"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O IMPONDERÁVEL É O VERDADEIRO DEUS DA HISTÓRIA


 Ou: Os “engenheiros de gente” erraram mais uma!



Estamos a menos de dois meses do primeiro turno da eleição presidencial, e tudo pode acontecer, inclusive nada de novo no que diz respeito ao prognóstico. Ainda que a petista Dilma Rousseff venha a vencer a eleição — segundo apontava o retrato momentâneo até ontem —, será com outra narrativa, que não havia sido imaginada por nenhum roteirista, por mais criativo que fosse.
 
Charge: Frank - A Notícia -(SC)
 
Autoritários de direita e de esquerda não conseguem conviver com o mais severo e perigoso de todos os deuses — o Imponderável. Se é fato, retomo expressão que empreguei ontem, que podemos cercar as margens de erro para obter os resultados ambicionados, não é menos verdade que mais movem a história as circunstâncias que não estão sob nosso controle do que aquelas que podemos escolher. Ainda que alguns sociopatas imaginem que podem determinar a forma do futuro, este se faz de um emaranhado de sistemas que nos escapam.

O avião em que viajavam Eduardo Campos e outras seis pessoas foi planejado para não cair. Simulam-se situações de risco às quais a aeronave pode resistir. Mas fatores os mais diversos — naturais e humanos — podem se combinar e pronto! Nada mais será como se apostava antes.

Estamos a menos de dois meses do primeiro turno da eleição presidencial, e tudo pode acontecer, inclusive nada de novo no que diz respeito ao prognóstico. Ainda que a petista Dilma Rousseff venha a vencer a eleição — segundo apontava o retrato momentâneo até ontem —, será com outra narrativa, que não havia sido imaginada por nenhum roteirista, por mais criativo que fosse.

Parece-me difícil, apesar dos fatores contrários, que não são poucos, que Marina Silva, da Rede, não venha a ocupar o lugar de Eduardo Campos na cabeça da chapa da coligação “Unidos para o Brasil”. Ainda que as divergências sejam imensas, não se desprezam, assim, com tanta ligeireza alguns milhões de votos — e ela os tem, isso é inegável.

Não que a presidente Dilma Rousseff, o PT e outros potentados não tenham se movido nos bastidores para tentar inviabilizar a sua candidatura e criar dificuldades para a criação da Rede. Essas mesmas forças se mexeram, note-se, para facilitar a formação de legendas que hoje servem à base aliada. Os leitores sabem o que penso sobre Marina Silva. Tenho horror a seu pensamento — ou seja como se chamem as coisas que ela diz. Mas as manobras de bastidores para barrar a sua postulação são bastante conhecidas e asquerosas.

Vale dizer: os que se querem donos da história e do futuro decidiram operar com determinação para eliminar os adversários — fez-se de tudo, não custa notar, para impedir a candidatura do próprio Eduardo Campos. Vejam que coisa: estivesse Marina com a sua “Rede”, teria um tempo ínfimo na televisão, e o PSB, a esta altura, ungiria um nome apenas para não ficar fora da disputa. Os feiticeiros devem olhar para a realidade agora cheios de perplexidade. É grande a chance de Marina ser candidata à Presidência com uma força que, sozinha, certamente não teria.

A ex-senadora, por sua vez, é sabido, é melhor de voto e de “mídia” do que de articulação política. Campos era o grande organizador do PSB e sua maior figura. De tal sorte seu comando era unipessoal que não deixa nem sequer um candidato a herdeiro. A aproximação de setores importantes do partido com a candidatura do tucano Aécio Neves é uma possibilidade mais do que evidente.

Os “engenheiros do futuro” do PT comemoravam as dificuldades eleitorais de Campos, que não eram pequenas, e contavam com o início do horário eleitoral gratuito para tentar liquidar a fatura ainda no primeiro turno. A possibilidade me parecia remota, mas os petistas estavam bastante confiantes.

Se Marina for mesmo a candidata do PSB, o PT precisa ser muito otimista para apostar nessa possibilidade. Mais: Marina atrai com mais facilidade votos que, no que concerne aos valores ao menos, estão à esquerda e não se sentiam identificados com Aécio e com Campos. Acabariam, por inércia, caindo no colo de Dilma; agora, surge uma alternativa.

Pode haver um estresse também nas hostes tucanas? É claro que sim. Só disputa o segundo turno quem passa pelo primeiro, e é evidente que se justifica certo temor no PSDB de que Marina fique com a segunda vaga — e, nessa perspectiva, seu adversário imediato é Aécio. Vamos ver.

Mas o destino também colhe Marina de calças curtas. Como candidata a vice e representante da Rede na aliança, ela podia forçar a mão em favor do seus pontos de vista, contrastando com o PSB, na certeza de que Campos arbitraria o jogo. Esse árbitro, agora, desapareceu. Se for a candidata, passa a falar em nome da coligação, muito especialmente do partido ao qual está formalmente filiada. Vai se adaptar à nova realidade ou será aquela Marina de 2010, que se sentia mera hospedeira do PV? Está tudo embaralhado. Os “engenheiros de gente” erraram mais uma.

14 de agosto de 2014
Reinaldo Azevedo
in toinho de passira

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