Para alguns analistas econômicos, foi surpresa o dólar romper com desenvoltura o teto psicológico de R$ 3,60 e ultrapassar R$ 3,70 em menos de uma semana. Um preço comparativamente exagerado, contrariando um pouco os fundamentos da economia brasileira. Aconteceu, justamente, numa época em que o mercado financeiro previa que ele estivesse, no máximo, ao redor de R$ 3,40. Segundo eles, sua disparada resulta de um processo global que ainda não chegou ao fim, sendo natural que a correção de preço possa acontecer no caminho.
Talvez esse “sufoco” cambial que estamos enfrentando possa ser uma materialização prematura dos riscos do ambiente externo, tendo como ponto principal, a alta gradual nos juros dos títulos americanos, inclusive com a possibilidade de eles se tornarem maiores que o previsto ao longo do ano. Além disso, não podemos desconsiderar as tensões geopolíticas e os conflitos comerciais, sem esquecer naturalmente o ambiente doméstico, com incertezas provocadas pelas eleições presidenciais e a grande dúvida sobre se o próximo governo encaminhará as reformas necessárias para conter o incontrolável déficit fiscal.
Realmente, diante desse quadro, estão colocados na berlinda os cenários mais otimistas da nossa economia para este ano, levando o mercado agora a se preocupar com a interrupção estratégica na queda da Selic (juro básico da economia) e a insinuar discretamente que o Banco Central (BC) continue rigoroso com suas intervenções no mercado do câmbio.
Tenho uma ligeira impressão de que o mercado esperava que a conjuntura benigna, alimentada pela notável fartura de liquidez predominante no exterior, iria durar mais tempo, mas ele acabou sendo surpreendido pelo fortalecimento da moeda americana no âmbito mundial.
Estamos revivendo cinco anos atrás (junho de 2013) quando o dólar atingiu R$ 2,40, decorrente do Fed (Banco Central americano) ter iniciado a redução dos estímulos, o que provocou no dólar uma pressão global. Na época, o nosso BC interviu, realizando quase que diariamente uma sequência de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares mercado futuro), igualmente como estão sendo praticados agora, buscando suavizar a incrível volatilidade que domina o câmbio.
Observo que as questões internas também não estão convergindo para a narrativa do mercado, diante do otimismo gerado exatamente há dois anos atrás com o impedimento da “iluminada” Dilma. Naquele momento, os prognósticos eram de que as reformas deveriam acontecer, sendo enorme a expectativa de que a economia brasileira poderia crescer em torno de 3%, com um câmbio provavelmente estável, favorecendo a eleição de um candidato de centro com ideias totalmente reformistas.
Entretanto, as reformas viraram “contos de fada” e a da Previdência a mais importante delas, foi abortada a caminho do Congresso, sendo que as últimas pesquisas mostram que os pré-candidatos com viés reformista não se encontram bem posicionados para a largada de uma das mais difíceis corridas eleitorais que já presenciamos.
Consolidando-se o consenso de que a pressão cambial está vindo realmente de fora, a importância do impacto eleitoral torna-se um excelente motivo para se abrir um amplo debate sobre o assunto. Muitos analistas admitem atualmente que no máximo 90% dele têm sua origem externa e o efeito da indefinição no cenário eleitoral, por enquanto, ainda está contribuindo muito pouco.
Os dias estão passando e as eleições estão cada vez mais próximas sem que consigamos enxergar uma luzinha ao final do túnel Brasil. Caso não ocorram perspectivas confiantes relacionadas ao ajuste fiscal, nem a continuidade das reformas estruturais e, também, permanecendo o estresse externo, o dólar, certamente, poderá ultrapassar a barreira de R$ 4,00 antes ou depois das eleições presidenciais, dependendo do candidato vitorioso nas urnas em outubro. Embora a equipe econômica disponha, hoje, de mais instrumentos para administrar essa volatilidade com reservas internacionais de US$ 380 bilhões, nada mais do que dez vezes superior ao nível do final de 2002.
Todavia, se a instabilidade nos mercados se agravar, se as empresas endividadas em dólar contaminarem o mundo corporativo, se a crise dos vizinhos argentinos atravessar a fronteira, a turbulência deve, logicamente, ampliar-se. Poderá acontecer no limiar das eleições, quando costuma potencializar as reações dos mercados.
A inflação de abril (0,22% no mês e 2,76% em 12 meses) veio dentro das expectativas do mercado, encaminhando-se para padrões de Primeiro Mundo. O elemento novo, com certeza, é a alta do dólar que elevou um pouco os preços no atacado. Contudo, não teve grande influência dentro do mês, porque seu impacto será medido durante o seu decorrer e nas semanas seguintes. A inflação ainda está bem abaixo da meta oficial, embora aumentem as chances de que as flutuações recentes dos ativos e do dólar possam levar a pressões inflacionárias no futuro.
O juro básico da economia praticamente chegou ao térreo antes do previsto, estacionando temporariamente em 6,5% ao ano. A autoridade monetária surpreendeu boa parte do mercado, demonstrando uma postura conservadora ao mantê-lo neste nível, justificando que o cenário externo se tornou mais desafiador, apresentando forte volatilidade, inclusive diante do aumento da deterioração do balanço de riscos, mesmo reconhecendo que a atividade econômica do país perdeu muita força e o comportamento da inflação continua extremamente favorável.
Com essa decisão, o BC deu uma pausa, antecipando o fim do ciclo de afrouxamento monetário que só era esperado para o próximo encontro do Copom (Comitê de Política Monetária), que será realizado no próximo mês, durante os dias 19 e 20. No total, foram 12 tesouradas consecutivas na Selic que se iniciou em outubro de 2016 quando ela estava em 14,25%, chegando a 6,5% há poucos dias, a menor desde o início do regime de metas de inflação, em 1999, e a mais baixa de toda a série histórica do BC, iniciada em 1986.
Diante de novas incertezas, já há quem comece a responsabilizar o dólar pelo fraco desempenho da economia. Evidentemente que, por enquanto, isso ainda é um pouco difícil de ser comprovado. A grande verdade começou a ser notada no início do ano, quando a economia já apresentava dificuldades de encontrar boa tração na sua retomada, como demostram alguns indicadores econômicos, o que está levando os economistas do mercado a derrubar projeções do PIB (Produto Interno Bruto) para 2018.
A meu ver, em linhas gerais, justifica-se o fato pela insuficiência de estímulos ao consumo ou, até mesmo, por terem se esgotado, além dos investimentos públicos e privados que não se fizeram presentes como deveriam.
Diante das diversidades de ameaças e singularidades adversas que o Brasil vem atravessando, os mercados e investidores continuam firmes, apostando nesta atual equipe do BC liderada por Ilan Goldfajn, que reflete até então comprometimento, segurança e serenidade na condução das políticas monetária e cambial.
19 de maio de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS
Talvez esse “sufoco” cambial que estamos enfrentando possa ser uma materialização prematura dos riscos do ambiente externo, tendo como ponto principal, a alta gradual nos juros dos títulos americanos, inclusive com a possibilidade de eles se tornarem maiores que o previsto ao longo do ano. Além disso, não podemos desconsiderar as tensões geopolíticas e os conflitos comerciais, sem esquecer naturalmente o ambiente doméstico, com incertezas provocadas pelas eleições presidenciais e a grande dúvida sobre se o próximo governo encaminhará as reformas necessárias para conter o incontrolável déficit fiscal.
Realmente, diante desse quadro, estão colocados na berlinda os cenários mais otimistas da nossa economia para este ano, levando o mercado agora a se preocupar com a interrupção estratégica na queda da Selic (juro básico da economia) e a insinuar discretamente que o Banco Central (BC) continue rigoroso com suas intervenções no mercado do câmbio.
Tenho uma ligeira impressão de que o mercado esperava que a conjuntura benigna, alimentada pela notável fartura de liquidez predominante no exterior, iria durar mais tempo, mas ele acabou sendo surpreendido pelo fortalecimento da moeda americana no âmbito mundial.
Estamos revivendo cinco anos atrás (junho de 2013) quando o dólar atingiu R$ 2,40, decorrente do Fed (Banco Central americano) ter iniciado a redução dos estímulos, o que provocou no dólar uma pressão global. Na época, o nosso BC interviu, realizando quase que diariamente uma sequência de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares mercado futuro), igualmente como estão sendo praticados agora, buscando suavizar a incrível volatilidade que domina o câmbio.
Observo que as questões internas também não estão convergindo para a narrativa do mercado, diante do otimismo gerado exatamente há dois anos atrás com o impedimento da “iluminada” Dilma. Naquele momento, os prognósticos eram de que as reformas deveriam acontecer, sendo enorme a expectativa de que a economia brasileira poderia crescer em torno de 3%, com um câmbio provavelmente estável, favorecendo a eleição de um candidato de centro com ideias totalmente reformistas.
Entretanto, as reformas viraram “contos de fada” e a da Previdência a mais importante delas, foi abortada a caminho do Congresso, sendo que as últimas pesquisas mostram que os pré-candidatos com viés reformista não se encontram bem posicionados para a largada de uma das mais difíceis corridas eleitorais que já presenciamos.
Consolidando-se o consenso de que a pressão cambial está vindo realmente de fora, a importância do impacto eleitoral torna-se um excelente motivo para se abrir um amplo debate sobre o assunto. Muitos analistas admitem atualmente que no máximo 90% dele têm sua origem externa e o efeito da indefinição no cenário eleitoral, por enquanto, ainda está contribuindo muito pouco.
Os dias estão passando e as eleições estão cada vez mais próximas sem que consigamos enxergar uma luzinha ao final do túnel Brasil. Caso não ocorram perspectivas confiantes relacionadas ao ajuste fiscal, nem a continuidade das reformas estruturais e, também, permanecendo o estresse externo, o dólar, certamente, poderá ultrapassar a barreira de R$ 4,00 antes ou depois das eleições presidenciais, dependendo do candidato vitorioso nas urnas em outubro. Embora a equipe econômica disponha, hoje, de mais instrumentos para administrar essa volatilidade com reservas internacionais de US$ 380 bilhões, nada mais do que dez vezes superior ao nível do final de 2002.
Todavia, se a instabilidade nos mercados se agravar, se as empresas endividadas em dólar contaminarem o mundo corporativo, se a crise dos vizinhos argentinos atravessar a fronteira, a turbulência deve, logicamente, ampliar-se. Poderá acontecer no limiar das eleições, quando costuma potencializar as reações dos mercados.
A inflação de abril (0,22% no mês e 2,76% em 12 meses) veio dentro das expectativas do mercado, encaminhando-se para padrões de Primeiro Mundo. O elemento novo, com certeza, é a alta do dólar que elevou um pouco os preços no atacado. Contudo, não teve grande influência dentro do mês, porque seu impacto será medido durante o seu decorrer e nas semanas seguintes. A inflação ainda está bem abaixo da meta oficial, embora aumentem as chances de que as flutuações recentes dos ativos e do dólar possam levar a pressões inflacionárias no futuro.
O juro básico da economia praticamente chegou ao térreo antes do previsto, estacionando temporariamente em 6,5% ao ano. A autoridade monetária surpreendeu boa parte do mercado, demonstrando uma postura conservadora ao mantê-lo neste nível, justificando que o cenário externo se tornou mais desafiador, apresentando forte volatilidade, inclusive diante do aumento da deterioração do balanço de riscos, mesmo reconhecendo que a atividade econômica do país perdeu muita força e o comportamento da inflação continua extremamente favorável.
Com essa decisão, o BC deu uma pausa, antecipando o fim do ciclo de afrouxamento monetário que só era esperado para o próximo encontro do Copom (Comitê de Política Monetária), que será realizado no próximo mês, durante os dias 19 e 20. No total, foram 12 tesouradas consecutivas na Selic que se iniciou em outubro de 2016 quando ela estava em 14,25%, chegando a 6,5% há poucos dias, a menor desde o início do regime de metas de inflação, em 1999, e a mais baixa de toda a série histórica do BC, iniciada em 1986.
Diante de novas incertezas, já há quem comece a responsabilizar o dólar pelo fraco desempenho da economia. Evidentemente que, por enquanto, isso ainda é um pouco difícil de ser comprovado. A grande verdade começou a ser notada no início do ano, quando a economia já apresentava dificuldades de encontrar boa tração na sua retomada, como demostram alguns indicadores econômicos, o que está levando os economistas do mercado a derrubar projeções do PIB (Produto Interno Bruto) para 2018.
A meu ver, em linhas gerais, justifica-se o fato pela insuficiência de estímulos ao consumo ou, até mesmo, por terem se esgotado, além dos investimentos públicos e privados que não se fizeram presentes como deveriam.
Diante das diversidades de ameaças e singularidades adversas que o Brasil vem atravessando, os mercados e investidores continuam firmes, apostando nesta atual equipe do BC liderada por Ilan Goldfajn, que reflete até então comprometimento, segurança e serenidade na condução das políticas monetária e cambial.
19 de maio de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS
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