"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

PROFESSOR SE TORNOU ESPÉCIE EM EXTINÇÃO, NUM AMBIENTE MUITO HOSTIL



Vagas de pedagogia, magistério e congêneres se oferecem em muitas esquinas, longínquas cidades, remotas faculdades. Se preenchidas, se esvaem nos anos de graduação, e alguns gatos pingados (ou professores sagrados) mandam o convite de formatura, como se fosse foto de uma grande família.

Apanhar, ser agredido verbalmente, a absoluta falta de respeito, tudo isso é um espinho que fere a dignidade dos mestres. Assim como o desinteresse galopante dos alunos (e dos pais, muitas vezes).

TERRENO BALDIO – A escola é, hoje, um terreno baldio. A sociedade joga ali o lixo de sua desumanidade, desigualdade e indiferença. Se, antes, a escola pública era exemplo e as privadas eram complementares, hoje a pirâmide se inverteu. Sim, aqui e ali, oásis de excelência se destacam no deserto.

Redundante falar que a educação é a base do sucesso de países que até quatro ou cinco décadas atrás estavam no quarto mundo, como Coreia, Singapura e outros tigres asiáticos, em especial a China.

Somos o somatório de nossos erros e acertos. O mundo é de quem o merece. Se os políticos e os que optaram por carreiras públicas só aprenderam a subtrair e dividir, o resultado só pode ser negativo. Conseguimos piorar a cada ano em todos os índices mundiais de avaliação de qualidade de ensino. Somos lanterninhas da competência.

MUITOS PROBLEMAS – Péssimas faculdades? Salários indignos? Famílias disfuncionais e desestruturadas? O vício desgraçadamente silencioso, espantosamente perigoso da tecnologia? A falência irreversível do medieval modelo, quadro-negro, giz, carteiras e, quando muito, um computador pré-histórico? Porções generosas de tudo isso e diversos outros temperos que se misturam e fermentam num caótico cenário de fim dos tempos, do salve-se quem puder, apague a luz o último a sair.

Tal qual a peste negra na Idade Média, os professores e os funcionários das escolas públicas vão caindo enfermos, inválidos, mortalmente atingidos por estresse, depressão, síndrome de Bournout (esgotamento aversivo, embotamento e robotização funcional).

Sobram discursos, guerras ideológicas esquizofrênicas entre facções entrincheiradas em modelos teóricos catedráticos, enquanto o mamute lento e preguiçoso das políticas públicas é tomado pela infecção sistêmica da corrupção, da burocracia e da falta de mérito.

NA VIDA REAL – Enquanto isso, na vida real, balas perdidas, greves, falta de professores ambientes físicos fantasmagóricos aparecem nas páginas policiais. E alunos terminam o ensino médio sem conseguir formular duas frases simples, analfabetos funcionais e apanhando de tabuadas básicas. E dá-lhe nudes, sexies, redes sociais. O smartphone alienante e emburrecedor, quando mal usado, o que é regra, e não exceção.

Se sou pessimista? Não, de jeito nenhum. Torço para que estrutura viciada e inviável caia de vez. Sonho com uma escola sem muros ou paredes, inventiva, estimulante, absolutamente nova e renovável a cada dia. Onde o prazer de frequentá-la traga satisfação e sensação de recompensa para alunos, professores, pais e funcionários. Um espaço multiuso que atraia a comunidade em seu entorno. Que se filosofe, desperte o desejo pelo conhecimento, amplie o horizonte existencial de todos nós. Que crie, invente, descubra soluções e caminhos para uma humanidade tão perdida. Será que é do interesse político e público? Ou a ignorância e a alienação são essenciais para manter o compadrio, a corrupção, o voto de cabresto e o coronelismo que campeiam neste grande e complacente “país do futuro”?


13 de novembro de 2017
Eduardo Aquino
O Tempo (Charge do Latuff, Brasil 247)

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