"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 30 de janeiro de 2016

BRASIL VIROU O PAÍS DA INQUISIÇÃO

BRASIL VIROU O PAÍS DA INQUISIÇÃO


A Folha publica reportagem atribuindo a Lula a propriedade de um sítio em Atibaia que teria sido reformado pela Odebrecht. Esforço próprio de reportagem? No mesmo dia, segundo a Folha de hoje, procuradores e delegados da Lava Jato do Paraná já se deslocaram para o local mencionado. E um barco de alumínio, de R$ 4 mil, passa a ser a prova do crime da família Lula.

Tal rapidez destoa da programação da Lava Jato. É evidente que o jornal foi alimentado previamente pelos procuradores e delegados da Lava Jato, antes mesmo de terem provas consistentes se houve a tal reforma bancada pela empreiteira.
No Estadão, um lobista justifica-se ao seu empregador afirmando que perdeu uma licitação da Secretaria de Educação do governo de São Paulo porque o vencedor pagou R$ 100 mil ao ex-Secretário Herman Voorwald.
Pouco importa se o lobista chutou a explicação apenas para limpar a barra perante seus contratantes. Pouco importa se a vítima, em questão, tem vida limpa, conduta ilibada e sempre se ateve à carreira acadêmica. Caiu na rede é peixe, é o bordão de uma imprensa leviana, inconsequente que há muito perdeu a noção de reportagem.
UM PAÍS INTOLERANTE
No Rio, uma acusação inconsistente de ação terrorista contra um físico franco-argelino altamente qualificado é endossada de pronto pelo Ministro da Educação, sem sequer ouvir o acusado. O Brasil, que poderia se tornar uma ilha para abrigar a imigração qualificada, entra na lista dos países intolerantes.
Todos esses capítulos mostram uma opinião pública doente, um país doente, inquisitorial, na qual os princípios fundadores do estado democrático foram jogados no lixo por essa combinação fatal de mídia-procuradores-delegados.
O cerco que se montou sobre Lula em nada difere da campanha contra Vargas em 1954. A chamada publicidade opressiva da mídia exige alimentação constante de fatos, factoides, meros rumores. Por mais que haja criatividade, não se consegue alimentar o noticiário sem o apoio de algum evento que cuspa permanentemente as informações.
CRIANDO O CLIMA
No caso de Vargas, uma CPI que se julgava inócua – a da Última Hora – passou a ser o motor gerador de factoides, permitindo o uso da publicidade opressiva por parte da mídia, especialmente da rádio Globo.
Dia após dia a CPI soltava seus factoides, que alimentavam o noticiário. Samuel Wainer recebeu xis de financiamento do Banco do Brasil, bradava a mídia. E escondia o fato de que o Globo e a própria Tribuna da Imprensa (de Carlos Lacerda) receberam mais. O financiamento da UH era reverberado dia e noite condenando os adversários perante a opinião pública e, através dela, pressionando os tribunais superiores.
Criado o clima, despertado o monstro do efeito manada, toca a uma devassa implacável sobre todos os atos de governo.
Aí se descobre que o guarda-costas Gregório Fortunato era dono de uma fortuna apreciável. Mais: que aceitou adquirir uma fazenda de um filho de Getúlio, para que ele pudesse quitar dívidas pessoais.
EXERCÍCIO DO PODER
É evidente que o exercício do poder abre facilidades que acabam sendo aproveitadas pelos elos moralmente mais fracos da corrente. Assim como é evidente que existem sempre áulicos que arrotam a suposta intimidade com o poderoso para enriquecer. 
E é evidente também que o exercício corriqueiro do poder seleciona ganhadores. É parte da própria lógica econômica medidas oficiais de estímulo à economia. Para estimular a economia, na outra ponta há os setores que se privilegiam.
Basta juntar tudo no mesmo caldeirão e alimentar o monstro. Tudo passa a ser criminalizável. É o que comprova a ofensiva da Operação Zelotes contra uma Medida Provisória que foi aprovada por unanimidade no Congresso, de mera prorrogação de uma decisão tomada pelo governo anterior, do PSDB, de estimular a indústria automobilística em regiões menos desenvolvidas.
Por que a fixação nessa MP? Porque supõe-se que no final do arco-íris esteja Lula.
MINISTRO VACILANTE
É um trabalho extraordinariamente facilitado quando encontra pela frente um Ministro da Justiça vacilante ou cúmplice, e governos que não sabem se defender.
Em São Paulo há um controle rígido sobre as ações do Ministério Público Estadual. As apurações caminham lentamente e jamais chegam no andar de cima. No máximo vaza alguma coisa para a imprensa, que dura o tempo máximo de uma edição de jornal.
Tome-se a última denúncia contra a Delta, uma prorrogação de contrato no valor de R$ 71 milhões aprovado pela DERSA. Na CPMI da Cachoeira foi desvendada a estratégia da construtora. Ganhava licitações com preços baixos, tendo a garantia de aditivos posteriores.
No máximo, a investigação baterá em algum subalterno da DERSA, mesmo com o episódio Paulo “não se deixa um aliado caído no campo de batalha” Preto ainda fresco na memória de todos.
MILITÂNCIA DE MORO
Na Lava Jato a militância do juiz Sérgio Moro, dos procuradores e delegados é claramente partidária e alimenta o noticiário há mais de ano E ai de quem ousar rebater e atribuir à operação propósitos autoritários. Imediatamente aparecerá na mídia um procurador enviado de Deus acenando para o ímpio com duzentos anos de prisão.
30 de janeiro de 2016
Luis Nassif

NOTA AO PÉ DO TEXTO


QUEM É LUÍS NASSIF?

Nassif, Serviços, Demissões e Processos

Já falamos em dois textos recentes sobre as relações de Luis Nassif com o Governo Federal, tanto como devedor inadimplente do BNDES quanto como prestador de serviços. Agora, vamos relembrar alguns momentos da trajetória do auto-intitulado “introdutor do jornalismo de serviços no Brasil”.
Nassif é conhecido por acumular, além de processos e cobranças judiciais onde figura como réu, demissões “polêmicas” de grandes veículos de comunicação:
  • Folha de São Paulo: Nassif trabalhou na Folha por mais de uma década, e chegou a fazer parte do Conselho Editorial do jornal. Em 2005, foi acusado por Diogo Mainardi, em sua coluna na revista Veja, de publicar release do lobista Luis Roberto Demarco na íntegra em sua coluna, e foi demitido, três anos depois, após o mesmo Diogo Mainardi, novamente na Veja, ter acusado Nassif de usar seu espaço no caderno financeiro da Folha para falar bem do então secretário de Segurança Pública de São Paulo Saulo Abreu enquanto buscava patrocínios para eventos de sua empresa. Segundo Mainardi, após a negativa do secretário em participar do evento de Nassif, Saulo passou a ser atacado pelo colunista.
Em sua defesa, Nassif exibiu nota emitida pela direção da Folha alegando que a decisão de sua demissão foi tomada em conjunto, “a fim de se dedicar a seus empreendimentos pessoais”.
  • Portal iG: Após o desligamento do grupo Folha, seu blog que era mantido no UOL (que é de propriedade do jornal) passou a ser hospedado no portal iG, controlado pela Brasil Telecom. O iG também hospedava os blogs de Mino Carta, Paulo Henrique Amorim, Ricardo Kotscho e outros nomes identificados com o governismo. Após a fusão Oi-Brasil Telecom, os novos controladores substituíram a diretoria do portal. Paulo Henrique Amorim foi demitido e alguns meses depois encerrou-se o contrato com Nassif, que não foi renovado.
No iG, o blog de Nassif era patrocinado por empresas como Vale, Odebrecht e Petrobras, além da própria Brasil Telecom. Foi neste período que Nassif publicou o “Dossiê Veja”, uma série de artigos que denunciava, através de associações vagas e ilações sem provas, condutas da revista de maior circulação no Brasil. Os artigos também atingiam jornalistas de outros veículos, inclusive da Folha de São Paulo.
  • TV Cultura: Em 2010, Nassif foi demitido da TV estatal paulista, onde era contratado para fazer comentários econômicos no telejornal noturno. A Fundação que gere a emissora alegou que a demissão ocorreu pois eram frequentes “ao longo do período de vigência do contrato, as situações em que a direção do ‘Jornal da Cultura’ solicita a presença do jornalista e ele não está disponível, em razão de viagens ou outros compromissos profissionais. Isso obriga o jornal a adequar-se às conveniências de seu colaborador e não o contrário, como seria de esperar”.
Nassif desmentiu os argumentos do jornal insinuando, para variar, que a culpa era de José Serra. Também para variar, sem prova alguma.
Por conta do “Dossiê Veja”, que o transformou em estrela da petistosfera, Nassif foi processado por alguns dos jornalistas citados, incluindo o redator-chefe da revista Mario Sabino. Em 2009, Nassif e o iG foram condenados solidariamente a pagar 100 salários mínimos a Sabino como indenização por danos morais. Não cabe aqui avaliar cada caso ou julgar os “ataques à reputação” praticados, mas cumpre lembrar que, além dos processos, surgiram várias respostas indignadas: Nassif foi desmentido e desafiado publicamente por diversos envolvidos, como o editor da revista Istoé Dinheiro Leonardo Attuch, o apresentador do SporTV André Rizek, freelancer da revista Veja e blogueiro do mesmo portal iG em diferentes momentos e a jornalista Janaína Leite, repórter da Folha que cobria o caso Telecom Italia. Diogo Mainardi também respondeu com a coluna “Nassif, o banana”, onde revela o “caso Saulo”.
Paralelamente a suas atividades como jornalista, Luis Nassif também atua como empresário, cobrando por consultorias, palestras, seminários e análises econômicas através de duas empresas, a Dinheiro Vivo Consultoria S/C e a Dinheiro Vivo – Agência de Informações S.A., das quais já falamos anteriormente.
Temos, então, o Nassif jornalista, acusado por Mainardi de publicar release de lobista e de usar a influência de sua coluna na Folha para obter vantagens junto a políticos e empresários, e o Nassif empresário e analista econômico, com tantas dificuldades em administrar as finanças de sua própria empresa que virou devedor inadimplente do BNDES (os juros mais baixos do mercado) duas vezes!
Mesmo assim, o Governo Federal, através de ministérios e estatais, não teve dúvidas em firmar contratos sem licitação que somam ao menos R$ 2,4 milhões desde 2007 com Nassif,  tanto como “jornalista”, através de banners de patrocínio em seu blog, quanto como “empresário”, financiando os eventos de uma Dinheiro Vivo e contratando consultoria da outra.
Nassif, com esse histórico financeiro de suas empresas, é curiosamente especializado em jornalismo econômico. E quem o contrata para fazer análises e comentar notícias é exatamente o Governo Federal (dono do BNDES), a quem a EBC/TV Brasil está subordinada.
(por implicante)

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