"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

LIVRAI-NOS DO MAL

O grau de civilização e democracia de um país também se mede por eleições polarizadas e acirradas, mas com campanhas propositivas

Uma das piores coisas que pode acontecer a um país é sair de uma eleição polarizada e movida a ódio e jogo sujo com um dos candidatos vencendo por diferença mínima — e os perdedores formando uma oposição vingativa, destrutiva e poderosa. O país trava, a democracia não avança e todos perdem. Todo mundo sabe disso, mas aqui eles só pensam naquilo, no poder, e nunca nas consequências do que fazem para conquistá-lo e mantê-lo.

Ó santa ingenuidade, alguém imagina que possa ser diferente ?

O grau de civilização e democracia de um país também se mede por eleições polarizadas e acirradas, mas com campanhas propositivas, que são decididas por poucos votos, mas resultam em avanço político e social, com a síntese de propostas do governo e da oposição. Não é utopia, é a realidade em vários países europeus, onde a vontade do eleitorado é respeitada e poucos votos a mais não dão mais direitos nem hegemonia a ninguém.

Quando eleições são decididas por diferença mínima, às vezes por golpes de sorte ou compra de votos, mais do que uma eventual vitória de um partido, isso significa que a sociedade está dividida e seus representantes eleitos terão o desafio de enfrentar os problemas do país dentro das regras democráticas.

Muito mais difícil se é um país com crescimento baixo e juros e inflação altos, e está em 79º lugar (ou 75%, segundo o governo, tanto faz) no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (baseado em renda, saúde e educação), que mede o que realmente interessa aos cidadãos na vida real. E pior, nos últimos cinco anos estamos avançando em ritmo cada vez mais lento em relação à média do mundo.

Fazer o quê? Imaginar um governo de coalizão no Brasil? Uma concertação à chilena? Um comportamento político civilizado? Um mínimo de racionalidade? São possibilidades risíveis no país primitivo do “nóis contra eles”. Platão já dizia que a desgraça de quem não gosta de politica é ser governado por quem gosta, mas certamente seu título eleitoral não era do Rio ou de São Paulo.

No Brasil atual, até jogar em casa e com torcida a favor virou desvantagem e justificativa para derrotas e vaias.

 
28 de julho de 2014
Nelson Motta, O Globo

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