"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

VOCÊ SABIA?

Nos muitos anos passados no exterior, sempre me surpreendeu a quase total desinformação em relação ao nosso país. 
Vive-se, ainda, nos tempos em que o Brasil era somente o país do samba-carnaval-futebol-mulatas, ou seja, um país alegre, o que felizmente continua a ser, apesar de tudo.

Ao lado desse enfoque, a mídia internacional, especialmente a norte-americana e europeia, excita-se com outro, sempre de forma sensacionalista: o dos meninos de rua – favelas - incêndios na Amazônia - massacre de índios – prostituição de menores – trabalhos escravo e infantil - violência urbana. Até 1983, o Brasil recusava-se a discutir esses problemas, combatendo simplesmente a mídia que os mostrava ao público. Com o retorno à democracia, não só eles se tornaram motivo de debates internos e junto a organizações internacionais, como foram, ainda, adotadas políticas destinadas a reduzir e sanar esses males.

No entanto, obcecada em difundir essa imagem negativa, a mídia não se detém em outros aspectos do Brasil, com a única exceção de jornais especializados em economia que não podem ignorar a grande revolução socioeconômica no Brasil após a implantação do Plano Real, em julho de 1994. 
Insiste-se sempre na mesma tecla, porque, naturalmente, atrai público, as vendas aumentam e se desvia a atenção dos problemas diários de seus próprios países.

Os aspectos positivos do Brasil são, assim, marginalizados, e não se divulgam as soluções adotadas pelos Governos federal, estadual e municipal.

Por tais motivos, numa evidente demonstração de ignorância, um jovem universitário italiano de uma das universidades de maior prestígio da Itália, a Bocconi, escreveu, numa prova por mim corrigida quando exercia a função de Cônsul-Geral do Brasil em Milão, que “o Brasil é um país muito próximo do mundo civilizado”…

Essa frase e outras demonstrações de ignorância me impulsionaram a preparar esta informação (a primeira versão, datada de 2001, era também em inglês e espanhol), com o título “Você Sabia?”, na esperança de entregar aos brasileiros e, principalmente, aos diplomatas em serviço no exterior, alguns dados para ensinar um Brasil quase desconhecido pelos estrangeiros, para conhecerem um pouco mais a respeito do nosso país. 
É verdade que vivemos situações dramáticas comuns aos países em vias de desenvolvimento (ou, como disse o Presidente Fernando Henrique Cardoso, de um “país injusto”).

Porém, nos países chamados desenvolvidos, também existem realidades igualmente negativas, como o terrorismo, ódio religioso na Europa e no Oriente Médio, a Ku Klux Klan, os “scugnizzi” de Nápoles (são os nossos meninos de rua), os “homeless” nas ruas de Nova York, prostituição de menores, pedofilia, desemprego (60%, entre os jovens de 19 a 25 anos, em regiões no sul da Itália), crime organizado (máfias italiana, russa, albanesa etc.), tráfico de drogas e degradação urbana na periferia das grandes cidades.

Ressalto, igualmente, o crescente racismo em toda a Europa em relação a africanos da chamada África Negra, além de argelinos, albaneses, sírios e outras vítimas das guerras do Oriente Médio etc., e até contra nós, brasileiros: quem viveu, na Itália, certamente se recorda do jogador Roberto Carlos – e tantos outros futebolistas brasileiros e africanos mulatos e negros - jogando pelo INTER de Milão, sendo xingado de “nero bastardo” pelas torcidas adversárias ou da banana atirada ao lateral Daniel, do Barcelona, e das faixas de ódio racial dos torcedores do Lazio ("Auschwitz é a casa dos negros"). 
Li, no jornal italiano “La Repubblica” essa pérola racista numa manchete, no dia 12 de julho de 1998: “Aggredito da un nero. In fin di vita”. No dia 14 seguinte, outra manchete do mesmo jornal: “Capri, stuprata nei giardini una turista USA di 15 anni”. Mas os titulares não diziam que, nesse último crime, o estuprador era um italiano branco…

No Brasil, pelo contrário, raças e religiões convivem em recíproco relativo respeito e harmonia, com alguns episódios nefastos de descriminação racial severamente punidos pela Lei Afonso Arinos. No centro do Rio de Janeiro, por exemplo, no chamado SAARA, comerciantes árabes e israelenses trabalham pacificamente, lado a lado, enquanto seus compatriotas se matam em seus países.

Aposentado em 2002, resolvi atualizar os dados do documento “Você Sabia? E tento atualizá-lo na medida do possível, pedindo a todos os brasileiros, sobretudo diplomatas, interessados em divulgar os aspectos positivos da realidade brasileira, que ampliem e atualizem as informações deste documento para o meu e-mail: guileiteribeiro@yahoo.com.br


08 de fevereiro de 2018
Guilherme Leite Ribeiro é diplomata.

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