poderemos chegar ao final deste ano. Até por que, tudo dependerá de quem for eleito presidente da República. Se o novo presidente chegar determinado a promover as reformas estruturais obrigatórias, começando imediatamente pela Previdência, a confiança dos investidores, empresários e consumidores ressurgirá e, consequentemente, tornar-se-ão positivas as perspectivas econômicas para o próximo ano.

A propósito, caso o futuro mandatário não se dispuser a aprovar as reformas e estancar os gastos públicos, particularmente, pior do que isso, somente se ele vier a adotar uma política econômica pautada no populismo e no intervencionismo, o que implicará no risco de uma grande fuga dos investidores do Brasil, para um refúgio que ofereça uma razoável segurança para o seu capital. Para este cenário, os analistas comentam que o dólar, no ano que vem, poderá chegar a R$ 5,50, com grandes possibilidades do PIB continuar caindo.

A inflação até pouco tempo mantinha-se comportada, mas acabou sofrendo um grande impacto com a crise passageira de desabastecimento que tivemos e, logo depois, ela suportou outro choque ocasionado pelo aumento das tarifas de energia elétrica. O IPCA 15 (prévia do IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o indicador oficial da inflação no país) terminou o semestre em 2,5%, chegando a 3,68% no acumulado em doze meses. Dessa forma, isso altera as previsões da taxa de inflação para o exercício de 2018, deslocando-a para um patamar superior a 4%, porém relativamente abaixo da meta oficial de 4,5%.

Diante dessas alterações vistas no desempenho dos grandes indicadores econômicos refletidos no balanço do semestre, economistas e consultores apressam-se em rever suas estimativas. Obviamente, elas deverão piorar. Desconfio que o que eles mais fizeram durante este primeiro semestre foi ficarem reajustando a reversão das expectativas para 2018.

A percepção dos mais otimistas é que este seria o ano ideal para concretizar a transição, visando a uma retomada mais consistente da atividade econômica, dependendo, naturalmente, do encaminhamento das reformas estruturais o que, lamentavelmente, não aconteceu. Pelo visto, o que poderia tornar-se um excelente legado para o próximo presidente eleito, converteu-se num grande desafio para aquele que vier a assumir os destinos da Nação, o que dificulta, ainda mais, a caminhada dos candidatos à sucessão de Temer.

Provavelmente, o eleitorado está alimentando a expectativa de surgimento de alguma promessa concreta que venha a melhorar o emprego e a renda. Porém, isso tem que ser de imediata aplicabilidade, já que a situação não comporta mais aquelas “enrolações” indecorosas direcionadas ao longo prazo como presenciamos no passado. Sendo assim, fica relativamente afastada a possibilidade de acontecer outro estelionato eleitoral como fez a “iluminada” Dilma em 2014, durante a campanha para sua reeleição. Mais do que nunca, nesta campanha presidencial, os candidatos terão que ser os mais transparentes e os mais convincentes possíveis com relação aos ajustes a serem feitos na economia, os quais, mais adiante, possam vir a impedir uma tragédia nas finanças públicas. Conseguir o equilíbrio na reta que une esses dois pontos de fundamental importância econômica não é tarefa fácil para os marqueteiros de plantão, mas também, ela não pode ficar restrita a técnicos, apesar de toda a rejeição que a classe política desperta na população.

Diante desses acontecimentos, podemos concluir que, ao final desse último semestre, só conseguimos ampliar as incertezas, sem sequer, ao menos, conquistarmos uma única certeza.


12 de julho de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).

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