"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

ALGUNS INDÍCIOS FAVORECEM A RETOMADA

Os últimos indicadores econômicos divulgados sobre nossa atividade econômica, após acentuadas quedas verificadas nos meses de março e abril, surpreendem diante das projeções feitas pelos analistas econômicos. 
No relatório recente apresentado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), o setor industrial cresceu 11,4%; as horas trabalhadas cresceram 6,6% e o emprego permaneceu praticamente estável, apresentando uma queda de menos 0,8% somente em maio. 
Paralelamente, a massa salarial caiu 8,5% e o rendimento real foi negativo, alcançando 6,5% devido à redução da jornada de trabalho e salários e ao elevado nível de desemprego.

Outro ponto interessante é a produção de veículos que cresceu 129,8%, após uma queda superior a 90% em abril, sendo que suas vendas elevaram-se em 113,6%. As vendas do varejo, dentro do conceito limitado, aumentaram 13,9% e no ampliado (materiais de construção, veículos, etc) 19,6 % em maio. 
Outra questão importante é quanto aos pedidos de auxílio-desemprego que declinaram 32% no mês de junho. Os resultados negativos ficaram com o enfraquecimento de aproximadamente 1% no faturamento do setor de serviços e com o IBC-Br, que é a prévia do PIB (Produto Interno Bruto), estimado pelo BC (Banco Central), o qual veio realmente abaixo das expectativas, crescendo 1,31% em maio.

Com isso, alguns economistas passaram a admitir que o fundo do poço pode ter sido alcançado em abril e que a economia brasileira já está tomando fôlego para iniciar a recuperação. 
A grande dúvida agora passa a ser se ela seguirá em frente ou se isso foi apenas um ligeiro “suspiro” diante das expressivas quedas conhecidas em março e abril e, sobretudo, quais serão as chances da retomada se manter nos próximos meses.

A meu ver, isso passa essencialmente pela evolução da pandemia. A retomada da atividade está ligada em grande parte ao relaxamento das medidas de isolamento social; portanto, uma nova onda de contaminação inevitavelmente levará os Estados a assumirem novas restrições, revertendo integralmente essa aparente recuperação e, provavelmente, deixando-nos em um patamar bastante inferior ao que estivemos.

Acho um pouco difícil se fazer uma avaliação sobre a possibilidade de acontecer uma segunda onda mais agressiva e abrangente, em função do pouco conhecimento que temos sobre crises epidêmicas. 
De alguma forma, a pandemia apresenta um comportamento - existem regiões que logo na primeira onda foram mais castigadas e já começaram a demonstrar uma diminuição do número de casos e mortes; em outras, onde ela iniciou bem mais fraca, pelo contrário, não regrediram facilmente como inicialmente se pressentia e esses mesmos pontos passaram a ser crescentes. 
Isso pode até estar relacionado a uma das características do próprio vírus ou, até mesmo, a uma flexibilização realizada inadequadamente. Só o tempo, certamente nos dirá!

A política monetária é importantíssima no processo da retomada da atividade econômica, através de medidas indispensáveis, sendo que algumas delas já foram implementadas, aumentando a liquidez e, também, por meio de política fiscal através do BC e do governo. 
O repasse de R$ 600,00 (seiscentos reais) por indivíduo, como Auxílio Emergencial por um determinado período, aos trabalhadores informais e por conta própria, objetivaram manter o nível de consumo deste grupo da população.

As providências adotadas com a redução de salários pelo visto foram

acertadas, visando a assegurar ao menos 10 milhões de postos de trabalho, uma excelente iniciativa de apoio à retomada. Os programas de crédito destinados às micro e pequenas empresas, embora sem os bancos oficiais atenderem inúmeras solicitações encaminhadas, são de importância vital nos próximos meses para impulsionar a atividade econômica.

No final das contas, a pergunta que não quer, e não deve calar: como vai se comportar a economia quando esses programas de estímulos forem interrompidos? Será que teremos ou não um prolongamento do Auxílio Emergencial? É interessante se ter uma posição concreta sobre essa questão, pois ele é um dos aspectos importantes da sustentabilidade econômica. 
Por outro lado, do ponto vista fiscal, infelizmente, é indefensável. Caso venha a ter continuidade, será muito difícil cumprir a evolução do gasto público no próximo ano e se ocorrer, neste exercício, a elevação das taxas de juros da dívida pública.

Um dos grandes desafios da política econômica para o governo é simplificar os programas ligados à transferência de renda, substituindo-os por um outro que consiga efetivamente reduzir a pobreza; reinserir no mercado os trabalhadores informais e por conta própria que foram alijados devido ao isolamento social, porém respeitando integralmente o teto do gasto.

Observo em nossa frente um longo caminho a percorrer; somos resilientes e a nossa economia está sendo muito bem conduzida. 
Os problemas existem e não são poucos, todavia, sempre os tivemos, pois nasceram e cresceram juntos com o Brasil. Espero que venhamos a sair mais fortes desse pandemônio e que o “novo normal” seja bem melhor do que estamos imaginando.

22 de julho de 2020
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador). 

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