Sem dúvida vai ser um grande sucesso o lançamento de Memória do Poder, livro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no qual focaliza os bastidores políticos, as articulações, as pressões exercida sobre ele até para que nomeasse ladrões o que é vergonhoso – acrescenta – mas é assim. Portanto, deixa claro, como destaca a reportagem entrevista de Renato Onofre, Sílvia Amorim, Tiago Dantas e Bruno Rosa, O Globo de quarta-feira, que os ladrões na política são tão eternos como os diamantes para James Bond, o fantástico 007.
O título, a meu ver, ajusta-se bem ao tema. Tanto assim que, logo ao início de seu primeiro governo, em 95, foi avisado pelo empresário Benjamin Steinbruch, então membro do Conselho da Petrobrás, de que a empresa (pelo que se passava nela) constituía um verdadeiro escândalo. O efeito multiplicador, como se constata hoje, foi exponenciado pelo menos por 100, talvez 1000, no espaço de mais ou menos 12 anos. Steinbruch terá sido profético? O fato é que a corrupção se alastrou em ritmo alucinante de Fórmula 1. Quanto mais os ladrões roubam, mais querem roubar. Um prazer econômico e sensual. Se vale Freud vale Marx, digo eu.
INFINDÁVEIS REUNIÕES
“Estive naquelas infindáveis reuniões – narra FHC -, exaustivas discussões sobre nomeações, alguns indicados são ladrões e disso nós temos algumas provas”. Esta afirmação se destaca no contexto e se encontra (na narrativa) bem próxima dos nomes que expõe sobre os autores dos pedidos mais insistentes e constantes. Não quero dizer com isso que os “pedidores” de sempre sejam os padrinhos de ladrões de várias características e matizes. Mas me chama atenção a proximidade entre atores e personagens ocultos nas sombras das tramas e do passado recente.
PRÓXIMOS AO PODER
Fernando Henrique faz um destaque histórico: é preciso cuidado com os que estão próximos ao poder.
De fato são mais perigosos, os mais prestativos, os que mais elogiam também o mais capazes de montar negócios escusos e ilícitos em nome dos presidentes, dos governadores, dos prefeitos, dos dirigentes das empresas estatais. Tornam-se seres perigosíssimos. Às vezes praticam extorsões ou tentam chantagem em nome dos que detêm o poder e, muitas vezes, estes sequer ficam sabendo.
Dessa forma, tais personagens destroem reputações, mancham nomes alheios. Em alguns casos inventam pagamentos de subornos que não existiram e embolsam o dinheiro. No caso do gigantesco assalto à Petrobrás, por exemplo, quantas vezes devem ter sido feitas as famosas “doações” nas quais os valores não coincidiram com o desembolso original e a entrega final das importâncias extorquidas e recebidas?
Inclusive porque, em tais “doações” não há recibo, e são realizadas em espécie, contrariando a legislação eleitoral que as condicionam a serem feitas em cheques cruzados ou através de depósitos bancários de origem e destino identificados.
LADRÕES ETERNOS
Os ladrões são eternos, roubam tudo. Compulsivamente buscam roubar cada vez mais e com maior frequência. Fernando Henrique Cardoso deixa nítido todo esse processo que, no Brasil, transformou-se numa endemia. A honestidade, especialmente na política, está passando de qualidade a representar um demérito.
Enfim, Memória do Poder vai ser lançado pela Companhia das Letras, também sob o nome Diários da Presidência, e logo estará nas livrarias. Vamos lê-lo para sentir a intensidade dos relatos. Já que a intensidade dos fatos é de conhecimento geral. E quase total.
24 de outubro de 2015
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário