"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

INFLAÇÃO E JUROS PODEM REASCENDER

Estamos a um ano do término do governo Temer. Provavelmente haverá grandes dificuldades para a aprovação de novas medidas que venham a beneficiar nossa economia, algo que poderá abalar a confiança dos agentes econômicos e neutralizar conquistas importantes adquiridas durante o seu breve mandato; o controle da alta dos preços e a flexibilização monetária foram, até o momento, duas marcas relevantes da sua gestão.

Em maio de 2016, quando o peemedebista assumiu os destinos da Nação após o impedimento de Dilma, a taxa básica de juros (Selic) do país estava em 10,25 % e a inflação rondava 10 % no acumulado em 12 meses. Hoje, a Selic está em 7,00 %, no seu menor patamar desde o início da série histórica do Banco Central, em 1986, ou seja, em mais de 30 anos e com boas expectativas de que possa atingir 6,5 % no início de 2018. Isso tudo porque o IPCA acumula alta de 2,70 %, bem abaixo da meta oficial prevista de 4,50 %.

A questão fiscal, entretanto, é, sem dúvida, o maior “gargalo” econômico do atual governo, já que as contas públicas continuam a se deteriorar, numa demonstração da imensa dificuldade em conseguir reverter esta trágica condição. A grande preocupação é que sem as sólidas mudanças exigidas na área fiscal, a inflação poderá retornar com a apreciação do dólar e a desconfiança dos agentes econômicos que, certamente, será crescente.

A queda da inflação teve como consequência a forte recessão que enfrentamos entre 2014 e 2016, uma vez que houve um aumento considerável do desemprego, o que prejudicou literalmente a renda da população, mas, em compensação, a esperança predominou durante os primeiros meses da atual administração no setor produtivo e no mercado financeiro.

No seu discurso de posse, Temer prometeu aos brasileiros que faria uma gestão eminentemente reformista, o que agradou bastante os mercados e, de fato, ele conseguiu obter vitórias no Congresso. Aprovou o teto de gastos públicos e a reforma trabalhista, mas, atualmente, vem enfrentando muitas dificuldades para tirar do papel a reforma da Previdência, iniciativa indispensável a fim de colocar as finanças públicas dentro do desejável equilíbrio.

Os abalos políticos e a trajetória irresponsável dos gastos públicos vêm aumentando consideravelmente, enquanto as dúvidas crescem no mercado financeiro sobre a capacidade do governo Temer e seus aliados aprovarem no Congresso outras medidas para compensar a aparente rejeição dos parlamentares à reforma da Previdência a qual, até então, não possui o apoio suficiente para ser colocada em votação na Câmara dos Deputados e, tampouco aprová-la ainda neste ano. Inclusive, por haver, neste momento, número inferior aos 308 votos necessários para a sua aprovação, mesmo com uma proposta bem mais enxuta do que a original, o que favorece um cenário extremamente nebuloso para 2018.

Dessa forma, o teto dos gastos públicos ficará totalmente comprometido e, consequentemente, haverá a necessidade de corte em mais despesas discricionárias, o que pode emperrar o funcionamento da máquina pública. Alguns analistas econômicos afirmam que “a economia não está acostumada a suportar muito desaforo” e todo esse equilíbrio do sistema de metas de inflação, na realidade, se baseia no pilar que é o equilíbrio fiscal.

O País vem convivendo com déficits primários desde 2014, quando o setor público consolidado, que abrange o governo central, estados, municípios e estatais entrou no “vermelho” em R$ 32,5 bilhões. É bem possível que só venha a retornar ao “azul” em 2021, após alcançar um déficit de R$ 163 bilhões neste exercício, de acordo com estimativas da equipe econômica.

A partir do momento em que a meta fiscal não é cumprida, isso implicará imediatamente no rebaixamento da nota de crédito do país pelas principais agências de classificação de risco, o que impacta seriamente a capacidade de financiar empresas e famílias; abala de imediato o consumo e investimento e inicia as consequências decorrentes de um custo mais caro. A atividade econômica entra em queda, o câmbio pressionado alimenta a inflação e o último movimento, com certeza, será do Banco Central reascendendo os juros básicos da economia.

Diante do atual quadro político tudo isso fica bem mais sensível, uma vez que Temer tornou-se completamente refém do corporativismo dos seus “supostos” aliados após terem conseguido barrar no Congresso duas pesadas denúncias contra ele.

Como consequência dessa conjuntura amplamente adversa, o país deverá enfrentar sérias turbulências e as incertezas que serão ampliadas durante a corrida eleitoral do próximo ano, num cenário ainda em fase de articulações e especulações sobre quais serão os verdadeiros candidatos e suas respectivas propostas direcionadas à economia brasileira.

O próximo governo terá que dar continuidade ao ajuste fiscal, um tema fundamental para que as condições econômicas atualmente favoráveis sigam uma tendência positiva por um período mais longo. É inevitável obter do presidente eleito sua total cumplicidade com relação a medidas que venham a reduzir significativamente os gastos públicos, fortalecendo sobremodo a confiança dos agentes econômicos e, especialmente, trazendo uma real tranquilidade aos brasileiros.


08 de dezembro de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)

Nenhum comentário:

Postar um comentário