"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

O PARTIDO QUE QUEREMOS




Como se sabe, a obra de Marx gravita em torno de dois de seus trabalhos, o Manifesto Comunista e O Capital.

No Manifesto, Marx, então com apenas 30 anos, conferiu a cada palavra uma força própria e esse trabalho foi o ponto de convergência de 10 anos de estudos e críticas filosóficas, econômicas, sociais e políticas empreendidas pelo mestre desde a sua chegada à Universidade de Berlim, em 1836, até assumir a direção da Gazeta Renana, em 1842.

O Manifesto, considerado o programa de ação da Liga dos Comunistas, é um documento histórico. Deu início ao sonho de que um Estado onisciente e absoluto transformaria, antes de fenecer, a condição humana pela doutrinação das novas gerações dentro de um modelo de vida, tendo por trás o partido da classe operária.

Todavia, doutrinar pessoas não é fácil, como qualquer rabino poderá testemunhar, e as conseqüências sociais, políticas e econômicas da experimentação das teorias formuladas por Marx são hoje conhecidas.

A partir da exótica afirmação de Lênin de que “o comunismo é o poder soviético mais a eletrificação de todo o país”, esse conjunto de noções elaborado há 148 anos para um sistema que não cessa de transformar-se parece não ser apropriado pra fornecer uma análise correta para a realidade atual.

O instrumental continua a atrair os espíritos, mas, sejamos realistas, não em razão de seu valor científico, mas em virtude do poder de sugestão emocional que traz consigo, malgrado a partir da III Internacional o chamado socialismo real tenha se tornado a experiência-modelo de revolução e de construção socialista para a esquerda de todo o mundo. Países com diferentes estruturas de classes, matrizes históricas, sistemas de governo, tradições culturais e políticas, foram metidos no molde da Revolução Bolchevique: trabalhadores agrupados em sovietes, organizados por um partido de vanguarda, em direção ao assalto ao Palácio de Inverno.

O resultado foi desastroso, pois nenhum partido seguidor desse modelo jamais conseguiu fazer qualquer revolução. Os partidos comunistas que conseguiram algo nesse sentido, como na China e Vietnam, não tiveram o modelo de uma intensa luta de classes conduzida pelo proletariado e orientada pelo seu estado-maior, o partido da classe operária.

O pensamento denominado reformista – às vezes pejorativamente -, por seu turno, imaginou chegar ao socialismo pela via das transformações graduais do capitalismo, ainda dentro do Estado-burguês, até chegar à nova sociedade, socialista. Uma revolução processual, com a progressiva superação da ordem burguesa, através de um processo de acumulação de forças. Processo que não deixa de ser revolucionário, embora não comporte um salto de qualidade e a passagem do poder de uma a outra classe de modo brusco, com um golpe de força num momento dado, mas sim por sua superação. Mesmo porque, nas atuais sociedades, o poder não é um objeto que se tome, uma vez que ele está diluído nos aparelhos de hegemonia (Gramsci).

No fundo, os dois métodos são marxistas: o preconizado no Manifesto – gradual, intervencionista -, e aquele descrito 20 anos depois, em 1867, em O Capital, segundo o qual o capitalismo seria derrubado por um golpe de força no momento adequado.

A diferença entre esses dois esquemas sempre levou a expulsões e a cisões, como a que testemunhamos em janeiro de 1992, no Congresso do Partido, no teatro Záccaro, em São Paulo. Ambos, todavia, perseguem o mesmo objetivo: a superação do capitalismo.

A diferença está no como fazer. Essa é a grande diferença entre o nosso partido e os demais, que se dizem marxistas e comunistas, e é fundamental que o perfil do partido que queremos fique bem caracterizado nas Resoluções desse XI Congresso.

(Este artigo foi escrito quando o PPS discutia as Teses para o XI Congresso. Foi publicado na “Tribuna de Debates” do PPS de março de 1996 Eles, no final, acrescentaram à assinatura do Azambuja, a seguinte frase: “Militante do PPS no Rio de Janeiro”!). Recorde-se que no XI Congresso o PPS abandonou definitivamente o comunismo e optou pelo socialismo como meta a atingir!!!! 

OBSERVAÇÕES
                                                 
O artigo resultou de uma aposta feita com um membro do Comitê Central, meu amigo, quando lhe perguntei se o Caderno de Debates do partido publicaria um artigo do Azambuja. Rapidamente ele respondeu: “É claro que não, porra!”

Eu respondi: Vamos experimentar! E foi publicado no “Caderno de Debates” de março de 1996!  O cara quase desmaiou, mas depois de ler, disse: “Porra, parece que foi um de nós que escreveu isso. É isso que nós queremos nesse XI Congresso”.

Posteriormente, o Azambuja, já catalogado como “militante do PPS no Rio de Janeiro” voltou a escrever outro artigo. Agora para o XII Congresso. Foi publicado no Caderno de Debates de fevereiro de 1998. Título: “A Social-Democracia Após a Queda do Muro de Berlim”. Mas essa é  outra história...

03 de abril de 2015
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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