"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 19 de junho de 2018

PROJETO NACIONAL É A GRANDE BOLA FORA DO BRASIL, ANALISA EDNEY CIELICI DIAS

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Charge do Duke (dukechargista.com)
O labirinto em que o país se encontra tem diversas faces de desilusão e o futebol é mais uma delas. Hoje a seleção brasileira estreia na Copa com a maior indiferença dos brasileiros –53% não têm interesse pelo evento, percentual bastante superior aos verificados, por exemplo, nos meses de junho em 1994 (20%) e 2014 (36%), segundo o Datafolha.
A ligação com a seleção brasileira é, para o bem ou para o mal, um indicador de pertencimento, de identidade com a nação. Na 6ª feira (14.jun), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli tocou o problema em outra perspectiva: nenhum candidato a presidente da República apresentou, até o momento, um “projeto de nação”.
PATRIOTADA – O que liga a seleção brasileira ao “projeto de nação”? Trata-se de algo sério ou estamos resvalando na patriotada?
A relação fria dos brasileiros é, sim, manifestação de um problema maior. Coincidentemente, a série dos dados do Datafolha corresponde a pontos críticos do enfraquecimento do “projeto de nação”.
O sonho de Brasil grande, de orgulho nacional de potência emergente, sepultou-se no início dos anos 1980, com o ocaso melancólico da agenda desenvolvimentista dos governos militares. O renascimento democrático significou administrar crises econômicas e demandas sociais historicamente reprimidas.
ESTABILIDADE – O Plano Real, de 1994, e seus desdobramentos propiciaram a necessária estabilidade de preços, mas em um contexto desfavorável à qualificação produtiva. O arranjo macroeconômico se consolidou com juros elevados, câmbio cronicamente sobrevalorizado, ampla abertura a fluxos de capitais e baixa abertura comercial.
Ocorreu, de fato, uma abertura econômica perversa, restrita aos fluxos de capitais, em contraposição ao que seria um papel mais ativo do Brasil no comércio e de participação nas cadeias mundiais de produção.
O brasileiro com renda mais alta se internacionalizou com o real forte e a liberdade de enviar seus recursos ao exterior e repatriá-los. As desvalorizações cíclicas do real, por sua vez, possibilitam oportunidades de especulações fáceis da elite duty free.
CONFIGURAÇÃO – O período de retomada do crescimento nos governos Lula não alterou essa configuração institucional. A expansão se deu com o combustível de exportação de produtos de baixa complexidade produtiva, paralelamente a importantes políticas de renda, em especial a valorização do salário mínimo.
A emergência da crise, no final do 1º mandato de Dilma, voltou a explicitar fragilidades de um país em processo de desindustrialização e de baixa produtividade. Salientou também a imemorial parcialidade do Estado brasileiro, pleno de vieses e atrasos, e uma Justiça que, em seu elitismo e lentidão, sinaliza que o crime compensa.
Em certo sentido, é fácil entender o que se passa nesta Copa. Os brasileiros têm graves problemas a resolver no seu dia-a-dia e não há clima para festa.
ANTIPATIA – Há também uma certa antipatia. Os craques da seleção são tão internacionalizados como a elite nacional: alta renda, residência no exterior, capacidade fugir dos problemas da terrinha. A CBF é tão impopular e sem credibilidade como o vergonhoso governo federal. Natural o distanciamento, a despeito da qualidade do time dirigido por Tite.
A ideia de nação, essencial na conformação das economias capitalistas, é semelhante à de um barco em que as diversas classes e interesses convivem por objetivos comuns. A presente situação do Brasil é, no entanto, a de uma nau de insensatos.
O tal “projeto de nação” é, nessa imagem, uma rota de navegação capaz de pacificar os tripulantes, de fazer o país singrar rumo ao desenvolvimento. É ingênuo, no entanto, esperar um projeto de nação coerente por parte de candidatos. Isso não correu em eleições passadas.
DESINFORMAÇÃO – Projetos implicam explicitar conflitos, apará-los, qualificar o debate. O quadro eleitoral tende, mais uma vez, a chafurdar na desinformação. Proposições coerentes dos candidatos devem, assim, ser provocadas pela sociedade civil.
Quais as políticas produtivas e de emprego? Como resgatar a segurança pública? O pode ser feito para melhorar o acesso à Justiça e torná-la eficiente? Como melhorar a educação? Qual a agenda social e de resgate da cidadania? Como preservar nosso ambiente?
Muitas perguntas devem ser respondidas no projeto de nação. Ele é necessário. Assim como também é saborear a vida e – por que não? – o futebol. É preciso navegar para além do terror, dos ódios, da canalhice, da xaropada. Sejamos felizes, enfim.
(artigo enviado por João Amaury Belem)

19 de junho de 2018
Edney Cielici Dias
Poder360

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