"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

A EDUCAÇÃO ONLINE NÃO LEVA A PORVIR VERDADEIRO ALGUM


No culturalmente riquíssimo Museu del Prado,
turma se desinteressa da arte para consultar o celular




Luis Dufaur

Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de
diversos blogs



Os períodos de crise, como a da pandemia, são propícios para os augures e profetas do mundo que virá depois, escreveu Charlotte Fillol, especialista em educação e administradora do prestigioso Instituto Sapiens de Paris, nas páginas do “Le Figaro”.

Nada será como antes, fala o torvelinho adivinhatório, nem mesmo a educação.

A educação online seria imparável. O fechamento geral das escolas levou muitos jovens a procurar dados na Internet. Mas parece muito prematuro achar que esse fenômeno esporádico tenha chegado para ficar.

Numerosos pacientes acharam que este ou aquele remédio era eficaz contra o novo vírus, mas não se segue de ali que se tenha mostrado infalível.

O mero fato da crise do coronavírus ter constrangido mestres e alunos a procurar auxílios em linha não quer dizer que foi achada a fórmula do futuro para a educação, como por um golpe mágica.

De fato, a educação online continua sendo mais um problema do que uma solução, piorada pelo fato do modelo escolhido não ter sido o bom.

Em todos os campos da experiência humana onde irrompeu o digital parecia ter surgido uma solução tecnológica que facilitaria a atividade, sobre tudo industrial, maquinal ou burocrática.



Médicos da Coreia do Sul registraram surto de 'demência digital'
entre estudante sobreexpostos a equipamentos eletrônicos
Mas no caso da educação, o digital se revelou profundamente inadaptado.

Porque a educação não é um mecanismo ou uma organização burocrática, onde um movimento simples digitaliza a matéria e desencadeia uma reação maquinal imediata solucionadora no educando.

A educação não é o produto de um troca tecnológica, um dispositivo circunscrito e racionalizado, multiplicável igualmente para todos ao infinito.

Ela é um processo que vai articulado mecanismos psicológicos sempre complexos, mutáveis e desiguais desde o momento em que a criança é admitida na escola até o jovem se diplomar, determinado pela imprevisível relação aluno-professor.

Brevemente, o processo educativo supera a produção material tecnológica sob todos os pontos de vista.

Todas as empresas de tecnologia que acreditaram ter encontrado uma resposta a este desafio, não atingiram o objetivo.



Tente se fazer entender por um respondedor automático de alguma empresa. Esse respondedor ou equivalente, educa?

Uma segunda diferencia fundamental com as aplicações numéricas, é que essas funcionam como um mecanismo inflexível dependente de uma corrente que não admite circunstâncias originais, só há o impulso dado pelo computador central.

Mas isso não pode existir na transmissão do saber, porque há um jogo sempre mutante de modos de ser, temperamentos, qualidades, competências, propensões, humores, etc. por sua vez dependentes de um mediador: o mestre.

Aprender é antes de tudo um ato social resultante de constantes trocas de posições e influências mutuas.

Pelo fato da pandemia cresceu o uso de úteis digitais mas esses não se revelaram mais eficazes do que antes da crise e em matéria de educação não existem elixires, varetas mágicas ou fórmulas milagrosas. Sobretudo digitais.



Acompanhamento pessoal do professor é decisivo.
O que é necessário é ir para longe dos modelos ‘disruptivos’ mecanizados ou digitalizados e repor no centro aquilo que nunca escola alguma conseguiu mudar, pelo menos dos tempos de Platão há quase 2.500 anos.

A educação é uma experiência social, um diálogo prolongado e múltiplo.

Numa palavra: uma conversa. A pandemia nos oferece uma ocasião única de pôr de lado as tentativas de criar um mecanismo como uma fábrica acionada desde gigantescos Ministérios e pirâmides de normas burocráticas e de técnicos programadores.

Começar com uma educação verdadeira, raciocinada e eficaz sem dúvida.

Não um maquinismo digital que não passará de um falso remédio para enganar pacientes necessitados de algo melhor.

17 de agosto de 2020
in flagelo russo

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