"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 31 de maio de 2016

É PRECISO PROJETAR O QUE VIRÁ DEPOIS DO CAPITALISMO. PORQUE ALGO VIRÁ DEPOIS!



Piketty já foi entrevistado pelo “Roda Viva”, da TV Cultura

















Só mesmo na Tribuna da Internet há interesse de discutir “O Capital no Sèculo XXI”, em meio a esse tiroteio caboclo. O economista francês Thomas Piketty é um fato novo, porque, apesar de detalhar o caminho da desigualdade de renda ao longo de várias centenas de anos nas mais de 700 páginas, sua densa obra conseguiu ser um sucesso… de vendas! Tem mais. 
O novo Tocqueville foi capaz de tal façanha apesar de ser o portador de más notícias ou de uma teoria deprimente: a de que a meritocracia do capitalismo é uma grande mentira e que esse sistema econômico será incapaz de cumprir suas promessas.
Isso tudo porque o crescimento econômico será sempre menor do que os lucros do dinheiro que é investido. Desnecessário enfatizar que nos beneficiamos apenas de crescimento econômico e não dos lucros do dinheiro alheio investido em acumulação apenas para os ricos.
As consequências da equação são claras, mas o cerne do livro é mais profundo: não é só contra a desigualdade de riqueza e renda que estamos lutando, mas contra a desigualdade de oportunidades.
TRABALHO E CAPITAL
Na essência, o que Piketty está dizendo é que o trabalho duro não conduz, “nem aqui nem na China”, à riqueza. E que, principalmente e muito ao contrário, só a riqueza conduz de forma confiável para a riqueza.
A classe média, segundo a tese pickettyana, joga na loteria econômica para melhorar sua sorte na vida, enquanto os ricos já nascem com um destino certo.Portanto, era uma vez o sonho americano, já bem abalado depois de Dick Cheney, Guantánamo e da Bolha!
Mais uma vez a Tribuna da Internet resume e acerta ao fazer um aparte no sentido de que “o Piketty não diz que os pobres estão mais pobres, ele apenas registra que a desigualdade sempre aumenta e que os ricos estão mais ricos”.
DESIGUALDADE
O propósito de Piketty não é de salientar que existe desigualdade, ou que ela está crescendo. Tal verdade já foi repetida ad nauseum por todos, do Obama ao Papa Francisco. O que Piketty afirma é que estamos realmente condenados a desigualdade e que, portanto, há que se questionar a moralidade do capitalismo.
A controvérsia quanto às teorias de Piketty mora, porém, noutro capítulo do livro.No qual ele sugere que se tente mudar a alavancagem inevitável da desigualdade de renda, através de um imposto sobre a riqueza – não sobre o rendimento da classe média – sobre o dinheiro que é investido e reinvestido e acumulado forma crescente. Pense em um barulho!
O livro de Piketty é uma novidade porque está provocando uma “conversa” nos EUA e por todo o vasto mundo, que já deveria ter rolado, seriamente, há muito tempo atrás.
DUAS MANEIRAS DE MUDAR
Temos que considerar que, apesar das gritantes diferenças entre o Velho Mundo e o Novo Mundo, entre as realidades africanas, asiáticas e emergentes, existem apenas duas maneiras de mudar uma sociedade: a partir da parte inferior ou a partir do topo da pirâmide.
O famoso Occupy Wall Street tentou mudanças pela primeira via e pavimentou a estrada com o populismo. Thomas Piketty está tentando o segundo caminho: ele agitou as cabeças pensantes, as classes pundit, os think tanks que produzem e difundem conhecimento sobre assuntos estratégicos, com vistas a influenciar transformações sociais, políticas, econômicas ou científicas, sobretudo em assuntos sobre os quais pessoas comuns não encontram facilmente base para análises de forma objetiva.
NO PÓS-MARX
Piketty mexeu fortemente com os acadêmicos americanos como aconteceu com pensadores estrangeiros como Marx e mais recentemente como Hannah Arendt e Jürgen Habermas na segunda metade do século 20. É bom lembrar que, enquanto na década de 1960 a ciência política tinha apenas cinco especialidades, o número hoje aumentou para mais de uma centena.E que não existia a web.
Hoje, os especialistas desempenham um papel cada vez maior na divulgação de ideias e pontos de vista de uma forma acessível ao público. Estou falando de gente que lida com as grandes questões em linguagem mais acessível, mais popular, nos noticiários noturnos em redes de notícias a cabo, por exemplo.
Não é à toa, portanto , que Piketty possua o maior número de leitores em Nova York e Washington, nem é surpresa que, neste contexto, Bernie Sanders – já quase sem chances na real – continue no topo de todas as pesquisas eleitorais americanas, com mais de 10 pontos de vantagem sobre o Trump..
LER MULGAN
De todo jeito, antes de lermos Piketty, talvez fosse melhor- quem sabe? – ler da lavra de Geoff Mulgan a obra, “O Gafanhoto e a Abelha”. A base de todo o livro é a dualidade do capitalismo. Sua faceta Janus, sua hipocrisia, seus dois lados, um yin e o outro yang, de predador e de criador, de disseminar riqueza sem perder a capacidade de, simultaneamente, concentrá-la.
É preciso olhar para o capitalismo com distanciamento, para então projetar o que virá depois. Porque algo virá depois!
Que me desculpem os pessimistas, mas… é assim que caminha a humanidade.

31 de maio de 2016
Moacir Pimentel

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