"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O BUNKER DE LOS CANALLAS

  


- Na velha Lapa do Rio, o poeta Manuel Bandeira só via o beco :
- “O que eu vejo é o beco”.

Em Santiago, no Chile, há um beco histórico, de nome estranho :
- “El Rincon de los Canallas”.

Numa rua pobre, ao lado do palácio La Moneda, em um beco meio escuro, embaixo de um velho edifício enegrecido, coberto de grafites pelas paredes, há uma escondida campainha ao lado de uma porta suja.
Para entrar, você tinha que tocar a campainha e saber a senha.
Lá de dentro perguntavam:

- “Quien vive, canalla”?
- “Chile libre, canalla!”.

 RESISTÊNCIA
 
Foi um bunker de resistência à ditadura. O toque de recolher não deixava ninguém na rua, à noite. O boêmio Victor Painemal pôs ali, no começo, uma mesa e sete cadeiras. E ia recebendo os amigos para beber, comer e falar mal dos militares.
Um dia, a policia chegou e levou todo mundo.

Eram sobretudo jornalistas. Eles insistiam. A policia voltava e 68 vezes prendeu “canallas”. À medida que a ditadura se enfraquecia, os “canallas” se multiplicavam.
E iam dando aos pratos nomes políticos :
– “Vietnamita” (pernil em homenagem a uma bomba jogada contra um tanque militar), “Atentado” (para o frustrado atentado ao general Pinochet), “Punta Peuco” (uma prisão), “Vitalício” (quando Pinochet se tornou senador vitalício).

Ainda lá estão fotos de desaparecidos, poemas, canções e manifestos e muitas frases nas paredes, dentro e fora:

-”É perigoso saber, irmão”.
– “O que você disse ontem continue dizendo amanhã”.
– “Amanhã é tarde demais”
– “Agora, ninguém é culpado”.
– “A verdade tem sua hora”.
– “Só tenha medo de não avançar”.
– “O amanhã será dos livres. Ninguém será esquecido”.

PINOCHET

Em novembro de 2005, voltei lá para as eleições presidenciais que elegeram a socialista Michele Bachelet. Por mais que o pais fizesse força para enterrar o passado, esquecer, a historia é implacável. A toda hora ela se levanta e grita. A cada noite chegavam velhas e novas historias no “Canallas”.

1 – Em 1991, o bispo Sergio Valech, “El Vicário de la Solidariedad”, descobriu e denunciou 108 túmulos, com 126 desaparecidos, no Cemitério Geral de Santiago. A então ministra da Justiça, Soledad Alvear, mandou o Instituto Medico Legal identificar os corpos para enterrarem. Os exames de DNA descobriram que estava tudo errado. O IML “misturou” tudo e as famílias enterraram os mortos dos outros pensando que eram os seus.

2. – Em 7 de setembro de 1986, houve um atentado contra o ditador Pinochet. Ele se livrou, mas morreram cinco oficiais de sua guarda pessoal. O chefe do batalhão, coronel Juan Mac Lean Vergara, ficou ferido.

3. – O Senado dos Estados Unidos divulgou a lista de oito militares chilenos, da confiança e guarda pessoal do general Pinochet, cujas contas nos Estados Unidos Pinochet e a mulher usaram para transferir milhões roubados do Chile. E o principal era exatamente o coronel-chefe Juan Mc Lean Vergara.

4. – Em longa entrevista aos jornais, o coronel Vergara disse que o dinheiro não era dele, que nunca falsificou a assinatura da mulher de Pinochet e que o general usou indevidamente sua conta para mandar dinheiro para fora, inclusive um cheque falsificado de US$87 mil, que não foi por ele assinado.
Façamos justiça aos generais-presidentes brasileiros. Nenhum foi assim.

BACHELET
 
Domingo passado, novas eleições presidenciais e parlamentares no Chile. “O Globo” fraudou asquerosamente a publicação dos resultados :

- “Bancada no Congresso é Obstáculo Para Bachelet – Favorita no 2º turno no Chile, esquerdista não garantiu maioria para, se eleita, reformar Constituição – Sem Maioria, Bachelet Já Busca Alianças no Congresso do Chile – Esquerdista precisará de independentes para reformar Constituição”.
Para “O Globo”, Bachelet perdeu as eleições. A “Folha” desmentiu:

1- “Centro-Esquerda Amplia Maioria na Câmara e no Senado Chilenos -
Os socialistas são os grandes vencedores nas eleições legislativas do Chile. – A coalizão da ex-presidente e candidata Michelle Bachelet ganhou 11 cadeiras na Câmara e uma no Senado, passando de 20 para 21 senadores”.

2. – “Na próxima legislatura, os socialistas terão na Câmara 68 deputados, contra 48 da aliança do presidente Sebastián Pinera, que perdeu 7 assentos na Câmara e manteve seus 16 senadores”.

3. – “Direita Sofre Derrota nas Eleições do Chile – Bloco de centro -esquerda de Bachelet amplia maioria na Câmara e no Senado no pleito de domingo – Políticos direitistas não souberam lidar com o tema da desigualdade social, muito explorado na campanha opositora”.
Há o bom “Rincon de los Canallas” e a má Imprensa “de los canallas”.

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