"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 30 de março de 2014

SINUCA DE BICO


 
Depois de idas e vindas, e algumas repercussões mais do que negativas, eis que o ex-presidente FHC, carinhosamente chamado “Boca de Tuba”, decidiu apoiar a CPI da Petrobras, tentando inflar a candidatura de seu correligionário, Aécio Neves (PSDB-MG). O escândalo que ora se encontra estacionado na estatal do petróleo deixa à mostra a modalidade de ladroeira praticada no Brasil, envolvendo as principais figuras do governo e da oposição. O país se encontra inteiramente dominado por bandidos.

A Petrobras é a galinha dos ovos de ouro e vem deixando muita gente confortável na vida: governantes que se locupletam nos cargos públicos e roem tudo como se cupins de aço fossem, perpetuando a miséria da população. Ao povo brasileiro, só resta pagar a conta e manter silêncio. O desmonte que acontece na Petrobras (agora na era petista), já teria sido motivo de providências imediatas, não fosse o Brasil um país de faz-de-conta.

Quando era diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (1999), o então genro de FHC, David Zylbersztajn, defendeu a privatização da Petrobras bem como a venda de refinarias daquela empresa. Não fez tal declaração, certamente, sem o conhecimento de FHC, pois se não houvesse concordância seria afastado imediatamente de suas funções. No Brasil, as coisas são sempre assim: os bandidos da oposição denunciam os que estão no poder apenas para lhes substituir e adotar o mesmo procedimento.

Na presidência da Petrobras, o banqueiro Henri Philippe Reichstul tentou até mesmo mudar o nome da empresa (para Petrobrax), ainda na gestão FHC (1995-2003). O presidente da estatal posou ao lado do novo logotipo da empresa, mas a grita foi tão grande que todos terminaram por recolher o trem de pouso e alçar novos voos em busca de outras privatarias. O PT, no governo, não vendeu a Petrobras: destruiu-a nas ações de rapinagem e completa desordem.

Vamos ver se agora é possível tomar novo rumo, quando se fala na possibilidade de CPI para apurar o mar de irregularidades existentes. Mas é difícil instalar a CPI da Petrobras, quando são tantos os envolvidos em falcatruas capazes de derrubar a República, pela exposição de graúdos larápios à frente das decisões. O ex-governador de São Paulo José Serra, cujo governo é acusado de receber propina no escândalo do metrô paulista, já se declarou visceralmente contra a instalação de CPI.

A prisão recente de Paulo Roberto Costa pela Polícia Federal, em operação que apura lavagem de dinheiro, traz outro enorme complicador para a instalação da CPI. Costa, funcionário de carreira da Petrobras, foi diretor de refino e abastecimento e passou por vários governos da República ao longo de 35 anos na companhia. Sabe de tudo e mais alguma coisa. Se abrisse o bico, não restaria pedra sobre pedra. Mas abrir o bico mesmo para quê?

Não se vê nenhum bandido entregando nada, delatando, dizendo o que sabe, porque a rede é bem articulada e envolve pessoas qualificadas em todos os ramos e poderes. Além do mais, as leis são lenientes. Culpa-se o Judiciário, mas quem faz as leis é o Congresso Nacional, que procura aliviar a barra dos envolvidos. Ir para a prisão no Brasil somente depois de milhões de recursos, apelos, marchas e contramarchas.

É melhor ficar calado e gozar benefícios do que se arriscar à toa e colocar a vida em risco. Quem quiser exemplo mais recente que observe a situação do “empresário” Marcos Valério, no caso do mensalão. Único condenado a penas de prisão de fato duras, depois de cansativo processo, calou-se. Ele revelou ter sido agredido e advertido na primeira vez em que esteve preso e a lição lhe foi proveitosa. Em tempos não tão antigos, iríamos para uma revolução. Para quê? Hoje, parece que só teremos desordem.

30 de março de 2014
Márcio Accioly é Jornalista.

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