"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

KEYNES E PANCHO VILLA

Diz a lenda que o bandoleiro Pancho Villa, após a Revolução Mexicana, teria emitido papel-moeda com sua própria efígie e distribuído as notas a rodo numa das regiões pobres, então sob seu comando militar, do país, para tentar impulsionar a economia local. É uma fórmula — claro que não de maneira tão rústica — que muitos governos ainda tentam quando se veem envolvidos pela ameaça de recessão. 
John Maynard Keynes, inspirador de uma escola de pensamento econômico que continua a exercer forte influência no mundo acadêmico, discordava da teoria clássica pela qual a oferta de bens e serviços seria capaz de criar a própria demanda. Em síntese, para os períodos recessivos, ele defendia estímulos à demanda, inclusive por meio de déficits governamentais, invertendo a lógica anterior.

As economias se sofisticaram muito desde a época de Keynes (que morreu em 1946). Suas teorias são até hoje passíveis de diferentes interpretações. O livro que publicou em 1936, apontado como sua obra-prima, é tão hermético que os estudantes de economia geralmente só o conhecem por releituras de terceiros, e quase sempre sob olhares pouco isentos de paixões ideológicas. Keynes tinha aversão ao socialismo. 
Era um lorde inglês, bon vivant, que pessoalmente adorava especular nos mercados — é famosa a história que certa vez usou uma igreja para estocar mercadorias com meros fins especulativos. Curiosamente, por defender gastos públicos em momentos recessivos, acabou sendo uma espécie de patrono de economistas com pensamento mais à esquerda, em contraposição a ideias liberais.

Mas, na prática, nenhum governo segue um keynesianismo puro, nem um monetarismo puro. A miscelânea acaba empurrando as políticas econômicas para caminhos ilusoriamente salvadores do tipo atribuído a Pancho Villa. 
Foi, por exemplo, o que aconteceu nos dois últimos anos do primeiro governo Dilma, que vem obrigando o país a passar por essa necessidade enorme de ajuste.
Mas por que o antídoto preconizado por Keynes (aumento de gastos públicos) não funciona para tirar o Brasil da recessão? 
O diagnóstico de Keynes se aplicava a economias envolvidas com o fenômeno que ele denominou armadilha da liquidez. Na expectativa de que os preços viessem a cair mais, os agentes econômicos retardavam consumo e investimento, formando uma espiral negativa. 
No Brasil, temos a retração da economia associada a uma onda inflacionária. Déficits nas finanças públicas correspondem a pôr mais lenha na fogueira, o que é diferente do Japão, onde o baixo crescimento está associado à deflação.

Por aqui, o desequilíbrio financeiro nas contas governamentais provoca estragos terríveis. No Rio Grande do Sul, onde o estado está sem condições de manter em dia os salários públicos, o mercado travou. Consertar isso não é fácil.

POR ASFIXIA

Com todas as adversidades da economia brasileira, a empresa responsável pela importação dos legítimos charutos cubanos no Brasil (Emporium Cigars) espera aumentar as vendas em 20% este ano, totalizando 700 mil unidades. O ritmo de crescimento diminuiu nos últimos meses, porque os preços subiram 45%, por causa de uma variação de cerca de 55% no câmbio. 
A Emporium projetava alcançar um montante de vendas de 1 milhão de “habanos” no país, mas foi surpreendida pela decisão da Anvisa — a agência que cuida da vigilância sanitária — que elevou de uma tacada só, em 193%, a taxa incidente sobre as marcas. 
Cosméticos e charutos entraram no mesmo bolo do que é cobrado da poderosa indústria de cigarros. A cobrança passou a valer a partir de 9 de setembro, por medida provisória, e por isso há um esforço no Senado de empresas de pequeno e médio porte e também das que são mais parrudas. 
No caso da Emporium, o pagamento da taxa supera todo o lucro obtido pela companhia, o que simplesmente inviabiliza o negócio, que ainda tem que enfrentar a pirataria e a concorrência dos falsos “habanos”.

A Anvisa cobra agora uma taxa anual de aproximadamente R$ 300 mil por marca fiscalizada. Esse valor sofre um desconto, dependendo do porte da empresa, desde que o faturamento não ultrapasse R$ 20 milhões por ano.


12 de outubro de 2015
George Vidor

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