"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 19 de março de 2017

MAIOR LEGADO DA LAVA JATO É QUE NADA SERÁ COMO ANTES

Charge do Pelicano (pelicanocartum.net)

Um dos maiores legados da Lava Jato reside no fato de que, alguns dos ladrões ricos estão presos no mesmo cárcere antes somente ocupados pelos ladrões pobres. Isso é inédito na vida brasileira, demonstrando inequivocamente uma mudança de paradigma. Importante notar que o chamado Mensalão (Ação Penal 470) abriu o caminho para sustar a sangria da corrupção avassaladora entre o público e o privado, que vem drenando as riquezas da nação para poucos privilegiados, deixando a maioria do povo com as migalhas, em estado de penúria, ao sacrificar a Saúde e a Educação, os pilares do desenvolvimento do país.

O dinheiro advindo da corrupção dos membros do Executivo e do Legislativo, desviado para paraísos fiscais, atingiu a casa do bilhão. Alguns corruptos investiram em mansões, iates, helicópteros, aviões, joias e obras de arte. Não há país, por mais rico, que resista ao saque generalizado. É o que está acontecendo dramaticamente, por exemplo, no Estado do Rio de Janeiro, sem dinheiro para pagamento de servidores e fornecedores. A UERJ, Universidade do Estado, não recebe o necessário repasse de verbas do governador Pezão, em consequência poderá fechar definitivamente. Um absurdo completo.

NOVAS MANIFESTAÇÕES – As passeatas de 2013, iniciadas por jovens inconformados, replicadas até 2016, acabaram se perdendo no tempo, pois o propósito era circunstancial e destinado a balançar os alicerces do governo do PT. Conseguido o objetivo, com a derrubada da presidente Dilma, os manifestantes voltaram para seus lares e para as rotinas de escola ou trabalho. Por esta razão, não acredito na volta das massas ocupando as ruas, embora as centrais, sindicatos e movimentos sociais estejam tentando repetir o fenômeno, travestido de vermelho.

Realmente, nada será como antes, depois da Lava Jato, que está sob ameaça de ser implodida no tempo certo, com as mudanças em gestação no TSE, no STF e no âmbito do Legislativo.

OUTRAS ARMAÇÕES – Além da chamada reforma política, prepara-se, nos escaninhos do poder, a volta da prisão somente com o trânsito em julgado na última instância recursal (Supremo), modificando a jurisprudência atual de prisão após a condenação na segunda instância. Prepara-se também a mudança nas regras das prisões preventivas, que não poderão exceder o limite de 90 dias. Prepara-se também um limitador das delações premiadas, que não terão validade se o réu estiver cumprindo prisão preventiva. E por aí afora.

Os políticos querem muito a volta da Lei do Amordaçamento do Ministério Público e a criminalização pesada para jornalistas que publicarem matérias que supostamente firam a honra dos parlamentares, uma espécie de draconiana Lei de Censura à Imprensa, nos moldes da implementada na Ditadura Militar, que nem lei era, tratava-se apenas de ato de exceção.

O IMPÉRIO CONTRA-ATACA – É o sistema dando o troco na Lava Jato, uma reação à exposição das empreiteiras, dos grandes conglomerados e dos bancos, que recebiam benesses dos governos em troca de propinas para partidos e candidatos a cargo público, através do eufemismo das “doações eleitorais”. Estancada a sangria momentânea, ninguém se iluda que o status quo irá retornar, pois isso desespera gregos e troianos, principalmente nas vésperas das eleições gerais de 2018.

A sorte está lançada. Resta saber se atravessaremos o rio em águas calmas ou revoltas, pois a classe dominante não descansará nem um minuto até que a Lava Jato seja implodida totalmente e a tranquilidade volte a reinar nas mansões de Brasília e nas grandes cidades do Brasil. Sobre esse tema espinhoso, só o futuro dirá.

No entanto, o estrago na imagem de empresários e políticos ficará para sempre nas consciências das forças vivas da nação. Essa consciência coletiva, acredito, será o maior legado do Mensalão e da Lava Jato. E nada será como antes.

19 de março de 2017
Roberto Nascimento

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