"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 20 de setembro de 2014

A HIPOCRISIA DE BUFFETT


 
“Há uma e apenas uma responsabilidade social das empresas – usar os recursos e se envolver em atividades destinadas a aumentar seus lucros, enquanto permanece dentro das regras do jogo, vale dizer, se engaja em competição aberta e livre, sem enganos ou fraude.” (Milton Friedman)
Nada como o tempo para trazer à tona a verdade e, com ela, expor a hipocrisia.  Como muitos podem não se lembrar, vamos rememorar alguns fatos:  há apenas três anos, na onda do movimento “Occupy Wall Street”, o multimilionário Warren Buffet ficou um pouco mais famoso ao publicar artigo, no jornalão esquerdista The New York Times, propondo que o governo dos Estados Unidos aumentasse vigorosamente os impostos sobre os ricaços.
Num tom para lá de oportunista e demagógico, Buffet defendeu a ideia nos seguintes termos: “Enquanto os pobres e a classe média lutam por nós no Afeganistão e enquanto a maioria dos americanos luta para fazer face às despesas, nós, mega-ricos, continuamos a receber benesses na hora de pagar nossos impostos.” Depois de esmiuçar uma série de dados e propor inúmeros aumentos de alíquotas, dependendo da faixa de rendimento, Buffett encerra seu libelo assim: “Eu e meus amigos já fomos mimados tempo suficiente por um Congresso amigável aos bilionários. É hora de nosso governo levar a sério o sacrifício compartilhado”.
Tal discurso mereceu efusivos aplausos da esquerda, inclusive do seu amigo Obama.  Raros conservadores e muitos liberais foram as únicas vozes dissonantes.  Entre essas vozes, muitos perguntavam por que Buffett estava esperando pelo governo, já que, de acordo com as normas do imposto de renda daquele país, qualquer cidadão pode doar ao governo a quantia que desejar, além do imposto devido.  O governador de Nova Jersey, Chris Christie, chegou a dizer, em tom irritado: “Ele deve dar um cheque e calar-se. Realmente. E só contribuir. Estou cansado de ouvir isso. Se ele quer dar ao governo mais dinheiro, ele tem a capacidade de fazer um cheque. Vá em frente e faça”.
A resposta padrão de Buffett para esse tipo de questionamento era de que uma só andorinha não faz verão.  O que pode ser até verdadeiro, mas não o exime de dar exemplo.  Falar é muito fácil, e os americanos têm uma expressão que demonstra bem a hipocrisia de pessoas como Buffet: “put your money where your mouth is”. Se ele voluntariamente pagasse mais impostos, suas palavras rapidamente deixariam de ser uma farsa aos olhos dos céticos para tornarem-se uma inspiração. Mostraria, no mínimo, liderança. Juntaria muita credibilidade ao seu discurso oco.  Mas ele não fez nada disso.  Permaneceu aguardando uma mudança na legislação que, como era previsível, nunca veio.
Pois bem, os jornais estão dando grande destaque à fusão entre as empresas Burger King (americana) e Tim Hortons (canadense), cuja sede, por conta de vantagens fiscais, será no Canadá.  Segundo o jornal O Globo, “O Burger King não é a primeira companhia americana a fugir da alta carga tributária dos EUA, que chega a 40%, contra a tributação de 26,5% cobrada no Canadá. Entre junho e julho, pelo menos cinco grandes empresas saíram do país.”
Abro aqui um parêntese necessário. Este é um caminho natural de toda e qualquer empresa com foco na lucratividade dos acionistas. O grande jurista americano, Learned Hand, expressou tal postura: “qualquer um pode organizar seus negócios para que os impostos sejam tão baixos quanto possível; Ninguém é obrigado a escolher o padrão de contribuição que melhor remunera o Tesouro. Não há sequer um dever patriótico para que alguém pague mais impostos.” Não por acaso, todas as grandes empresas mantêm departamentos jurídico-fiscais muito bem remunerados a fim de que a carga fiscal sobre elas seja sempre mínima, de acordo com o que permite a legislação, claro. 
Mas, voltemos à vaca fria.  Vejam que coisa interessante. Sabem os estimados leitores quem é um dos principais partícipes do famigerado negócio, junto com a trinca brasileira do Fundo 3G Capital?  Sim senhores, ninguém menos que o notório Warren Buffett.  Segundo consta, o milionário americano teria entrado com 3 bilhões de dólares na transação.  Pois é! Aquele mesmo Buffett que, há três anos, pregava uma maior contribuição dos ricos ao Tio Sam, hoje é parte importante de um negócio que, utilizando-se de práticas fiscais perfeitamente legais e legítimas, ajudará a baixar a arrecadação do Tesouro americano.  Por mais que negue tal fato, ninguém em sã consciência vai acreditar que um dos principais motivos da fusão e, consequentemente, da mudança da sede para o Canadá, não foi a engenharia tributária, que permitirá ao grupo economizar vários milhões em impostos.
Diante de tamanha hipocrisia, não me resta alternativa senão acreditar que o senhor Buffett é mais um daqueles casos exemplares da “esquerda caviar”, tão bem
e minuciosamente descritos por Rodrigo Constantino.
20 de setembro de 2014
João Luiz Mauad é Administrador de Empresas e Diretor do Instituto Liberal

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