"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 27 de julho de 2014

JUROS E PUXADA DO PIB

Na Coluna de domingo, foi dito que não tem cabimento defender redução dos juros básicos (Selic) só porque a atividade econômica está em forte retração. Quem tem essa postura está confundindo meta de inflação com meta de crescimento.

O assunto precisa de mais atenção porque ainda há por aí o entendimento de que o Banco Central (BC) tem de operar com duplo mandato. Ou seja, o instrumento dos juros (política monetária) não teria de ser manejado apenas para manter a inflação dentro da meta, mas também para garantir o crescimento econômico.

Esse ponto de vista já tem um equívoco. O duplo mandato, como existe nos Estados Unidos, não consiste em controlar tanto a inflação quanto trabalhar para o avanço do PIB, mas em manter tanto a inflação como o emprego em níveis satisfatórios. No Brasil, caso prevalecesse o duplo mandato, o BC não teria de garantir mais emprego, porque o nível atual é de pleno-emprego.

Já que o BC do Brasil é regido pelo regime de metas de inflação, não caberia derrubar os juros para ajudar a recuperar a atividade econômica. Só teria sentido fazer isso se a inflação já estivesse sendo conduzida para o centro da meta.

Mas há mais a considerar. Primeiro, a economia não está empacada porque os juros subiram demais, mas pelas opções equivocadas de política econômica feitas pelo governo. Não caberia compensar com derrubada dos juros o que está errado por causa de outros problemas.

Em segundo lugar, despejar moeda na economia (e, assim, reduzir os juros) para tentar recuperar a atividade econômica tenderia a provocar mais inflação do que a que já está a caminho. Está mais do que sabido que, apenas as correções inevitáveis dos preços administrados deverão puxar a inflação de 2015 para 7%. E, se o governo entender que é preciso desvalorizar o real (promover a alta do dólar), será inevitável, também, novo foco inflacionário promovido pela alta dos preços dos produtos importados.

Em terceiro lugar, uma reativação da demanda agora, por meio do afrouxamento monetário, impediria o ajuste que, mal ou bem, começa a ocorrer. Os últimos três anos e pico do governo Dilma mostraram que o problema não está na falta de demanda, mas na falta de oferta. É o investimento que precisa ser ativado, não o consumo. E o que está travando o investimento é um pouco de tudo: a paralisia do governo, a falta de regras nas concessões, o baixo nível de confiança (veja o Confira), a desarrumação da economia e tudo isso junto.

Em quarto lugar, dentro do marco regulatório do sistema de metas, o BC poderia, sim, determinar a imediata redução dos juros, não porque devesse puxar a atividade econômica, mas porque estivesse identificando uma trajetória firme de inserção da inflação na meta.

E, finalmente, se apesar de tudo o que ficou dito, a ideia fosse mesmo baixar os juros para melhorar a atividade econômica, nenhum resultado prático poderia ocorrer neste resto de ano, porque a política de juros leva de seis a nove meses para começar a produzir algum efeito.

 
26 de julho de 2014
Celso Ming, O Estado de S.Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário