"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 15 de abril de 2014

ELEITO PARA PERDER

A eleição presidencial de 2014 é boa de perder. Nada indica que o eleito este ano terá quatro anos fáceis pela frente. Muito ao contrário. A crise de energia ainda não chegou ao auge. Tampouco a crise de abastecimento de água. E há um El Niño nascendo no Oceano Pacífico, pronto para alterar o regime de chuvas no Brasil, com secas no Norte e Nordeste e mais calor no Sudeste.

Somem-se todos os desarranjos da economia: inflação mal resolvida, juros em alta, capital especulativo entrando e saindo de uma hora para outra, gastos públicos, mas investimento em baixa. A lista é grande, e sugere a necessidade de um freio de arrumação. Se a freada vier em 2015, quanto tempo será preciso para reacelerar?

Fernando Henrique Cardoso ganhou uma eleição assim em 1998. A freada, na forma de desvalorização do real, veio logo no começo do segundo mandato. Quatro anos não foram suficientes para a economia engatar nem uma terceira marcha, quanto mais deslanchar. O resultado foi 12 anos de governos do PT - alimentados pelo contraste econômico entre os últimos quatro anos de governo tucano com os primeiros oito do governo petista.

Essa mágica está perdendo a graça, porém. A comparação que o eleitor faz hoje é do PT com o PT, de Dilma Rousseff com Luiz Inácio Lula da Silva. Do presente com o passado imediato, não com o remoto. Lula é e continuará sendo a grande assombração da campanha pela reeleição da presidente. Cada aparição, cada entrevista do padrinho reforçará no eleitor dúvidas sobre a afilhada.

O "volta, Lula" prevalecerá, então? Não, se os instintos de sobrevivência política do ex-presidente estiverem intactos. O roque de Dilma por Lula implica admitir o fracasso de ambos - dela como gestora, dele como responsável por sua eleição. Mesmo que venha embrulhado em alguma razão de saúde, o risco de parecer uma manobra aos eleitores não é nada desprezível.

Mais arriscado ainda é se a chicana der certo. Lula estaria disposto a sacrificar o começo de um eventual novo governo com medidas impopulares na esperança de recobrar o crescimento econômico em tempo de buscar o quinto mandato seguido do PT? Arriscaria o status de mito político por quatro anos no poder sob condições bem menos favoráveis do que as que teve?

Uma aventura assim só se encara se a alternativa for pior. Será o caso? Todos os sinais detectáveis nas pesquisas indicam que 2014 é uma eleição mudancista em todos os níveis de governo. Dois em cada três eleitores querem mudanças profundas. Dilma lidera a corrida presidencial porque de 25% a 30% dos que querem mudança ainda acreditam que ela é a mais apta a fazê-las.

Essas estatísticas enchem a oposição de esperança, mas, ao mesmo tempo, mantêm Dilma como favorita. Se a presidente conseguir convencer os mudancistas simpáticos a ela de que pretende mudar, terá boas chances de se reeleger. Seria o quarto mandato seguido do PT - feito inédito no Brasil. Nada mal.

A outra opção é a oposição ganhar a eleição e herdar a crise energética, o desarranjo econômico e a necessidade de ser impopular - pelo menos no começo do mandato. O PT pularia para a oposição e faria tudo o que acusa os opositores de fazerem hoje - mas, provavelmente, com mais competência. Numa campanha em 2018 Lula teria 72 anos. FHC tinha 71 ao lhe passar o poder.

O mesmo vale para Eduardo Campos (PSB). Se perder e sobreviver ao relento político, o pernambucano poderá voltar em 2018 como alternativa ao dualismo PT-PSDB. Com a diferença de que terá só 53 anos.

Essas divagações vão além dos quatro anos, que é o horizonte da maioria dos cálculos políticos e eleitorais no Brasil. São, portanto, para o padrão nacional, de longo prazo. E, como disse John Maynard Keynes, no longo prazo estaremos todos mortos.

15 de abril de 2014
José Roberto de Toledo, O Estado de S.Paulo

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