"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

TABUS E OPORTUNISMO

BRASÍLIA - A manchete da Folha desta segunda (2), informando que seis em cada dez alunos da USP poderiam pagar mensalidade, é muito importante e duplamente oportuna.

Primeiro, por causa da crise da melhor universidade brasileira, que acaba de perder o primeiro lugar da América Latina para a PUC do Chile. Segundo, porque a campanha eleitoral já está escancarada.

Campanhas e eleições são para exposição e confronto de ideias, de forma que o eleitor possa optar pelos candidatos que melhor traduzam suas posições, suas aspirações, suas crenças. Mas não é isso que ocorre. Há uma pasteurização.

Petistas e tucanos correm atrás de Maluf e, como liberais e conservadores, gregos e troianos, viram papagaios repetindo o mesmo discurso sobre os temas mais polêmicos e que, portanto, deveriam justamente diferenciá-los diante da sociedade.

Quem não se lembra do contorcionismo de Dilma e de Serra ao falar sobre aborto em 2010? Eles diziam a mesma coisa --o oposto do que ambos acreditam. Em vez de expor corajosamente suas ideias ao escrutínio do eleitor, decoraram um discurso enviesado ditado pelos marqueteiros com base nas pesquisas e no oportunismo eleitoral.

Agora, em 2014, quem terá coragem de remar contra a corrente e falar o que pensa e o que planeja de fato? Dilma, Aécio, Eduardo Campos? Nenhum deles. Nem suas campanhas deixam nem eles mesmo se arriscariam. Seria "ingenuidade".

Em sendo assim, o país perderá uma grande chance (mais uma) de debater para valer: 1) sistema misto de bolsas e cobrança no ensino superior; 2) o direito ao aborto; 3) a descriminalização da maconha; 4) a redução da maioridade penal. Muito menos (5) como tratar as tarifas públicas para o bem de todos.

E é assim que o estudante pobre vai continuar pagando universidades privadas ruins e caras, enquanto o rico estuda nas públicas boas e gratuitas. Mas é proibido falar disso.
 
06 de junho de 2014
Eliane Cantanhede, Folha de SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário