"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

ABORTO, A FALTA DE UMA VISÃO CRISTÃ DA POLÍTICA E PETISMO JUVENIL: NOTAS



]Identificar um idiota é muito fácil. E a situação ideal para isso são as discussões sobre temas políticos ou econômicos.

Acredito que o aborto seja um ato essencialmente covarde, não porque um inocente é morto, mas porque as pessoas não veem o resultado desse ato. É como se logo após apertarmos o gatilho, fechamos os olhos para não ver a bala atingir a vítima. O aborto é uma espécie de "homicídio envergonhado", no qual o ato é separado da visão, porque vê-lo mostraria que há nele algo de profundamente errado.
Se você é um abortista convicto, sugiro que seja coerente até o fim: todos sabem que a diferença entre um feto ou embrião e um bebê é apenas a localização, dentro ou fora do útero. Os "bons motivos" para o aborto são quase todos aplicáveis ao infanticídio. A grande diferença é que no último caso nós vemos a vítima sendo morta. Então, se você quiser ser coerente e minimamente corajoso, advogue também o infanticídio de bebês de até um ano de idade. Por que essa idade? Porque aproximadamente com um ano o bebê adquire consciência de si mesmo e, de certa forma, para a pertencer à espécie Homo Sapiens sapiens, ou seja, aquele que sabe que sabe.
Enquanto isso, pode ir pensando na melhor forma de matar bebês e quem teria esse direito. Para quem defende o aborto, deve ser um exercício e tanto de imaginação...
PS: Isso já foi defendido pelo filósofo australiano Peter Singer no livro Ética Prática. Aliás, já cunharam o termo "aborto pós-nascimento"; se tiver curiosidade, veja:http://m.jme.bmj.com/content/early/2012/03/01/medethics-2011-100411.full.

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Já encontrei inúmeros cristãos sérios no Brasil. Muitos deles têm firmes posições políticas e fazem questão de expressá-las, com bastante contundência até. Estranhamente, quase todos os cristãos têm um modo de entender e expressar a política idêntico ao dos ateus e agnósticos. Quando criticam ou apoiam o governo, quase sempre o fazem por meio de parâmetros comuns de moralidade e eficiência.
Tenho a impressão de que a maioria dos cristãos resumem a sua religião a frequência de igrejas, como se o cristianismo não fosse aplicável fora do "espaço sagrado". A mera frequência a cultos religiosos degrada a religião em um simples hábito, facilmente descartável. Acredito que a rigor o cristão é aquele que interpreta todos os fenômenos do mundo com base na vida e nos ensinamentos de Jesus.
Para essas pessoas, gostaria de fazer uma proposta: que tal começarmos a formar nossas opiniões políticas conscientemente a partir do cristianismo? Que tal iniciarmos uma "análise espiritual" da política, e, porque não, dos candidatos a cargos eletivos?
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Não é curioso que quase todos os petistas e comunistas tenham aderido a essas ideologias durante a adolescência ou juventude (aproximadamente dos 14 aos 24 anos)? Não me parece ser essa a idade mais madura do ser humano... Pelo contrário, nessa idade quase sempre a grande ambição é ser aceito em determinado grupo social. Na minha geração, quem se interessasse por política não tinha alternativa além de se ajuntar aos grupos de esquerda presentes nas escolas e universidades. Isso era "perfeito": com pouquíssimo ou nenhum estudo de caráter político, emocionalmente imaturos e dependentes, podíamos ter a satisfação de pertencer a um grupo e ao mesmo tempo dar vazão às nossas idealizações pueris.
Isso aconteceu comigo e com milhões de pessoas nas últimas décadas. Boa parte desse contingente reviu suas posições com o passar do tempo e foi, digamos, "virando à direita". Outros simplesmente se tornaram cínicos e procuraram meios de se dar bem nos governos petistas.
Há outros ainda que não se beneficiam do sistema, mas mantém as mesmas posições muitas vezes por orgulho. Não é nada fácil reconhecer que em determinado período da vida você foi um idiota. Porém, cá entre nós: você realmente acha que tinha de ser o cara mais esperto do mundo aos 18 anos?
PS 1: Quando alguém te disser que você não mudou nada nas últimas décadas, desconfie. A não ser que a pessoa se refira à sua aparência física, você está sendo xingado!
PS 2: É inevitável lembrar de Roberto Campos: "Quem não é comunista aos 20, não tem coração. Quem é comunista aos 30 não tem cérebro."
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Identificar um idiota é muito fácil. E a situação ideal para isso são as discussões sobre temas políticos ou econômicos. O idiota é aquele que depois de ter "estudado" um assunto por, digamos, um minuto, defende apaixonadamente uma posição pelo quíntuplo desse tempo. Durante essa "defesa", o idiota usa uma série de clichés que ele mesmo não entende e, ao final, ainda brada a plenos pulmões algo como: "eu obviamente estou certo".
Não, idiota, a realidade não é óbvia: se fosse, não haveriam divergências entre pessoas inteligentes. Pelo contrário, a realidade somente se dá a conhecer de forma parcial e bastante lenta. E o conhecimento que temos dela é proporcional ao esforço que fazemos nesse sentido. Enfim, a ansiedade em ter uma opinião apenas revela sua necessidade de ser aceito por aqueles que compartilham dessa opinião...
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Em geral, os brasileiros querem apenas uma vida segura e confortável, sem grandes sobressaltos. A famosa Parábola dos Talentos não passa de uma história bonitinha e inofensiva para a maioria das pessoas. Pouquíssimas pessoas estão interessadas em ser o "sal da terra". Fazer algo de extraordinário soa para quase todos como completamente sem sentido. Para essas pessoas, as qualificações de "fracassado" e "bem-sucedido" são absolutamente inaplicáveis: não há nenhum objetivo a ser alcançado ou não. Não há vitórias nem derrotas: apenas o invencível tédio de uma vida que escolheu não ser vivida.
02 de abril de 2015
Alexandre Magno Fernandes Moreira
 é advogado.

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