Seguramente, este é um trabalho muito bem elaborado tecnicamente, abordando o cenário sobre a inflação e os juros. Nele, a autoridade monetária analisa os riscos apresentados na variação de preços para cima ou para baixo, quando estes saem dos parâmetros estabelecidos nas metas de inflação.
Inclusive, monitora as expectativas inflacionárias, mostrando atualizações de previsões mais amplas e estudos sobre a economia do País.
O último relatório que foi divulgado na semana passada sinaliza uma preocupação muito grande com dois fatores impactantes nos índices, que relacionam a crise hídrica com a elevação dos preços da energia e dos alimentos. Ele comenta também que a elevada inflação ao consumidor permanece insistente e sempre surpreendendo.
Para se ter uma noção, a inflação acumulada em doze meses está muito próxima ao patamar de dois dígitos, saindo de 8,06% em maio para 9,68% em agosto, ultrapassando com desenvoltura a meta de inflação fixada para este ano em 3,75%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais (5,25%) e para menos (2,25%).
Existem duas justificativas sobre essa questão: os preços dos alimentos e dos bens industriais.
No decorrer do trimestre, os alimentos aumentaram 2,76%, tendo como protagonistas os preços da carne, das aves, do leite e dos ovos, em virtude dos elevados custos da ração animal e, principalmente, da escassez de pastagens com essa terrível estiagem que estamos atravessando há algum tempo.
Quanto aos bens industriais, eles subiram pelo quinto trimestre consecutivo num patamar superior a 1,50%, somente neste último período trimestral.
Isso se deve a uma alteração na formação dos gastos da família, a dificuldades apresentadas pelo lado da oferta, à transferência de custos dentre os quais, o de commodities, à alta do dólar e das tarifas de energia.
Segundo o BC, com esse cenário, existem três iminentes riscos: a piora da crise hídrica com a possibilidade de um racionamento de energia; o fortalecimento da pandemia e ações que venham a agravar as expectativas quanto à trajetória fiscal do Brasil.
Esses elementos, certamente, pressionarão os prêmios de risco, levando uma acentuada insegurança aos agentes econômicos, com efeitos extremamente negativos, provavelmente defasados sobre a atividade econômica e, sobretudo, os investimentos, desestimulando pessoas e empresas a investirem.
Embora o BC tenha admitido um insignificante crescimento no PIB (Produto Interno Bruto) de 4,6% para 4,7%, ele procurou ser cauteloso, independente da avaliação mais agregada do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do BC, considerado uma "prévia" informal do PIB), com dados muitos semelhantes aos divulgados em agosto, cujas variações não demonstram uma direção unânime e não sugerem expansão generalizada. Até então, o horizonte que se descortina para o próximo ano não é dos mais tranquilos para nossa economia.
De acordo com o BC, no decorrer de 2022, é provável que o ritmo de crescimento seja inferior ao segundo semestre desse ano, resultando num crescimento anual de aproximadamente 2,10%.
Também destaca que há menos espaço para uma recuperação cíclica em função da redução do “hiato do produto” (indicador que mensura as oscilações cíclicas da economia). Aliás, a consequência prevista na incidência da alta dos juros sobre a atividade econômica, não se dará jamais no curto prazo e, certamente, acontecerá num prazo mais longo.
Entretanto, não podemos contar com este cenário como garantido. Acontece que ele apresenta um elevado grau de incerteza, pois se encontra apoiado nas seguintes premissas: continuidade no enfraquecimento da crise sanitária; redução progressiva dos níveis de incerteza na economia; manutenção do regime fiscal e ausência de restrições diretas ao consumo de eletricidade.
Com isso, o BC demonstra nas entrelinhas do relatório não estar contando muito com o racionamento de energia que, na realidade, não pode ser totalmente desprezado.
Em suma, o RTI aponta um cenário mais adverso para inflação à frente e, diante disso, os empresários e investidores procuram refazer seu planejamento para 2022.
Só nos falta mais um trimestre para encerrarmos este exercício e o cenário de 2021 está praticamente cristalizado, a não ser que apareça uma grande surpresa.
Portanto, é sensato refazer as contas e se organizar para enfrentar o próximo ano que transparece ser de grandes desafios para a economia brasileira.
04 de outubro de 2021
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
04 de outubro de 2021
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
Nenhum comentário:
Postar um comentário