"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

DILMA NA ESCOLA

Segundo a última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo, o cidadão brasileiro, incitado a avaliar o governo Dilma Rousseff, atribuiu uma nota média de um pouco mais de 5 à atual gestão. Com uma nota assim poderíamos dizer que, numa avaliação escolar, Dilma estaria acima da "média" na grande maioria das escolas brasileiras. Portanto, passaria de ano. Resta-nos saber se tal avaliação seguiu o "padrão" escola pública ou privada...

Avaliações como essa são muito relativas pelo grau de subjetividade que carregam. Confesso que tenho certo receio de utilizar algumas médias como parâmetro para a definição de uma realidade. Se o médico me diz que o meu pulmão está "cem por cento", mas meu coração está quase parando, poderia concluir que gozo de uma saúde até acima da média. Qualquer semelhança com distribuir Bolsa Família aos mais pobres e contribuir para o aumento da inflação não seria mera coincidência. Porém reconheço o valor que muitas "médias" representam.

A opinião pública geral, como bem nos mostraram os episódios recentes, é formada por fatores um tanto frágeis. Tomemos como exemplo o fato de que até alguns dias antes dos protestos de junho do ano passado 55% da população considerava o governo Dilma ótimo ou bom. Tal índice certamente lhe garantiria uma confortável reeleição. Logo em seguida aos protestos, esse mesmo índice caiu bruscamente para pouco mais de 30%. Ao que me recordo, nesse curto período de tempo nada de significativo ocorreu dentro do governo. Nossos hospitais e nossas escolas continuaram os mesmos, coerentes em sua baixa qualidade. O que houve foi uma grande mudança de foco. Os protestos de junho jogaram luz na obscuridade dos nossos serviços públicos.

A grande mudança que todos esperávamos que lhes sucedesse era a de opinião, mesmo que tenha atingido apenas parte da população. Ou vai me dizer que você realmente acreditou que os nossos políticos é que iriam mudar? Sabe de nada...

Até então, as boas lembranças do aumento do poder de compra familiar e dos índices de emprego ecoavam mais nos ouvidos da Nação. Isso fazia o governo petista ser considerado bom ou - pasmem! - ótimo pela grande maioria dos brasileiros. No entanto, nossos alunos continuavam, em boa parte, saindo das escolas "semialfabetizados" e nossos pacientes, "semicurados" dos hospitais - isso quando lhes era concedida a sorte de sair de lá.

Pois bem, como não fui entrevistado na última pesquisa, gostaria de declarar aqui a minha avaliação pessoal do governo Dilma. Não pretendo esgotar nem definir critérios para avaliação de um governo, muito menos criar uma metodologia precisa para isso. Estou aberto a críticas e acréscimos. Quero apenas compartilhar com todos, de forma um pouco mais objetiva, a minha própria subjetividade.

Para não complicar muito - ouvi dizer que nossa presidente não é muito dada a embromações - dividirei a minha avaliação em cinco matérias, áreas gerais em que o governo atua e são amplamente reconhecidas em nossa sociedade: economia, infraestrutura, integridade, saúde e educação. Nessa prova, cada uma delas valerá 2 pontos, que, somados, totalizarão os 10 pontos considerados na pesquisa para o governo em geral.

Em termos de economia, para evitar discussões de método não me aterei a questões ideológicas, vou direto aos resultados. O crescimento médio da economia nos anos Dilma, até o momento, foi de pouco mais de 2%. Isso a coloca entre os últimos presidentes que governaram este país, em desempenho econômico. Haja mediocridade! Projeções apontam um crescimento de menos de 1% para este ano. Concretizando tal índice, Dilma cairia ainda mais de posição, superando apenas seus coleguinhas que sofreram períodos de recessão. Um 0,2 ponto no máximo!

Quanto à infraestrutura, segundo a ONG Contas Abertas, apenas 12% das obras do PAC 2 - e esse filho realmente é dela - foram concluídas até o momento. Seguindo a proporção acima, não daria mais que 0,3 ponto nessa matéria.

Em relação à educação e à saúde, trata-se de políticas de longo prazo. Índices de mortalidade, doenças, tratamento, notas do Ideb, classificação no Pisa, taxas de evasão escolar, analfabetismo, etc., devem ser compartilhados com os seus antecessores, além dos Estados que compartilham a sua gestão. Houve pouquíssimas melhoras em alguns deles. Como ainda não tomei coragem para utilizar os hospitais públicos nem para matricular meus filhos em escolas públicas, vou pela "subjetividade" de quem os frequenta. Conforme a mesma pesquisa Ibope/Estado/TV Globo, apenas um em cada quatro brasileiros acredita que a educação tenha melhorado no governo Dilma, enquanto 16 em cada 100 pensam o mesmo no tocante à saúde. Respeitando as devidas proporções, ela obteria 0,5 ponto para a educação e por volta de 0,3 ponto para a saúde.

Já quanto à integridade do nosso governo... Enfim, inúmeros foram os escândalos envolvendo sua equipe. Começou com Palocci e passou pelos Ministérios dos Transportes, da Agricultura, do Esporte, do Trabalho, das Cidades, da Saúde... Salvem os nossos peixes! Fora isso, mostrou grande dificuldade em cálculo, confundindo soma com multiplicação na compra de uma refinaria em Pasadena para a Petrobrás. Aí fica difícil. Nota zero!

Somando todas as matérias, e considerando os respectivos arredondamentos, Dilma tirou 1,3!

Assim sendo, na centenária escola da República Federativa do Brasil, Dilma foi reprovada com o devido louvor. Além de não ter aprendido nada, tentou colaborar com o nosso "desaprendizado" alterando cálculos e dados com o fim de nos ludibriar a respeito do seu desempenho em muitas dessas matérias. A aluna Dilma terá, assim, de repetir o ano. Mas, pelo amor de todos nós, que o faça bem longe da nossa escola!

 
26 de julho de 2014
João Mellão Neto, O Estado de S.Paulo

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