"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 21 de março de 2014

O VERDADEIRO MENSALÃO

Não é de hoje que usam a compra da refinaria nos EUA como exemplo de desmandos do PT

Para você ver como tudo é re­lativo. Espie só como até o prêmio Nobel não serve de parâmetro para porcaria nenhu­ma. Faça um teste. Dirija-se a um incauto qualquer e conte a ele que o homem que negocia a morte via controle remoto, sim, ele mesmo, Barack Obama, já ganhou o Nobel da Paz. Depois mencione que o subversivo Yasser Arafat também ganhou. Está vendo? Desmoraliza­mos o prêmio em dois palitos.

Por outro lado, se você quiser usar o Nobel para valorizar sua argu­mentação, basta reverter o discur­so. Tome uma unanimidade como o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e diga que ele está equivocado quando prega que o go­verno erra na condução da econo­mia. Mas diga com convicção que Armínio delira ao chamar de "cri­me econômico e ambiental" o con­trole de preços de combustíveis e tarifas de energia praticados por Dilma. Seja firme. Declare que esse pessimismo deveria ser tratado na base de remédios de tarja preta.

Em seguida, arremate com a frase de efeito: "Ué? O prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, que cos­tuma acertar nas previsões que faz, não acredita que as preocupações com o Brasil sejam justificadas. Diz ele que nosso país saiu-se muito bem na crise". Game over.

Só há um probleminha. Esse arse­nal que estou lhe fornecendo pelo módico preço pago para ler este diário de cabo a rabo não tem mais serventia nenhuma no que diz res­peito à segunda parte, aquela que fala sobre ser firme na hora de de­fender qualquer ação praticada pe­la presidência da República.

Deu chabu. Num estalar de dedos, a atividade de defender as posições de dona madama presidenta foi pro beleléu, danou-se, entubou-se e, inclusive, "mórreu", como diria Nerso da Capitinga.

Ao que parece, nem mesmo Dilma Rousseff defende mais Dilma Rousseff. Nesta semana, a presi­dente tomou a iniciativa de dar um tiro no dedão ao admitir ter assina­do um contrato "técnica e juridica­mente falho" pela compra de uma refinaria que valia dois tostões e pe­la qual o PT, no fim das contas, terá pago muito caro. Isto sendo que Dilma estava respaldada "técnica e juridicamente" por assento no conselho da Petrobras e por pastas na Casa Civil e Minas e Energia --as minas e a energia, melhor deixar claro, nada têm a ver com malhação de loiras e/ou dieta de ingestão de shakes de proteínas.

Só depois de consumada a transa­ção da refinaria de Pasadena, que ora vem à tona com tudo, foi que a turma se deu conta de que faltavam regras vitais na papelada.

Ora, alguém que lê pela metade um contrato de compra de uma re­finaria de petróleo, na condição de chefe de conselho e ex-ministra disto e daquilo só pode ser um arre­medo de Zé Genoino, confere?

E a admissão de farsa é tão fla­grante, inclusive pela facilidade com que se deu, que deixa transpa­recer, quiçá, o intuito de causar um tsunami que leve consigo todos os frutos do mar e terra encontrados pela frente. Nada como um agua­ceiro para extinguir fogo amigo.

Não é de hoje que a tal compra da refinaria de Pasadena surge na bo­ca de empresários como sendo em­blemática dos desmandos do PT. Ela é o verdadeiro mensalão. Ali é que eles veem a amostra de des­montagem de quadros técnicos e cargos de carreira para o aparelha­mento de que tanto falam. Estão ali as grandes somas, sem aliados para repartir. Um contrato fajuto, um ativo multiplicado 100 vezes... E tu­do isso tendo à disposição o maior financiador do país e uma das maiores empresas do mundo, que tinha recém descoberto a maior ba­cia de petróleo... Faz-me rir, men­salão, troco de pinga!


21 de março de 2014
Barbara Gancia, Folha de SP

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