"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 3 de julho de 2018

OS EQUÍVOCOS DE UM CANDIDATO POPULISTA

Circula nas redes sociais mais um vídeo do candidato à presidência Ciro Gomes intitulado - “A farra do dólar”. 
Seu comentário foi feito num filme de curtíssima duração (45 segundos) onde ele, outra vez, joga a culpa no Banco Central (BC), que atualmente vem realizando operações de swap (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro sem entrega da moeda), igualmente praticadas em 2016. 
Acusou que na época foram utilizados recursos do povo e que isso teria trazido um prejuízo à Nação de R$ 112 bilhões. No vídeo, segundo ele, esta é a causa da falta generalizada de dinheiro.

Na gravação existem equívocos que comprometem a veracidade das informações. Inicialmente, sua abordagem diz respeito ao ano de 2015, em que a taxa de câmbio, no início daquele ano, estava por volta de R$ 2,60, chegando a alcançar R$ 4,19 em setembro do mesmo exercício. Realmente, naquele momento, o BC precisava fazer as operações de swap cambial para conter a turbulência na taxa de câmbio.

Alguns fatos interessantes ocorreram dos quais o candidato jamais poderia se esquecer e que motivaram, naquele período, instabilidade no mercado cambial. Tudo começa em 2014, no início do segundo mandato da “iluminada” Dilma, quando ela tentou, sem êxito, fazer um ajuste fiscal, contrariando totalmente seu discurso na campanha para a sua reeleição. Naquele instante, o cenário econômico já demonstrava incerteza, com tendência de queda no PIB (Produto Interno Bruto) e agravamento da situação em 2015, com a chegada da recessão.

Ainda no decorrer de 2015, sucessivos pedidos de impeachment da “iluminada” presidente por crime de responsabilidade foram protocolados na Câmara, levando a ampliar o nosso desequilíbrio econômico e a fortalecer consideravelmente a crise política, até hoje, incontrolável. No meio desse turbilhão de acontecimentos, não podemos deixar de mencionar a tragédia da Petrobras, nossa maior estatal brasileira, que chegou a ser a sexta petrolífera do mundo e sofreu inúmeras perdas quando na época foi descoberto que ela fora saqueada, tendo sido alvo de um dos maiores esquemas de corrupção já vistos no mundo contemporâneo.

Tudo isso estava aliado a um cenário externo adverso ao Brasil que acabou culminando com a alta da moeda americana, que superava R$ 3,20 ao final do primeiro trimestre de 2015. Diante das circunstâncias, o BC começou a intervir diariamente no câmbio, embora com todo o esforço feito não tenha conseguido acalmar o dólar que chegaria em setembro ao seu pico próximo a R$ 4,20, sendo que retornou a esse patamar só no início de 2016.

O candidato precisa entender que quando o BC realiza operações de swap não é porque quer satisfazer um ou outro agente econômico. Seu objetivo é estratégico, buscando diminuir a volatilidade em todos segmentos que dependem de exportações e importações e, acabam de alguma forma, direta ou indiretamente, alcançando todos nós.

Obviamente não se pode esconder que os swaps em 2015 deram um rombo ao Brasil em torno de R$ 90 bilhões e não de R$ 112 bilhões como o presidenciável se referiu no vídeo. Outra grande balela é quando se refere ao prejuízo causado com o “dinheiro de vocês, meu, nosso, que tá faltando para tudo”.

Analisando melhor, para insuflar a sociedade, ele destilou seu veneno populista, dando a entender que esse prejuízo é de inteira responsabilidade do BC. A verdade é que, no agregado, a autoridade monetária obteve resultado positivo, em função da valorização das reservas, assim como aconteceu com as operações em moeda local, segundo ficou comprovado no seu balanço divulgado.

Relembramos ao candidato, que já foi até Ministro da Fazenda, em 1994, no governo de Itamar Franco, que esse prejuízo não é pago com recursos destinados às despesas correntes com saúde, educação, segurança, etc. como ele insinuou, querendo dar outro sentido, ou melhor, querendo comprovar a razão do porque “está faltando dinheiro para tudo” no País.

Lamentavelmente, ele carece em saber que isso é uma despesa de capital que, no máximo, vai aumentar a nossa dívida pública. Entretanto, de acordo com um levantamento realizado, o custo com swaps cambiais nos últimos 10 anos foi de aproximadamente R$ 25 bilhões, muito menor do que pagamos de juros em igual período.

Impressionante é que um ex-ministro da área econômica desconheça o impacto provocado por uma desvalorização cambial na inflação e a volatilidade da taxa de câmbio que envolve todos os agentes econômicos não só direta como também indiretamente.

Esse vídeo é uma ótima oportunidade para os brasileiros refletirem sobre mais uma falácia do candidato, que adultera dados com o intuito de causar ainda mais indignação no eleitor brasileiro, sem que este saiba a plena verdade.

O populismo, para mim, é a arte de manipular a massa desamparada da população com baixo nível de educação que não consegue se organizar por si própria e, o grande significado da prática populista está apenas em mobilizar inescrupulosamente os domínios submissos da sociedade.

Finalmente, eu gostaria de perguntar ao presidenciável Ciro Gomes: qual seria a sua sugestão para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio?


VÍDEO: https://twitter.com/cirogomes/status/1008123019204661248

03 de julho de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).

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