"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

BOLSONARO CITA CLODOVIL E COLEGA NEGRO PARA REBATER ACUSAÇÕES DE PRECONCEITO

FILE PHOTO: Federal deputy Jair Bolsonaro, a pre-candidate for Brazil's presidential elections takes part a protest against former Brazilian president Luiz Inacio Lula da Silva while the Supreme Court issues its final decision about his habeas corpus plea, in Brasilia, Brazil, April 4, 2018. REUTERS/Ueslei Marcelino/File photo ORG XMIT: HFS-SMS205
Bolsonaro busca mudar sua imagem na campanha
Com uma extensa lista de declarações e atitudes polêmicas nos seus 30 anos de vida pública, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) busca provar na Justiça, nas redes sociais e em entrevistas que não é racista, homofóbico ou misógino. Para isso, usa vídeos amistosos com amigos negros, como o relato de que salvou um colega negro da morte em 1978, e a troca de amabilidades com o costureiro e deputado Clodovil, morto em 2009, entre outros recursos.
A acusação de racismo contra o deputado tomou corpo em 2011 quando, em entrevista ao programa CQC, da TV Bandeirantes, respondeu que não iria discutir “promiscuidade”. Era uma resposta a uma pergunta da cantora Preta Gil sobre como ele reagiria caso um filho seu se apaixonasse por uma negra. Após a veiculação do programa, o parlamentar disse que tinha entendido “gay” no lugar de “negra”.
IMUNIDADE – O caso foi arquivado no Supremo, sob o argumento de que Bolsonaro goza de imunidade parlamentar e porque a emissora não forneceu a gravação original, sem edição, que permitisse juízo de valor sobre a possibilidade de engano em relação à pergunta.
No ano passado, nova polêmica. Em discurso no clube Hebraica, afirmou: “Eu fui em um quilombola [termo correto é quilombo] em Eldorado paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais”.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou no último dia 12 denúncia por racismo ao Supremo Tribunal Federal. “Jair Bolsonaro tratou com total menoscabo os integrantes de comunidades quilombolas. Referiu-se a eles como se fossem animais, ao utilizar a palavra ‘arroba’. Esta manifestação, inaceitável, alinha-se ao regime da escravidão, em que negros eram tratados como mera mercadoria”, escreveu Dodge.
SOGRO NEGÃO – Bolsonaro nega ser racista e tem repetido o apelido do sogro, “Paulo Negão”, como um dos argumentos a seu favor. Ele e seus aliados também veiculam vídeos em que é elogiado por negros, um deles pelo jogador de futebol Somália.
No livro que escreveu sobre o pai (“Bolsonaro, Mito ou Verdade”), o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) relata que no ano de 1978 o hoje presidenciável salvou um colega de morrer afogado. “Negão Celso”, como era conhecido, havia caído na água durante uma prova militar.
“Rapidamente, Bolsonaro arrancou a gandola, os coturnos e pulou na água para resgatá-lo. […] Uma evidente prova de ‘racismo’ de Bolsonaro já nos tempos da caserna”, ironizou Flávio.
KIT GAY – O rótulo de homofóbico Bolsonaro diz ter ganho por combater a partir de 2011 o que a bancada religiosa na Câmara batizou de “kit gay”, a distribuição de material sobre diversidade sexual nas escolas.
Em debate na Câmara em 2012, ele afirmou: “A tropa de homossexuais, agora, está batendo em retirada do campo de batalha. São heterofóbicos. Quando veem um macho na frente eles ficam doidos. […] Homossexualismo… Direito… Vai queimar tua rosquinha onde tu bem entender, porra!”
Bolsonaro coleciona, antes e depois do kit gay, declarações contrárias a homossexuais e troca de ofensas com o colega Jean Wyllys (PSOL-RJ), que é homossexual. Agora, afirma combater apenas o que chama de apologia gay nas escolas, que se dá bem como homossexuais e que até já contratou assessor gay.
ESTEREÓTIPO – “Ao contrário do estereótipo equivocado que o réu tenta imputar ao autor, este vê e trata homossexuais como seres humanos normais, detentores de direitos e obrigações”, diz peça de ação por danos morais que ele move contra o apresentador Marcelo Tas, que em entrevista o chamou de racista e homofóbico.
No mesmo documento, é relatado aparte elogioso feito por Bolsonaro, no plenário da Câmara, a Clodovil, que era homossexual. “Eu respeito a sua pureza, a sua inocência.”
“Um homofóbico iria à tribuna para elogiar, afagar e prestigiar um colega homossexual?”, pergunta sua defesa.
ESTUPRO E INJÚRIA – Em relação às mulheres, o presidenciável responde a duas ações penais no STF sob acusação de incitação ao estupro e injúria contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Ele afirmou numa discussão – e, depois, em entrevista e pronunciamento – que não estupraria a parlamentar porque ela não merece.
O presidenciável defendeu em 2014, em entrevista ao jornal Zero Hora, o pagamento de salário mais baixo às mulheres, já que elas engravidam.
Advogado de Bolsonaro e presidente de seu novo partido, o PSL, Gustavo Bebianno diz que as acusações são injustas. “Ficam inventando essas bobagens, dando destaque a bobagens, como se tratasse de coisa séria. O Jair não é racista, tem 500 amigos negros”, afirma. Sobre Maria do Rosário, diz que foi só um bate-boca infantil. “Ele respondeu no calor das emoções. De cabeça fria teria outra atitude.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Daqui para frente, na campanha eleitoral, é hora de ataques. Os principais candidatos terão seu passado exibido em minúcias. Bolsonaro tem dito muita bobagem em sua vida pública, agora está adotando uma postura de maior maturidade, que será importante se quiser ganhar a eleição(C.N.)


24 de maio de 2018
Ranier Bragon
Folha

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