"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

RESSURREIÇÃO DO PIB

A economia brasileira iniciou este ano surpreendendo, exibindo um crescimento robusto e sinalizando uma expectativa favorável para todo o exercício, inclusive com amplas possibilidades de resgatar as perdas geradas pela Covid, até o final do ano. 
O PIB (Produto Interno Bruto), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apresentou um crescimento de 1,2% no primeiro trimestre de 2021, ante os últimos três meses de 2020, 0,5% acima do esperado pelos analistas do mercado.

Sem dúvida isso representa uma forte recuperação da nossa economia, mesmo com o recrudescimento da pandemia, passando a ser o terceiro resultado positivo após a acentuada queda verificada no segundo trimestre do ano passado (-9,2%). 
Dessa forma, voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019, no período pré-Covid. Apesar da melhora, o PIB ainda se situa 3,1% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do País, registrado no primeiro trimestre de 2014. 
Este crescimento deve-se à agropecuária em 5,7%, o segmento menos afetado na pandemia, que parece desconhecer a palavra “crise”; os investimentos em 4,6%, pela ótica da demanda; em menor medida, a indústria em 0,7% e os serviços em 0,4%.

Na contramão, verificou-se a queda de 0,1% no consumo das famílias sobre o quarto trimestre de 2020, o qual, apesar de ser considerado praticamente estável por alguns analistas, representa o primeiro desempenho negativo após duas altas. 
As exportações cresceram 3,7%, devido ao câmbio mais desvalorizado, motivando a substituição de importações e promovendo as exportações de manufaturados.

O “boom” de preços das commodities, segundo algumas projeções, deve levar nossa balança comercial a um superávit superior a U$70 bilhões. Os salários reais caíram, na medida em que suas altas nominais não acompanham a inflação. 
O gasto do governo segue aparentemente contraído. Os juros reais negativos dos últimos 12 meses estão aquecendo o setor imobiliário e, consequentemente, beneficiando a construção civil no país.

Na verdade, no início da pandemia, as restrições ao contato levaram a uma paralisação inédita da produção, das vendas e dos serviços, derrubando a atividade econômica. 
Com o passar dos meses, o efeito da menor mobilidade sobre os indicadores econômicos declinou, sugerindo a “hipótese” de que com o passar do tempo, as economias se adaptaram à pandemia, através do uso intensivo de tecnologia, dos sistemas híbridos de trabalho (presencial e virtual) e da ampliação do comércio eletrônico.

O Brasil também foi beneficiado pelo ritmo de crescimento das duas maiores economias do planeta - os Estados Unidos e a China. 
Há um cenário externo que conta ainda com valorização de moedas emergentes e alta no preço de commodities agrícolas e minerais, o que também se refletiu no desempenho de outras economias de mesma dimensão. 
Não obstante, mesmo diante da confusa política sanitária do governo, o Ministro da Economia está começando a acertar nas suas previsões de que a economia brasileira provavelmente teria um crescimento em V.

Entretanto, independentemente disso, não se pode deixar de avaliar alguns elementos que vêm proporcionando a nossa recuperação e os possíveis riscos espalhados ao longo do caminho, como uma nova onda de Covid, o aumento da resistência à aprovação das reformas e de uma deterioração da situação política. 
Sempre achei uma tarefa difícil, na economia brasileira, construir uma conexão entre os números da atividade econômica com a vida real, apesar de que não sejam coisas incompatíveis.

O Brasil, por exemplo, neste exato momento bate recordes de desemprego (14,8 milhões), um limitador da demanda e da produção e, ao mesmo tempo, das exportações. 
Muita gente ainda depende do auxílio emergencial do governo, neste ano muito menor que o do ano passado, para sobreviver. A inflação pode provocar algum reboliço também por conta dos preços de insumos no mundo.

Alguns analistas já vêm ela chegando a quase 8% neste meio de ano no acumulado em 12 meses. O IGPM (Índice Geral de Preços) anual está próximo de 40%, puxado justamente pela disparada das commodities. Com isso, a Selic (taxa básica da economia) já está subindo, e as previsões para o ano já chegam a 6,5%. 
Infelizmente, não temos mais o juro de 2% praticado no início desse exercício. A percepção por enquanto é, realmente, de que a economia está se recuperando, mostrando uma resiliência maior do que o imaginado.

O conjunto de dados divulgados atualmente aponta para um crescimento do PIB brasileiro em aproximadamente 5% para este ano. O cenário para bolsas de valores aqui e no exterior apresenta-se bem positivo. 
Mesmo com o risco de uma terceira onda de Covid e a perspectiva de vacinação lenta, os mercados de ativos se mostram otimistas. O cenário geral de redução de risco para nós e no mundo coloca pressão de apreciação na moeda brasileira. Juros longos também têm reagido em queda.

A recuperação econômica deverá trazer mais arrecadação ao governo, colocando a situação fiscal em melhor perspectiva. 
O cenário ficou bastante benigno para os próximos meses e, vamos, que vamos ..!!!!!

10 de junho de 2021
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)

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