"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 14 de março de 2018

PRÓXIMO PRESIDENTE SERÁ QUEM FOR CAPAZ DE REPRESENTAR A MAIORIA SILENCIOSA

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Ilustração reproduzida do Portal Judaico
Nesse ponto precoce da disputa presidencial, os números das pesquisas devem ser lidos pelo avesso. A sondagem recente da CNT/MDA reitera as fotografias anteriores, com Lula disparado à frente (33%), seguido por Bolsonaro (17%). A soma, 50%, equivale à parcela do eleitorado que rejeita os dois únicos candidatos amplamente conhecidos. O próximo presidente será, provavelmente, Mister X: o centrista capaz de falar a língua da maioria silenciosa. Daí, emerge a oportunidade visualizada pelo Planalto.
Segundo o levantamento, Lula bateria facilmente qualquer adversário no segundo turno. Mas a foto, captada bem antes do confronto no horário oficial de TV, assemelha-se às imagens das estrelas: o brilho de objetos distantes milhões de anos-luz é uma janela aberta para o passado. A mesma sondagem informa que mais de 52% concordam com a sentença condenatória do TRF-4. Só lulistas de carteirinha e analistas alucinados acreditam na inevitabilidade de triunfo do ex-presidente num hipotético turno final.
LULA DE FORA – Na prática, o raciocínio é inútil. Lula estará fora da campanha quando o TSE declará-lo “ficha suja”, um ato que impedirá o país de acertar as contas políticas com o lulismo e propiciará a extensão da narrativa fraudulenta sobre o “golpe de 2016”. Contudo, os números indicam que o ungido de Lula tem tudo para alcançar o segundo turno. Quem concorrerá com ele?
Do ponto de vista do lulismo, Bolsonaro é o desafiante perfeito. Mas o discurso asqueroso, purulento, que empolgou uma minoria movida pelo rancor, traça-lhe um rígido limite eleitoral. No cenário sem Lula, ele salta para apenas 20% das intenções de voto e, na simulação de turno final, empata com uma Marina Silva ainda não declarada candidata. O pretendente odiento só chegará à etapa decisiva mediante um suicídio do centro político.
A paisagem centrista caracteriza-se pela fragmentação e por apostas especulativas.
OS CENTRISTAS – Marina tem um patrimônio eleitoral, mas carece do partido que se revelou incapaz de construir. Alckmin tem um partido em ruínas, devastado pelo bombardeio das denúncias e consumido por crônica dislexia política. Álvaro Dias e Rodrigo Maia são personagens em busca de autores e enredos.
Diante do populoso vácuo centrista, o Planalto deu um passo à frente e montou uma estratégia. Seus três pilares são o projeto das reformas econômicas, uma promessa para os agentes de mercado, e as bandeiras populares da retomada do consumo e da política de segurança pública.
A candidatura potencial de Temer articula-se atrás da intervenção federal na área de segurança do Rio de Janeiro e da criação do Ministério da Segurança Pública.
TECLAS QUENTES – Desemprego, corrupção e criminalidade formam as teclas quentes da corrida presidencial brasileira. A estratégia do Planalto toca a primeira e a última. O governo confia na expansão de suas taxas de aprovação, no ritmo da recuperação do emprego. Quase 70% aprovam a intervenção no Rio e 63%, o novo ministério. O nervo exposto do presidente corresponde à tecla do meio, fonte da letal taxa de rejeição de 88%.
Os 88% são de Temer, não de Raul Jungmann, o balão de ensaio do Planalto. O czar da Segurança, uma figura política sofisticada e livre de pendências judiciais. O Planalto não tem pressa: Jungmann ficará sob os holofotes pelos próximos meses, sem a obrigação de assumir uma candidatura, enquanto a coleção de candidatos centristas rema contra a correnteza. A aposta é que se reproduza a trajetória de FHC, o ministro da Fazenda catapultado à Presidência pelo Plano Real. Seria uma repetição da história, mas não como farsa.

14 de março de 2018
Demétrio Maglioli
Folha

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