"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 3 de junho de 2014

A GUERRA INTERMINÁVEL

 

Em 2013, conforme o Sistema de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, tivemos no Brasil 56.337 assassinatos, chegando à taxa de 29 mortos para cada 100 mil brasileiros. A Organização Mundial da Saúde considera aceitável no máximo 10 mortes a cada 100 mil habitantes. A França tem 1,1, Portugal tem 1,2, Estados Unidos tem 4,2 e a Noruega tem 0,6, só para efeito de comparação.

Nós temos 29. Nunca antes na história deste país.

E é necessário olhar nossos números com desconfiança, pois existem suspeitas de que estejam maquiados pelos governos estaduais de diversas formas. Eles podem ser consideravelmente maiores.

Conforme relatório da ONU, na América Latina e Caribe que têm população estimada em 600 milhões de pessoas, são assassinadas 100 mil pessoas por ano. O Brasil, com um terço dos 600 mil habitantes, responde por mais da metade dos assassinatos.

Observação óbvia, mas necessária: é assim que se mede a violência, mortes a cada 100 mil habitantes. Desse modo é possível comparar um estado com 30 milhões de habitantes com outro com 2 milhões. E os números estão aí: enquanto Santa Catarina tem 12,8 mortos por 100 mil, São Paulo tem 15,1, Rio de Janeiro tem 28,3, Bahia tem 41,9, Pará tem 41,7, Ceará tem 44,6 e Alagoas, o campeão, tem 63,3!

E esse aumento se dá num cenário em que, ao menos em teoria, milhões saíram da pobreza para aquela "classe média" que o governo criou. E quando se faz uma comparação da violência por estados, ela explode no nordeste, região do Brasil que mais evoluiu em termos econômicos.

Cai a pobreza e a violência sobe. E agora?

Bem, agora vou mexer num vespeiro. Os dois estados brasileiros com índices mais baixos são Santa Catarina com 12,8 e São Paulo com 15,1. O que acontece nesses estados que não acontece nos outros? Qualquer explicação rápida e óbvia, como melhoria dos índices econômicos ou campanhas de desarmamento não serve, pois isso aconteceu em todo o país.

Será porque São Paulo é o estado que mais prende? Segundo o Anuário de Segurança Pública, São Paulo tem 633,1 presos por 100 mil habitantes com mais de 18 anos. No Rio, com quase duas vezes mais mortos por 100 mil que São Paulo, a taxa é de 281,5 presos. A Bahia, que tem três vezes mais mortos por 100 mil que São Paulo, prende 134,6.

Essa discussão dá pano pra manga.

Em 1980 a taxa era de 11,7 para cada 100 mil. O Governo de Fernando Henrique entregou em 2002 o índice de 28,5; o governo do PT começou com 28,9 em 2003 e bateu o recorde com 29 em 2013. O descontrole da violência é obra de todos os governos brasileiros desde a redemocratização, nenhum, repito, nenhum governo, seja do PMDB, PRN, PSDB ou PT, seja de esquerda ou “neoliberal”, seja progressista ou conservador, seja de "direita" ou de esquerda conseguiu ganhar essa guerra interminável.

E se esse assunto não é prioritário, não sei o que pode ser.

Boa Copa.

03 de junho de 2014
Luciano Pires é Escritor. Autor do livro “Brasileiros Pocotó”. Originalmente publicado no site Café Brasil, em 30 de maio de 2014. 

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