"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 22 de abril de 2018

A INFLAÇÃO CONTINUA SURPREENDENDO


Os dados divulgados recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstram que a inflação em março é a menor dos últimos 24 anos. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) avançou apenas 0,09% ante a alta de 0,25% em igual mês do ano passado. No acumulado em 12 meses ela desacelerou para 2,68% (em fevereiro foi 2,84%) e, no acumulado do ano, o índice está em 0,70%. 
O baixo resultado foi puxado pela deflação dos preços dos transportes (-0.25%), com destaque para o recuo das passagens aéreas (-15,42%) e, igualmente, comunicação (-0,33%).

A inflação sob controle só tem a favorecer a continuidade de uma política monetária expansionista durante 2018, reforçando inteiramente o caminho já traçado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) de mais uma queda de 0,25 p.p. na taxa Selic (taxa básica da economia) na próxima reunião que será realizada em maio próximo. Atualmente, a expectativa é que a inflação se aproxime da meta prevista ao final do ano, provavelmente apontando viés de baixa.

Se confirmado este cenário, podemos acreditar numa conjuntura benigna com política monetária expansionista, inflação abaixo da meta e crescimento não inflacionário. Mesmo assim, as incertezas que vêm caracterizando e desafiando este ano eleitoral podem impactar o câmbio e ricochetear perigosamente na inflação.

Além de propiciar a manutenção da Selic em patamar baixo, os preços sob controle devem impulsionar o consumo das famílias. Os impactos deste cenário favorecem o mercado de crédito e as vendas no varejo, proporcionando uma previsibilidade maior ao consumidor para gerenciar seu orçamento, apesar de o desemprego ainda se situar num patamar elevado e a renda real ainda não ter se restabelecido.

A sensação que passa é que predomina a insegurança em relação à direção que a economia deverá seguir. O consumidor anda apavorado com o desemprego (54% dos desempregados em 2016 ainda não se recolocaram), procurando se resguardar contra outras adversidades que porventura venham a comprometer o seu futuro. Em função disso, eles procuram não ousar numa compra mais alentada para não aumentar seu endividamento.

Lamentavelmente, estamos convivendo com os efeitos nocivos provocados pela longa e profunda recessão que começamos a deixar para trás e, além disso, temos que reconhecer também que uma política monetária bem conduzida, sem dúvida, contribuiu basicamente para a derrubada da inflação. 
É necessário acrescentar que o IPCA de preços ao consumidor vem se mantendo abaixo do patamar de 3% da faixa considerada oficial para este exercício. Diante disso, especula-se ser possível, embora, não impossível, que a inflação continue a ficar assim tão baixa até o final do ano.

A mediana de projeções do boletim Focus, elaborado semanalmente pelo Banco Central, já foi recalculada para baixo umas dez vezes consecutivas. O mais recente relatório prevê que o IPCA fechará 2018 com alta de 3,53% acima do nível atual, mas ainda abaixo da meta estabelecida pelo BC, de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 pontos para mais ou para menos.

Com a inflação subjugada, abre-se ainda mais espaço para a diretoria do BC (Banco Central) poder continuar flexibilizando a política monetária, incentivando a recuperação da nossa economia.

Indiscutivelmente, estamos adentrando numa atmosfera bastante incerta com relação ao futuro da nossa economia. Os diretores do BC manifestam certa preocupação e encontram-se debruçados avaliando e discutindo sobre projeções em torno dos prováveis números da inflação de 2019, a fim de poderem dimensionar melhor a taxa de juros no curto prazo.

A última pesquisa semanal Focus publicada pelo BC sinaliza que certamente a Selic (taxa básica de juros) encerrará 2018 em torno de 6,25%, um quarto de ponto percentual abaixo da faixa atual. Afinal de contas, o desemprego continua elevado, deixando, dessa forma, uma razoável folga na economia, sendo natural que, inicialmente, se perceba algum consumo e isso venha a contribuir coma dinâmica na recuperação da nossa vida econômica.

Em certos momentos, a economia me parece ancorada em dados oscilantes, dando a impressão, nesse primeiro trimestre, que não engatou como era esperado e que a recuperação por ora patina, cada vez mais dependente de um segundo semestre mais promissor.

O PIB (Produto Interno Bruto) subiu 1% no ano passado, depois de apresentar durante dois anos consecutivos queda de 3,5%.  Ocorre que o crescimento desacelerou em cada trimestre de 1,3% no período finalizado em março de 2017 para somente 0,1% no quarto trimestre.
Está visível um padrão de contenção parcial nos investimentos antes das eleições presidenciais de outubro. Comprovadamente continuamos com uma enorme capacidade ociosa no setor produtivo, talvez porque as empresas ainda estejam preferindo aguardar mais um pouco, para sentir uma maior transparência no ambiente político e, a partir daí, desengavetar definitivamente seus projetos de expansão.

À medida que as eleições se aproximam de 07 de outubro, as incertezas continuam se expandindo. O número de pré-candidatos à Presidência aumenta e, pelo visto, é quase uma dúzia. Apesar das projeções indicarem uma disputa com muitos candidatos, o cenário está, até o momento, tão aberto que dificulta até mesmo antecipar quais deles sobreviverão ao aquecimento para disputar de fato a corrida pra valer.

Não é só pela nossa conjuntura, mas o contexto da economia global também deve ser levado em consideração, já que atravessa um momento de estresse em função da guerra comercial liderada por Donald Trump e a escalada do conflito da Síria, embora o risco maior ainda esteja em nosso âmbito doméstico pela falta de continuidade no processo das reformas que a economia brasileira exige, com a obstrução inevitável no crescimento da dívida pública, a busca de um sólido equilíbrio fiscal e o crescimento da produtividade.

O Brasil derrubou a hiperinflação há duas décadas, mas reviveu esse fantasma sempre que os índices alcançaram dois dígitos nos últimos anos. Os dados divulgados mostram que há espaço para que o país passe por uma redução estrutural da inflação, mas o desequilíbrio fiscal e as possíveis turbulências com o cenário eleitoral não deixam de ser um dos maiores riscos que talvez venhamos a enfrentar.

22 de abril de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade 

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