"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

EX-ASSESSOR DA PRESIDÊNCIA, JOSÉ YUNES RELATA À PF "APENAS UM NEGÓCIO" COM TEMER



Yunes omitiu vários negócios que fez com Temer
O advogado e ex-assessor da Presidência da República José Yunes, investigado por suspeita de corrupção na Lava Jato, relatou em depoimento à Polícia Federal, no dia 30 de novembro, que realizou apenas uma operação de venda de imóvel para o presidente Michel Temer.  No inquérito que investiga suposta propina a Temer no Porto de Santos, ele respondeu a 30 questões sobre sua relação com presidente, de quem é amigo há 50 anos e de quem foi assessor no Palácio do Planalto. Yunes pediu demissão do cargo em dezembro de 2016, após ser delatado pela Odebrecht.
NEGOU TUDO – Na pergunta de número 24, Yunes é questionado pelo delegado Ricardo Ishida sobre quais negócios realizou com Temer e se já havia vendido algum imóvel ou repassado algum valor ao presidente. Yunes respondeu “que nunca vendeu nenhum imóvel para ele como pessoa física; que há cerca de vinte anos, quando o declarante tinha uma incorporadora, Michel Temer comprou um andar em um prédio comercial da incorporadora do declarante à época; que o andar adquirido é o da Rua Pedroso Alvarenga, 900, 10º andar, sendo tudo contabilizado e informado nas declarações de imposto de renda do declarante e de Michel Temer; que não se recorda de nenhum outro negócio envolvendo o Presidente Temer; que nunca fez repasses de valores para Presidente Temer ou para qualquer emissário dele ou do partido PMDB”.
Yunes é apontado pelo operador financeiro Lúcio Funaro, que fez uma delação premiada, como um dos responsáveis por administrar as propinas supostamente pagas ao presidente e por fazer o “branqueamento” dos valores. De acordo com Funaro, para lavar o dinheiro e disfarçar a origem, Yunes investia os valores ilícitos em sua incorporadora imobiliária. Em julho passado, a revista “Veja” revelou que a família de Temer comprou do advogado dois escritórios, uma casa e o andar de um prédio em áreas nobres de São Paulo que valeriam atualmente, segundo a reportagem, R$ 18,4 milhões, e foram adquiridos entre os anos 2000 e 2010, quando Temer era deputado federal.
“SEM PERGUNTAS” – Indagado sobre o fato de não terem sido citados outros imóveis que foram negociados entre as famílias Yunes e Temer, o advogado de Yunes, José Luís Oliveira Lima,afirmou que não houve perguntas a respeito. Um desses imóveis é um andar do edifício Spazio Faria Lima, no Itaim Bibi. Em relação a ele, Oliveira Lima disse que o imóvel foi “vendido pela empresa YUNY, a qual José Yunes não tem nenhuma relação societária”. A empresa YUNY foi fundada por Yunes, mas hoje pertence aos filhos dele. O imóvel foi comprado por Temer três anos antes do seu lançamento, em 2003.
Em junho de 2010, Yunes comprou uma casa no bairro Alto de Pinheiros, zona também nobre de São Paulo, por R$ 750 mil. Um mês depois, o imóvel foi vendido à atual primeira-dama Marcela Temer por R$ 830 mil, quantia doada a ela pelo marido antes da compra, segundo informou a assessoria do Planalto. Sobre a casa de Marcela Temer, primeira-dama, o advogado afirmou que “em momento algum José Yunes foi indagado pela autoridade policial sobre qualquer operação comercial efetuada com a Sra. Marcela Temer, se tivesse sido perguntado teria esclarecido pois a mesma foi absolutamente regular e inserida no IR”.
Yunes e Temer são amigos há 50 anos. Costumam se encontrar quando o presidente viaja a São Paulo, nos finais de semana.
LONGA AMIZADE – Sobre o encontro de Yunes com Temer quatro dias antes do depoimento, o advogado José Luís Oliveira Lima disse que “José Yunes e o presidente, como é sabido, são amigos há 50 anos e a visita ao hospital Sírio Libanês foi fruto dessa amizade”. Entre as perguntas feitas a Yunes, a Polícia Federal também quis saber de Yunes se Michel Temer, os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral), Eliseu Padilha (Casa Civil) ou o ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures pediram a ele que recebesse algum valor, servido de “mula”.
“Que o declarante recorda-se de uma única ocasião, já relatada à Procuradoria-Geral da República, em que recebeu um pacote a pedido de Eliseu Padilha, que em nenhum momento soube que havia dinheiro no interior do envelope/pacote, mas que todos os detalhes em relação a isso já foram fornecidos à PGR, que recorda-se que, depois de uns 40 minutos após ter recebido o pacote/envelope, uma terceira pessoa retirou o envelope, que quem entregou o envelope foi Lucio Funaro, mas não sabe dizer quem retirou o pacote/envelope. Que à época da entrega desse pacote/envelope o declarante não conhecia Lucio Funaro”.
Yunes também foi questionado sobre se tinha conhecimento da relação de Temer com com a Rodrimar e com o setor portuário. O ex-assessor afirmou desconhecer informações sobre isso.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG  – Advogado experiente, Yunes sabe depor sem se incriminar, embora já esteja autoincriminado, desde que afirmou ter sido “mula involuntário” para receber propina destinada a Eliseu Padilha. Yunes não tem motivos para dormir tranquilo, é o mínimo que se pode dizer. (C.N.)

10 de janeiro de 2018
Andréia Sadi
Deu no G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário