"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 17 de julho de 2018

'DOLEIRO DOS DOLEIROS' QUE OPEROU US$ 300 MILHÕES, ERA LIGADO À ODEBRECHT

O doleiro Dario Messer
Messer limpava o dinheiro sujo da Odebrecht
Ainda pouco conhecida nas investigações da Lava Jato, a conta da Odebrecht com o megadoleiro Dario Messer, que está foragido, movimentou US$ 300 milhões ao longo de quatro anos, segundo delação premiada firmada por operadores no Rio. Messer é pivô de ação penal aberta pelo juiz Marcelo Bretas, em junho, contra uma rede de 61 doleiros na qual a Odebrecht é uma das principais envolvidas.
Nos depoimentos dos 78 delatores da Odebrecht divulgados no ano passado, o vínculo é pouco mencionado. O ex-executivo Luiz Eduardo Soares trata brevemente do doleiro, ao afirmar que a empresa criou na década passada o Setor de Operações Estruturadas, conhecido como departamento da propina, porque Messer esteve impedido de operar para a empreiteira.
JUCA E TONI – Depois, contou o executivo, as operações foram assumidas por uma dupla identificada como Juca e Toni, que são respectivamente Vinicius Claret e Claudio Barboza de Souza, hoje delatores da Lava Jato no Rio.
Baseada em grande parte na delação dos dois, a acusação do Ministério Público Federal do Rio afirma que a relação de Messer com a empreiteira durou até a Lava Jato prender executivos em 2015. Claret e Souza se apresentam como subordinados de Messer e afirmam que apenas uma das contas, aberta no Panamá, no banco Credit Corp, movimentou US$ 104 milhões (R$ 390 milhões) de 2011 a 2015.
Messer possui cidadania paraguaia e teve ordem de prisão expedida em operação deflagrada no início de maio.
MENÇÃO INDIRETA – Uma das poucas menções a Messer na delação da Odebrecht tornada pública no ano passado é indireta. Um dos delatores da empreiteira entregou uma lista de visitantes à unidade da empresa na praia de Botafogo, no Rio, com milhares de registros de entrada no prédio como prova em uma acusação contra um empresário.
Nesse documento, consta uma visita de Messer ao prédio da Odebrecht em dezembro de 2012 na qual foi recebido por Marcos Grillo, executivo que acabaria virando delator.
A delação da empreiteira, homologada no início de 2017, ainda tem trechos sob sigilo. Os relatos dos ex-executivos da empresa que envolvem crimes no exterior não foram tornados públicos inicialmente para que a empresa tivesse maneiras de firmar acordos com autoridades de outros países.
DINHEIRO VIVO – No esquema descrito por Souza e Claret, a Odebrecht transferia dinheiro no exterior aos operadores para receber em espécie no Brasil.
Os valores, então, eram entregues aos beneficiários finais, incluindo políticos. Segundo o relato, o esquema evoluiu desde 1994, época em que uma funcionária enviava via fax para uma empresa de Messer os endereços de entrega de dinheiro, até chegar ao sistema de contabilidade eletrônico nos quais apelidos protegem as identidades de beneficiários.
Além dos serviços de entregadores de dinheiro vivo no Brasil a pessoas indicadas pela Odebrecht, uma empresa de transporte de valores também é apontada como participante do fornecimento.
NO URUGUAI – Em 2003, a dupla foi transferida para o Uruguai, segundo eles, como forma de evitar investigações no Brasil. Atuaram no país vizinho até 2017, quando foram detidos em um desdobramento da Lava Jato no Rio.
Souza disse que a Odebrecht pedia a ele para abrir contas nos mesmos bancos como maneira de driblar mecanismos de controle de lavagem. “A transferência entre contas no mesmo banco diminui as exigências”, disse ele em depoimento.
Messer era um dos donos do EVG, um banco em Antígua e Barbuda, paraíso fiscal no Caribe, utilizado com essa finalidade.
CODINOME TUTA – Na contabilidade paralela, a empreiteira era apelidada de “Tuta”. Nos documentos entregues pelos delatores da Odebrecht, o nome “Tuta” é citado dezenas de vezes, possivelmente indicando quem operou os repasses descritos e suas origens. Mas os depoimentos já divulgados não explicam esse elo.
Entre os episódios citados na operação no Rio que ilustram a proximidade com Messer estão um empréstimo dele à contabilidade paralela da Odebrecht de US$ 8 milhões (R$ 30 milhões) em 2011.
OUTRO LADO – Procurada, a Odebrecht diz que está cooperando com as autoridades e “focada no exercício de suas atividades e na conquista de novos projetos”.
A defesa de Dario Messer nega que ele seja um “doleiro dos doleiros”, expressão difundida quando a Operação “Câmbio, Desligo” foi deflagrada.
O advogado dele, José Augusto Marcondes de Moura Júnior, disse que Messer deixava com a dupla Claret e Barboza recursos lícitos para investimentos legais. A defesa também diz desconhecer a relação da Odebrecht com Messer, assim como a visita ao escritório da empreiteira no Rio, em 2012.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Fica comprovado, mais uma vez, que a delação da empreiteira omitiu muita coisa, conforme diz o próprio Marcelo Odebrecht, tentando destruir o cunhado. Seria conveniente que o Supremo reavaliasse o acordo de delação. (C.N.)

17 de julho de 2018
Felipe Bächtold
Folha

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